Estava conversando com meu sócio, sobre um dos clientes de nossa consultoria, quando soltei uma daquelas típicas expressões populares, que propagamos, muitas vezes, sem sentir e sem pensar. Disse para ele: “olha, é bom a gente chegar à reunião com uma opinião formada sobre o assunto”. Na mesma hora que, inconscientemente, soltei a expressão, a consciência se apoderou do termo e começou a questionar fortemente se isso seria algo bom ou ruim. Pensei: “Espera aí; se nós vamos discutir como o projeto vai ser desenvolvido e quais os melhores caminhos para a solução dos problemas, por que eu devo chegar com opinião formada?” No mesmo súbito, disse para ele: “esquece o que eu disse. Nada de chegar com opinião formada. Vamos chegar com elementos, fatos, dados e muitas, muitas perguntas a serem respondidas. Vai ser lá, depois de percebemos a visão deles sobre o assunto, que iremos construir respostas e formar opinião sobre o problema.”
Depois, com calma, comecei a ponderar mais sobre o tema e, cada vez mais, sedimentei a idéia que opinião formada sobre um assunto, no qual você ainda não considerou a maior quantidade possível de visões e abordagens, é caminho certo para ter uma opinião DEFORMADA sobre o mesmo. Pense comigo. É possível que você diga ser impossível termos todos os elementos, dados e visões sobre um determinado assunto. Eu concordo com você. Se nós mesmos, em nossas extremadas limitações de visão, já conseguimos ter perspectivas multifacetadas e plurais sobre algo, imagine quando o assunto é olhado pela visão de outros. É um caleidoscópio de formas e cenários. Partindo dessa premissa, formar uma opinião sobre algo é extremamente complexo e perigoso, pois ela estará sempre sujeita a ser mudada, se um novo elemento, um novo dado ou uma nova abordagem for introduzida nesta mistura de idéias que supostamente formam uma opinião. Pois esse é exatamente o ponto: JAMAIS teremos opinião totalmente formada sobre algo ponderável.
As únicas opiniões definitivamente formadas que podemos ter são sobre as coisas absolutas e inexoráveis. Sobre as subjetivas, que estão passíveis de questionamento, temos apenas opiniões temporárias, momentâneas, presas a um contexto e cenário. Mas existem pessoas que têm medo de assumir essa transitoriedade, por acreditarem que isso significa não ter opinião, sendo consideradas passivas e apáticas diante do mundo. Ora, não ter opinião é bem diferente de ter uma opinião em contínua formação. Raul Seixas, em uma de suas músicas deixou bem claro essa necessidade premente de abandonarmos a rigidez do pensamento, quando declarou “Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
Sim, eu tenho opinião definitivamente formada sobre a inevitabilidade da morte física, sobre a possibilidade da vida eterna, sobre a existência de Deus, sobre a carência afetiva do homem que o leva a necessitar do outro, sobre dois mais dois ser quatro, sobre a queda livre de um corpo mais pesado que o ar, e sobre muitas outras coisas que para mim são absolutas. Ainda assim, por mais paradoxal que possa ser, tenho como absoluto, e por isso formo opinião, que outras pessoas possam não ver nesses axiomas acima assuntos absolutos ou fechados, se permitindo ponderá-los e, por isso, não se dando o direito de formar opinião sobre os mesmos.
Insisto e repito: tenho uma opinião formada de que opinião formada sobre subjetividades é a base para anorexia mental e postulação de preconceitos, ou prejulgamentos. Exemplos: Políticos são ladrões, negros são marginais, nordestino é sub-raça, norte-americanos são imperialistas, louras são burras, modelos são prostitutas, patrão só quer sugar. Meu Deus, todas essas opiniões formadas são anacrônicas, nefastas, preconceituosas, dignas de mentes obtusas que se apropriam do particular e o expandem para o todo. Isso é pura opinião deformada.
Troque isso tudo por opinião em formação. Esse tipo de postura, a de aceitar não ter opinião formada sobre o que é subjetivo, lhe coloca em uma posição de vigilância e análise constante do meio e de seus elementos. Faz de você alguém aprendiz, aberto para o novo, pronto para crescer e explorar novos rincões do conhecimento. A decisão de dar efemeridade às suas opiniões não invalida a possibilidade de você estabelecer princípios basilares, sobre os quais você formará seus valores e referências para a leitura do mundo. Um exemplo: assumir um princípio irrevogável de respeito ao próximo, não lhe impede de formar uma opinião que lhe leve a discordar de alguém, a suspeitá-la, a rejeitá-la, ou mesmo a repreendê-la. Mas porque você acredita no respeito e cordialidade a esse outro, você exercitará essas opiniões sem que isso lhe dê o direito de desrespeitá-la. Ou seja, ter opiniões em formação não lhe impede de tomar decisões, de ser alguém que desce do muro e se decide por algo. Pelo contrário, lhe faz alguém menos rancoroso e mais seguro, exatamente por não desenvolver sentimento de culpa quando percebe que uma decisão equivocada foi tomada com base numa opinião em formação. Depois, com uma nova opinião sobre o mesmo assunto, volta atrás na decisão anterior, e move-se na direção de uma nova decisão, mais coerente com a opinião atual.
Já viu aquelas pessoas intransigentes, que não voltam atrás, mesmo que todos os fatos mostrem que ela está errada, e assim o fazem somente porque não querem dar o braço a torcer, e admitir que tiveram que mudar de opinião? É triste! Pessoas assim, se tornam rígidas, inflexíveis e obsoletas. Pessoas assim ficam para trás, morrem antes do tempo. Não deforme sua opinião. Deixa-a em eterno estado de formação. Seu ser também está. Ou, por acaso, você já É. Se você acha que sim, desculpe-me, mas você já morreu. Aí sim, só lhe resta deformar. Lembre-se: vida é formação.
Bem, essa é hoje minha opinião. Não formada, é lógico!
Compromisso de hoje: Vou parar de ter opiniões formadas e abrir minha mente para ter sempre opiniões em formação.
Abraços, bênçãos e SUCESSO!
Autor: Paulo Angelim
Contato: pauloangelim@uol.com.br
Consultor e palestrante nacional em Marketing, Vendas e Crescimento Pessoal