Pelo poder – Para Marcos Wink, inquérito não deveria existir

por Claudio Julio Tognolli

Um entrevero, o primeiro da gestão, foi formado esta semana entre o diretor da Polícia Federal, delegado Luiz Fernando Corrêa, e os agentes da PF. Tudo começou com a informação de que o novo anteprojeto de reforma da PF já teria sido encaminhado ao Ministério da Justiça, reformulado totalmente por delegados. E pior: teria deixado agentes para escanteio no novo quadro funcional. A Fenapef (Federação Nacional dos Policiais Federais) já promete uma greve na corporação caso o anteprojeto não contemple a principal reivindicação dos agentes: ter poder de decisão nas investigações.

Marcos Vinicios Wink, presidente da Fenapef, falou com a reportagem da revista Consultor Jurídico minutos depois de ter saído do gabinete do diretor da PF, na tarde desta quarta-feira (28/5). O diretor da PF o recebeu para apagar o incêndio.

Ele disse que a conversa foi amistosa, mas sem promessas. “O diretor nos explicou que não encaminhou oficialmente o anteprojeto dos delegados ao ministro da Justiça. Mandou a ele apenas um esboço. Há uma briga de poder. Entrei em 1978 na Polícia, em 1986 virei chefe de operações. Hoje, o agente não é chefe de nada. Queremos ter poder de decisão. Por mim, nem existiria inquérito. O diretor disse que algo muda, que vai repassar para agentes incumbências de planejamento de operações. Se isso não acontecer, vamos fazer pressões no Ministério, greve, paralisação”.

Wink disse, ainda, que é necessário mudar o modelo atual da Polícia. “Temos hoje um quadro em que você põe de lado um agente de 30 anos de carreira e bota nas decisões um delegado que acaba de entrar na corporação, vindo recente de um concurso. Ele logo vira chefe de Delegacia, garoto ainda. Queremos mudar esse quadro. Os agentes não querem ser delegados, nada disso. Temos 9 mil agentes e, juntando categorias de escrivão e delegados, totalizamos 12,5 mil homens na PF, mas a mão-de-obra é o agente”, diz.

Veja o relato da Fenapef que fez a direção da PF receber os líderes sindicais

Chegou ao conhecimento da Federação Nacional dos Policiais Federais que o diretor-geral, Luiz Fernando Corrêa, já teria enviado o Anteprojeto de Lei Orgânica da PF ao Ministério da Justiça. Diante desse fato, a direção da entidade pediu audiência com o diretor-geral. Ao ligar para a assessoria do senhor diretor a Federação foi informada que deveria fazer um e-mail indicando o assunto que iria tratar e os nomes que iriam participar da audiência. A medida burocrática soou, no mínimo, estranha.

Mas a medida é mais estapafúrdia ainda quando comparada a administrações anteriores do órgão. Nem Lacerda, nem Agílio nem mesmo os coronéis que dirigiram a PF, em momento algum, fizeram tal exigência à FENAPEF. Só para lembrar ao senhor diretor, todos somos policiais federais e sabemos de nossas responsabilidades.

O que soa estranho vira indignação a partir do momento em que entidades representativas de outras classes circulam diariamente pelos corredores e salas do nono andar, sem ter que solicitar audiência, muito menos por escrito. Elas possuem uma espécie de green card permanente que franqueia a livre circulação no topo do Máscara Negra. A nós da Federação e aos 27 sindicatos filiados, a fúria burocrática.

O desrespeito à maior entidade classista do DPF não termina por aí. O cidadão Lásaro Moreira, delegado federal, assessor especial do DG, de forma descarada e desprovida de verdade negou que o Anteprojeto de Lei Orgânica estivesse no Ministério da Justiça e desconsiderou a solicitação de audiência, ou seja, o DG não receberá a Federação.

A informação do envio do anteprojeto é de conhecimento de todos, senão por informações dos delegados, mas também pelo regozijo das autoridades em verem sair do DPF um anteprojeto que atende seus interesses.

Para confirmar tal informação a Federação, com uma única ligação, conseguiu audiência no MJ, onde foi confirmado:

O ANTEPROJETO DE LEI ORGÂNICA DOS DELEGADOS ESTÁ SIM NO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA.

Senhor diretor-geral, senhor assessor especial e senhores que compõem o primeiro escalão do DPF respeitem a Federação Nacional dos Policiais Federais. Essa informação falsa foi jogada na cara de mais de 12 mil policiais, que acreditaram, apoiaram e torceram pelo sucesso dessa gestão.

Infelizmente, todos sabiam que as sucessivas criações de comissões dentro do DPF para elaboração de um anteprojeto de Lei Orgânica não chegaria a bom termo. Vários são os motivos, mas os principais são a arrogância de quem detém o poder e a incompetência de gerenciamento político nas mais diversas comissões já criadas na nossa instituição.

Sabedor disso, o Diretor criou uma comissão composta somente por delegados para que não houvesse debate e os interesses ali fossem postos sem contestação.

Por tudo isso, o nosso foco deve apontar para o Ministério da Justiça, onde temos a garantia do ministro Tarso Genro que será criada uma comissão democrática, com gerenciamento competente, para elaborar algo que realmente avance no sentido de transformar a Polícia Federal numa instituição policial de primeiro mundo.

Assembléias e um congresso nacional extraordinário, a serem convocados, definirão as estratégias que serão levadas a efeito por esta Federação.

Sindicatos e sindicalizados devem estar mobilizados para as lutas que teremos doravante.

A Lei Orgânica da Polícia Federal é de fundamental importância e haverá de ser um instrumento de modificação do modelo policial em nosso país.

A diretoria

Revista Consultor Jurídico

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