Texto traduzido da revista The Economist
Por anos, Altheimer and Gray foi um pilar no cenário jurídico de Chicago. Brobeck, Phleger & Harrison, por muito tempo, foi uma força na costa oeste. O que ambos tinham em comum nos últimos anos, além de um lugar bem estabelecido em suas respectivas comunidades legais, eram planos de expansão agressivos. Este ano eles compartilharam um destino comum: falência.
No ano passado, diversos escritórios venerandos de advocacia fecharam as portas. Outros não estão com boa saúde. Em julho, o Clifford Chance, um gigante global baseado em Londres, disse que atrasou sua distribuição de lucros para os sócios. Começou a haver conversas sobre aumentar seu endividamento, que já era grande.
Escritórios de advocacia têm tradicionalmente mantido seus assuntos longe do conhecimento público. Impedidos de serem empresas de capital aberto, eles não possuem qualquer incentivo para revelar seus resultados financeiros. Antigamente, eles também tratavam de lidar com suas operações de maneira conservadora, com o aluguel de propriedades constituindo uma rara obrigação e com a compensação variável saindo principalmente de lucros acumulados e não constituindo salários pré-determinados. Mas nos últimos anos, várias firmas de advocacia lançaram programas de expansão de alto custo, financiados. Quando o trabalho diminui, isso pode tornar-se uma “espiral da morte”. Quando um escritório começa a fraquejar, sócios-chave os abandonam para não ficar presos a dívidas residuais. E as contas a receber evaporam, na medida em que os clientes atrasam o pagamento.
Altheimer & Gray oferece uma história que deve servir de advertência. O escritório, com 88 anos e cuja matriz fica em Chicago, além de filiais em duas outras cidades americanas e também em 10 países, está se dissolvendo. O colapso de um escritório que um dia possuiu 350 advogados atuando em todo o mundo é um dos maiores na história jurídica americana e ocorre após a busca infrutífera de um parceiro para fusão. O fato de seus principais advogados logo terem conseguido outros empregos, muitas vezes com salários maiores, sugere que o fechamento do Altheimer se deveu a algo mais do que uma economia deprimida.
O que houve de errado? Os relatórios financeiros internos eram péssimos. Os planos de expansão acrescentaram advogados caros e novos escritórios (São Francisco e Paris foram inaugurados recentemente). A prática do escritório no setor de private equity foi prejudicada pela queda nos investimentos. E o infortúnio de clientes como United Airlines e Montgomery Ward não ajudaram.
Os tempos difíceis aparentemente pegaram de surpresa muitos empregados. “Nós tínhamos uma visão distorcida dos negócios do escritório”, diz um dos antigos sócios, que afirma que só dois meses antes da queda o comitê de gestão forneceu um relatório sobre o desastre financeiro que se delineava. Enquanto isso, no ano passado foi renovado o aluguel dos escritórios da firma em Chicago e as reformas continuavam.
Todavia, ao fim de 2002 a lista de advogados do Altheimer já estava diminuindo. Recebimentos de clientes, que tradicionalmente ficam menores no começo do ano, foram ainda mais difíceis neste ano. Propostas para estagiários foram canceladas no primeiro semestre e as oportunidades para associados temporários foram cortadas.
Os sócios do escritório (que, afinal de contas, podem ser responsabilizados pelas dívidas) esperam que haja dinheiro suficiente em contas a receber para cobrir as dívidas junto ao Banco LaSalle, que faz empréstimos ao escritório, bem como junto ao proprietário do imóvel ocupado pelo escritório e outros credores, tais como a empresa de reforma de interiores que registrou um pedido de penhora no valor de 1.1 milhão de dólares pelo trabalho realizado no escritório central.
Boa sorte para eles. Os encerramentos de firmas freqüentemente se tornam prolongados e complicados. O Brobeck foi processado pelos seus empregados de posições mais baixas e por seu senhorio. Hutchins, Wheeler & Dittmar, um dos mais antigos escritórios de advocacia de Boston, foi dissolvido em Dezembro, mas seu nome sobrevive nos tribunais em função de um litígio entre os ex-sócios sobre os termos da liquidação. É um final apropriado.
Fabio de Castro Nogueira Santos é estudante de Direito e colaborador da revista Consultor Jurídico