Não escondam o Lula

Logo depois de não ter ganho no primeiro turno, como era esperado, o candidato do PT mostrava-se perplexo. Ele alternava um largo sorriso de Miss Universo, treinado pelo marketeiro, com um semblante fechado.

Deu para perceber que se sua ambição de chegar à presidência é desmesurada, o preço para alcançar tal meta é alto demais. Lula faz o sacrifício de aparentar o que não é, de não poder demonstrar sua própria personalidade, de se policiar o tempo todo para não falar bobagem ou errado, de sujeitar-se ao esforço de decorar temas e textos que lhe são impingidos e dos quais nada entende, de obrigar-se a compor a imagem do estadista que nunca será.

Naturalmente esse martírio é compensado pela esperança de chegar lá finalmente, pelo aplauso fácil das multidões que o cercam, pela bajulação de empresários e banqueiros, pela suprema glória de beber vinho de R$ 6 000,00 e exibir a garrafa. Mas o fato de não ter emplacado no primeiro turno deixou Lula deprimido e os luminares e a aguerrida militância do PT frustrados e temerosos. Isto apesar do candidato ter feito uma votação que ultrapassou pela primeira vez seus habituais 30% e lhe granjeou mais que o dobro de votos do seu oponente no segundo turno, José Serra (PSDB).

Lula perdeu a chance de evitar o segundo turno no último debate havido na Rede Globo, onde o contraste com seus três adversários se tornou visível. A rigor ele não respondeu a nenhuma pergunta que lhe foi feita, limitando-se sempre a dizer que aquele tema dependeria de reuniões com a equipe, de consultas aos sindicatos, ao povo, etc. Também usou o artifício de ficar repetindo temas decorados e que nada tinham a ver com as questões formuladas. Parecia “Ofélia’”, pois só abria a boca quando tinha certeza.

Por conta dessa fragilidade e dessa insegurança evidentes, que nem Duda Mendonça pode dar jeito, o PT vai tentar evitar a todo custo, o comparecimento do seu candidato a debates na TV, onde poderia finalmente expor suas idéias e programas para que o eleitor pudesse decidir com mais consciência. Lula não tem essa condição e quem perderá será o eleitor que não deveria passar um cheque em branco para nenhum postulante a cargos do poder.

Se o PT conseguir esconder seu candidato e caprichar ainda mais no programa eleitoral gratuito, com na base na emoção e no artificialismo da imagem construída, a chance de Lula vencer, que já é grande, aumentará consideravelmente.

É bom lembrar que o crescimento do candidato petista, que ultrapassou o teto dos 30% sempre obtidos com base no funcionalismo público fiel ao PT (porque o PT é fiel à “empregomania” estatal e aos privilégios decorrentes, e os seus não ficam desempregados), no meio universitário, na Igreja, na mídia, foram alguns fatores como: organização ainda mais profissional da oposição petista através de métodos não mais marxistas, mas calcados em Antonio Gramsci; demonização implacável do governo que se finda; conquista, como decorrência das táticas empregadas, de outras forças expressivas ligadas à empresários, banqueiros, igrejas evangélicas e grande parte das Forças Armadas (estas com razão de sobra para não gostar do atual presidente); pragmatismo galopante que deixou de lado, por certo momentaneamente, convicções arraigadas e ideologia de esquerda para lograr composições políticas antes consideradas impensáveis e que aparecem no apoio de oligárcas como Antonio Carlos Magalhães e José Sarney ou de políticos outrora execrados como o antes vituperado Quércia.

Enquanto Lula ainda acusa o trauma de não ter ganho no primeiro turno, Serra aparece vitaminado, turbinado, cheio de energia para enfrentar o embate decisivo. E disto que o PT tem medo, mas não deveria impedir que os eleitores pudessem decidir com base na sua própria avaliação através do palanque eletrônico. Portanto, por favor, não escondam o Lula.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga, escritora e professora universitária
E-mail: mlucia@sercomtel.com.br

fonte: www.direito.com.br

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