Nida Chalegre Coimbra
A Cúpula Mundial de Johanesburgo me levou a rever a evolução dos últimos 30 anos da conscientização da limitação dos recursos naturais e o despertar da humanidade sobre a sua responsabilidade acerca da manutenção da vida na terra.
Quando a comunidade mundial reuniu-se em 1972 em Estocolmo para a primeira Conferência da ONU sobre Ambiente Humano, provocou durante uma década uma reação positiva apenas para os chamados “ecoloucos”. O empresariado olhou para a questão com desconfiança, como um aspecto restritivo ao desenvolvimento. Gerou a dicotomia:” desenvolver ou preservar”.
A década de 80 inaugurou um novo posicionamento. Houve um incremento da legislação ambiental. A Política Nacional do Meio Ambiente, a Lei nº 6938/81 veio regulamentar e dar diretrizes à proteção ambiental. A nova Carta Magna, sancionada em 1988, dedicou um artigo inteiramente ao meio ambiente, o art. 225, tornando-se, naquele momento, a única Constituição a fazê-lo. Fosse pela quantidade de leis e regulamentos, todos nossos problemas estariam resolvidos. Mas não era bem assim. Os empresários, nesse momento, se limitaram a cumprir a legislação como uma obrigação, como mais uma imposição para a implantação dos empreendimentos.
A década de 90 inaugurou um novo comportamento. A prática adquirida no cumprimento da legislação fez com que os empresários descobrissem as vantagens dos conceitos ambientais aplicados à produção como a eliminação do desperdício, a diminuição dos insumos, a melhoria da saúde dos funcionários e da coletividade, a racionalização dos processos etc. A comunidade internacional reuniu-se novamente para a Rio-92. Com a inserção conceitual do desenvolvimento sustentável, a Cúpula gerou consciência e esperança. Os fatores ambientais foram integrados a negócios econômicos e sociais, se transformando em uma parte central do processo de formação política.
Surgiram na década de 90 as certificações ambientais como a ISO 14000, agregando valor econômico aos produtos ecologicamente corretos. Os empresários passaram a ter uma atitude pró-ativa criando áreas de gestão ambiental em suas empresas, incorporando a questão ambiental em seus processos produtivos. Se a década de 90 ficou no “plano das idéias”, o séc. 21 pretende ser o “das ações”, o da implementação efetiva dos planos arquitetados no século anterior.
Embora a Cúpula de Johanesburgo tenha sido considerada como a do fracasso, acredito que os compromissos foram reafirmados e a consciência e a vontade de se entregar um mundo melhor aos nossos descendentes estão plantadas dentro de cada um de nós. Segundo Peter Winsemius em “Revolução Emocional e Desenvolvimento Sustentável”, as verdadeiras mudanças de modelo se efetivam quando partem da vontade do cidadão, no seu papel de eleitor,consumidor, de sua auto-responsabilidade, algo relacionado com a auto-estima de cada um.
Assim sendo, só alcançaremos mudanças efetivas quando a preocupação com a sustentabilidade se internalizar de tal forma no indivíduo que passará a fazer parte do seu dia-a-dia, parte integrante de seu sistema de vida e não uma mera questão setorializada e externa a si a aos seus parceiros, portanto, sem uma perspectiva de solução. Esperar somente pelos governos pode ser uma atitude omissa, paternalista, acomodada.
No setor empresarial, as práticas de responsabilidade social corporativa e de ecoeficiência tiveram um incremento extraordinário nos últimos dez anos, independentemente das complicadas negociações internacionais para se formar as novas regras de desenvolvimento global. Entidades empresariais como a Câmara Americana de Comércio – AMCHAM vem criando seus Comitês de Meio Ambiente para discutir formas de implementação do desenvolvimento sustentável. As iniciativas individuais, se somadas ao redor de todo o mundo, produzirão mudanças verdadeiras sustentáveis.
Artigo redigido em 16.09.2002
Em Brasília, DF
* Nida Chalegre Coimbra é Consultora Ambiental e ex-Conselheira do Conama e Presidente do Comitê de Meio Ambiente da AMCHAM – Brasília