Rogério Teixeira Brodbeck*
Perdi a conta de quantas vezes escrevi, opinei, comentei, enfim, falei sobre trânsito na Imprensa, de forma geral, ao longo de todos estes anos de vida profissional de jornalista e oficial da Brigada. E nesse tempo todo sempre vi e constatei que as mortes, as lesões, os aleijões, os choros e as tragédias continuam a enlutar as famílias, a merecer paginas e páginas de jornal, tempo de rádio e Tv e campanhas para a redução desses acidentes.
E apesar de tudo, não desisti de dizer alguma coisa assim como não vi tais campanhas, muitas sólidas e bem feitas, outras nem tanto, surtirem o efeito desejado por menos que fosse. E continuo com o ponto de vista sustentado nesses anos de jornada de que essa guerra não declarada, que é o trânsito nosso de cada dia, ainda vai continuar a nos entregar em caixões aqueles que vimos partir sorridentes em veículos. E mais ainda agora às vésperas da temporada de verão quando o copo, a torcida e a irresponsabilidade são muito maiores do que a caretice de não beber e a fama de pai durão que não quer dar o carro para o filho, se bem que haja muito marmanjo por aí que já não depende mais do papai para ter um carro nas mãos (ou nas patas) para matar inocentes (e outros nem tanto…) a torto e a direito.
Enquanto não se coligarem (afinal estamos em ano eleitoral) os três “Es” indispensáveis, ou sejam, a Energia Legal, a Educação e a Engenharia, de nada adiantarão ações isoladas com campanhas, pardais, caetanos e quero-queros, multas e etc. Ou os “es” entram em campo juntos, solidários, abraçados como um time em dia de decisão com direito a pai nosso e tudo no túnel, ou vamos continuar indo a enterros e a hospitais. Mas o que são mesmo esses três “Es”? O primeiro – não necessariamente por ordem de importância – é do Esforço Legal que quer dizer policiamento e fiscalização a cargo das autoridades responsáveis que devem estar presentes sempre nas estradas e vias urbanas, e não apenas nos feriadões ou datas simbólicas. Isto é, deve haver permanência na atividade e não só jogar para a torcida com “operação isso” ou operação aquilo. Que tal “operação todos os dias”? O outro braço do Esforço legal é da apuração dos delitos, com a polícia cartorária trabalhando com afinco na busca e indiciamento dos responsáveis pelos acidentes com lesões e/ou morte para que a não fiquem ao largo das conseqüências de tais sinistros. E para tanto é imprescindível que os locais sejam preservados, que a Perícia faça a sua parte, que se colham os materiais como sangue, que se usem etilômetros (é o nome bonito do bafômetro), enfim que os vestígios possam se transformar em indícios e que a impunidade não se faça presente. Ainda dentro do Esforço Legal outros dois segmentos importantes são o Ministério Público e o Judiciário, o primeiro na persecução penal visando levar a julgamento com auxílio da Polícia cartorária os responsáveis pelos delitos de trânsito, e o segundo encarregado do processo e julgamento desses acusados, restando, ainda, o sistema legal que consiste no conjunto de leis existentes e destinado a prever a tipicidade de cada conduta prevendo a existência da ação delituosa e pesadas sanções sem as atenuantes tão costumeiras como o cumprimento de “x” da pena, a residência fixa, os bons antecedentes e outras questões que fazem a inocuidade da sanção e levam o autor à liberdade que fica sendo sinônimo de impunidade. E o terceiro “E” que é a educação, de forma sistemática, permanente, tendo como público alvo as crianças e os adolescentes (adulto já está viciado e não tem jeito senão o pesado braço da pena), mas realizada de maneira institucional, inserida nos currículos escolares inclusive para que os objetivos sejam, alcançados, para que os filhos chamem a atenção dos pais “pintacudas”para os seus erros cotidianos cometidos no volante.
Só desta forma poderemos ter resultados práticos, vigorosos, consistentes, de modo a reduzir estes trágicos números de nosso trânsito. Do contrário, preparemo-nos para o pior a cada noite e a cada madrugada. Rezemos, pois.
*Coronel da Reserva da Brigada Militar, advogado e jornalista.