por Lilian Matsuura
Se você não pode derrotar seu inimigo, junte-se a ele. Não se trata propriamente de inimigos, mas os grandes escritórios de advocacia estão levando em conta o ditado para enfrentar os pequenos escritórios especializados e seus próprios gargalos de demanda. Em vez de começar do zero para atender a demanda de clientes em áreas que ainda não atuam ou que não têm especialistas, eles escolhem pequenos escritórios com grande expertise e propõem a fusão. O resultado da soma de unidades costuma ser uma multiplicação no desempenho.
A hora certa para se pensar em uma fusão? “Quando você passa dias acordado durante a madrugada, descendo a biblioteca abaixo, para dar conta de toda a demanda que assumiu”, explicou com humor o advogado Thomaz Felsberg, sócio do Felsberg, Pedretti, Manrrich e Aidar Advogados.
Ao longo de seus 38 anos, o Felsberg fez três fusões. A última foi em abril, com o escritório Moraes Bueno de Aguiar Advogados Associados. O Felsberg uniu o útil ao agradável. Precisava de especialistas na área trabalhista. Encontrou o novo sócio Fábio Aguiar, que trouxe consigo todo o seu conhecimento, a carteira de clientes, sete profissionais e quatro estagiários. Além disso, o Moraes Bueno de Aguiar fica em Campinas, região próspera quando se pensa em negócios. O crescimento virá para os dois lados.
“Aprendemos que só conseguimos atuar bem em uma área que não conhecemos, se tivermos um expoente do segmento trabalhando conosco”, contou Thomaz Felsberg. Mas ele observa que a maior parte do crescimento do escritório foi orgânico.
Em 2001, houve a primeira incorporação do Felsberg, que hoje tem filiais em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e agora em Campinas. A equipe de Carlos Miguel Aidar foi a escolhida e aceitou o convite. No ano passado, toda a expertise em Propriedade Intelectual e Tecnologia da Informação do escritório de Ernani Guimarães passou a compor a banca. Por último, a área de fusões e de atendimento corporativo ganhou reforço com a equipe de Paulo Bekin. Todos os três se tornaram sócios do escritório.
No geral, o crescimento dos escritórios no país começou com a abertura da economia e das privatizações, na década de 90. Novas especialidades e aumento da demanda em qualquer área marcaram esse período no Brasil.
Thomaz Felsberg diz que o escritório demorou um pouco para entrar nessa onda de desenvolvimento, mas que depois conseguiu acompanhar o movimento e fazer grandes operações, como a de privatização do Banespa, que demorou dois anos e meio e envolveu 25 advogados.
Passo à frente
O Siqueira Castro Advogados começou cedo. Nos seus 60 anos de advocacia cresceu com sete operações de fusão, atua em mais de 15 estados do país, além dos escritórios em Lisboa e Luanda. Carlos Fernando Siqueira Castro, sócio da banca, conta que as fusões têm o objetivo de atender clientes grandes, como bancos, que respondem processos em todo o país e precisam de uma boa estrutura para isso.
No entanto, ele diz que levar uma parte da sua equipe até as regiões que não atende não é a melhor opção. Contar com parceiros que já conhecem o Judiciário local e os costumes é um passo à frente. Segundo Siqueira Castro, antes de fechar as fusões, o escritório já tinha testado e aprovado a qualidade do serviço. Hoje, são mais de 350 advogados e 1.100 funcionários.
“No Ceará, começamos a atender com correspondentes. Em um dado momento começamos a perceber que o volume de trabalho era tão grande, que não seria responsável não estar presente naquela região”, disse. Foi em 2001 a fusão com o escritório do professor Valmir Pontes Filho.
Para preservar a regionalidade do escritório incorporado, o advogado explica que a filial no Espírito Santo só tem advogados capixabas. No Rio de Janeiro, cariocas. E assim por diante. Para Siqueira Castro, essa é uma característica que faz com que a banca seja respeitada nas regiões em que chega. “Assim, o cliente não vai achar que é um estranho que está chegando”, explica.
Apesar dessa peculiaridade em cada uma das unidades do escritório no país, o advogado conta que todas elas seguem os mesmos padrões de atendimento, compartilham o mesmo banco de dados, os controles internos são iguais, os planos de carreira e, inclusive, o projeto arquitetônico.
Em Brasília, o escritório passou a atender depois da fusão com o escritório do advogado Torquato Jardim, ex-ministro do TSE e especialista em Direito Eleitoral. Siqueira Castro conta que, nesse caso, foi um negócio duplo. Passou a atender com presteza os clientes da capital federal e ganhou força no atendimento a matérias eleitorais. Para atuar em Lisboa, comprou um terço de um escritório local. Depois, fez uma parceria com o escritório português para abrir uma filial em Angola. Agora, metade da filial é do Siqueira e a outra metade, do escritório português.
“As fusões são mecanismos interessantes, se usados com cuidado e responsabilidade”, conclui o sócio do Siqueira Castro.
Revista Consultor Jurídico