Praticamente todas as manhãs, quando saio para trabalhar, deparo-me com uma quantidade enorme de catadores de papel, papelão, plástico, vidro, latas etc., aqui em Juiz de Fora (MG). Bate um sentimento dúbio. Ao mesmo tempo em que sinto certa tristeza, pois os mesmos correm riscos de contraírem doenças por estarem vasculhando o lixo sem a proteção necessária; por outro lado me desperta uma alegria ao observar que muitos tiram o seu sustento dali.
Realmente, o que foi descrito acima é um paradoxo, como tudo na vida. Apresenta prós e contras. É triste observar que muitos não se encontram devidamente protegidos e correm sérios riscos de contaminação, bem como podem se ferir com latas e vidros quebrados. Entretanto, prefiro focar nos aspectos positivos, uma vez que, acredito, são maiores. Inicialmente, vale ressaltar que os catadores tiram dali o seu sustento. Com a renda auferida, muitos sustentam suas famílias. É dali que vem o pão de cada dia. E tem mais, poucas pessoas percebem o enorme benefício que estes catadores trazem para a sociedade como um todo, no que diz respeito ao meio ambiente, ou seja, o fato dos mesmos destinarem parte do papel, papelão, vidro, plástico, entre outros (que iriam para os lixões aumentar a poluição) para a reciclagem. O Brasil é campeão mundial em reciclagem de latinhas de alumínio. E de acordo com especialistas, cada latinha reciclada dar para gerar energia para meia hora de funcionamento de uma geladeira. E no caso do papel e do papelão: várias são as árvores poupadas, quando tais materiais são reciclados. E no caso do vidro e das garrafas PET, tais levam anos para se decompor na natureza, assim, o reaproveitamento das mesmas diminui e muito a poluição.
Atualmente, com o elevado desemprego, muitos encontram no lixo uma maneira de reinserção no mercado de trabalho, mesmo que de modo informal (sem os benefícios de uma carteira de trabalho assinada). E trabalhando, os indivíduos aumentam sua auto-estima, sua dignidade e tornam-se pessoas mais felizes por saírem do ócio e conseguirem uma renda para fazer face às suas despesas. E quando se está trabalhando de modo honesto, não se está no crime e nem na droga. Assim, contribuem para diminuir a violência também. Acerca do benefício gerado para o meio ambiente, tornam-se necessários a geração de mais cooperativas que venham a agregar os catadores e prepara-los de modo correto para desempenhar tão importante atividade, de modo a atenuar e até eliminar os riscos desta profissão. Vale lembrar que a organização aumentará a eficiência e o bem-estar desses trabalhadores que levantam bem cedo, quando a maioria ainda está dormindo, e contribuem para tornar as ruas, avenidas, calçadões bem mais limpos. A sociedade precisa valorizar ainda mais essa atividade.
Em geral, cada um de nós pode contribuir para essa atividade com simples atitudes: quando utilizarmos leite e iogurtes que vêm em sacos plásticos ou em embalagens de papelão, podemos lavá-los e deixá-los secar de modo a colocar esses materiais limpos. E quando for o dia da coleta do lixo, separar em casa, a parte orgânica da não-orgânica (que pode ser reciclada) e colocar na porta de nossa residência de modo a facilitar a atividade dos coletores de material recicláveis. E quando formos colocar qualquer peça de vidro no lixo, tomar muito cuidado para não deixar cacos que venham a ferir os catadores (sugere-se colocar vidro à parte de tudo). Fazer isso pode parecer chato e cansativo, mas não é, pois quando se cria o hábito de separar o lixo orgânico do não orgânico, nunca mais queremos deixar de fazer e quando observamos quem não faz, sentimo-nos incomodados. Enfim, são medidas assim que contribuirão para um mundo melhor.
Finalizo este artigo, conclamando a população que tome medidas simples para facilitar o trabalho dos coletores, pois estarão contribuindo para uma atividade que gera emprego e renda para muitas famílias. Conclamo também às autoridades governamentais que criem cooperativas para esses coletores. E parabenizo os profissionais que coletam material reciclável, pois estão contribuindo para um mundo melhor e mais limpo e fazendo do lixo um luxo.
Autor: Fernando Antônio Agra Santos
Contato: fagra@viannajr.com.br
Doutor em Economia Aplicada pela Universidade Federal de Viçosa, Economista pela Universidade Federal de Alagoas, Consultor Econômico e Professor Universitário em Juiz de Fora – MG.