Interpretação crítica ao enfoque histórico-familiar do texto o Nó e o Ninho, de Michelle Perrot

1. Introdução

Durante toda a história, percebe-se uma sociedade influenciada pelas transformações econômicas, políticas e pelo desenvolvimento tecnológico. Com a família, uma das principais instituições sociais, não poderia ser diferente. Os interesses particulares vêm acompanhando as mudanças do mundo contemporâneo, de maneira que se tem, atualmente, um modelo familiar diferente do tradicional mantido nos séculos anteriores.

2. Aspectos históricos

Antigamente, a família se apresentava dentro de um padrão nuclear (demonstrado pelo poder patrimonial), heterossexual (de grande relevância, por apresentar-se conservador), monogâmico (outro fator tradicional), dentre alguns outros. As missões que as famílias desempenhavam, neste século, detinham fortes ligações com os ditos “interesses particulares”, por assim ser sua forma de vida. Dessa maneira, o homem (chefe da família) desempenhava um papel de “gerência” do grupo familiar, que se apresentava com a figura paterna. A mulher, no entanto, apresentava submissa às vontades do homem, tão-somente à destinação de tarefas do lar, sem qualquer labor fora dela. Os filhos, também submissos ao chefe da casa, detinham relações profissionais e amorosas de acordo com os interesses e as necessidades da família, sendo da concepção do pai.

A família demonstra estereótipos diversos, de acordo com a época que a mesma se mostra. No século XIX, por exemplo, os grupos familiares expressavam interesses outros (de maior afeto e fraternidade, num conjunto de união) do que os grupos que vivenciaram o século XX, os quais se importavam mais com trabalho e sobrevivência, o que acaba por descrever os diferentes momentos e necessidades de cada uma delas. Por isso diz-se uma história “não-linear” ou “com rupturas sucessivas”, tendo em vista ainda as necessidades de a família se referir à “decadência” quando de grandes alterações nas quais, por vezes, não nos mostramos e acordo.

3. Ruptura dos conceitos clássicos

Reconhecida a desestruturação dos modelos familiares, a autora faz um paralelo entre a conceituação de “mudança” e “estigma”. Em linhas gerais, as mudanças se apresentam como ocorrência natural das coisas, por parte da manifestação e das alterações comportamentais das pessoas. Diferente é, pois, o estigma, que se apresenta quando de uma ocorrência “radical” na sociedade, mas que acaba sendo aceita, demonstrando-se, assim, uma mudança estigmatizada, por ocasião do tempo sob os modos sociais.

É de fácil compreensão que o fator o qual acabou por desencadear tais rupturas foi realmente um processo de dissociação que se faz presente há muito tempo. É uma espécie de “revolução” com o intuito de libertar as pessoas para que estas detenham uma maior autonomia em relação à sua própria vida, trazendo mudanças que ousam a forma de como a sociedade se apresenta, a saber: na forma de vida dos operários, das mulheres e dos jovens, de uma forma mais simplificada, dando, dessa forma, uma esperança de vida mais digna e feliz aos grupos de pessoas que vêem a constituir, por sua vez, os grupos familiares. Por outro lado também, as inovações, como fatores externos acabam por influenciar na forma de se gerar uma família como a bioética.

Toda essa mudança social e adaptação cultural, acabaram por desencadear alguns resultados, alguns favoráveis e outros não muito agradáveis. Vantagens e desvantagens sempre são visíveis quando de uma mudança que se apresenta “radical”. A autora aponta, dentre as vantagens, um avanço intelectual bastante grande, tais como o poder que a liberdade dá para se correr atrás do que se almeja. Não obstante, desvantagens como um maior individualismo e solidão (material e social, respectivamente), também acabam por vir. Em aspectos gerais, mesmo havendo pontos negativos, não haveria mulheres ou jovens, atualmente, com o intuito de voltar a viver na velha forma de vida patriarcal.

4. Conseqüências do progresso familiar ao longo dos tempos

Atualmente busca-se um modelo familiar mais objetivo, que atenda as necessidades particulares sem romper com os laços afetivos. Assim, conforme a autora, o que a sociedade vem rejeitando, é a estrutura rígida e moderadora com qual se vivia nos séculos anteriores, o nó. Passando a valorizar, de sua maneira autônoma, o lar, a casa, o ninho, a família em si, como forma de proteção e abrigo.

Desta forma, o que a autora aspira para o terceiro milênio é um grupo familiar um tanto utópico, uma vez que, mesmo levando-se em conta as grandes mudanças que já se fizeram por várias décadas e que ainda estão por vir, a sociedade mantém alguns traços da antiga família, obviamente com menos intensidade, porém presentes.

5. Conclusão

O que se discute não é simplesmente a dita “revolução” do modelo familiar, trata-se de valores, com os quais a sociedade preconceituosa do mundo atual não sabe lidar. Há muito que mudar, partindo principalmente da exteriorização das necessidades humanas, já que o mundo se mostra cada vez mais capitalista, individualista e político. Muitas vezes o que se precisa é simplesmente uma reorganização de conceitos. A família é uma forma de liberdade individual, construída por cada um conforme necessidades e laços afetivos. O que se viu no passado nada mais era que um compromisso moral com a sociedade, uma imposição ética de honra.

6. Referência bibliográfica

PERROT, Michelle. O nó e o ninho, in Veja 25: reflexões para o futuro, São Paulo: Abril, 1993.

* Luiz Fernando Vescovi

Acadêmico de Direito do 5º ano do UnicenP – Centro Universitário Positivo, e integrante do escritório “Macedo Advocacia Empresarial”, em Curitiba – PR.

* Jessica Elisa da Rosa

Acadêmica de Turismo do 1º período da UFPR – Universidade Federal do Paraná e Técnica em Turismo e Hospitalidade pelo León Centro de Educação Técnica.

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