O Brasil está de luto

“Hoje é o Dia Nacional de Luto pela morte da Dignidade na Política Brasileira. Vamos vestir preto em protesto contra a nossa classe política…”

Senhoras e senhores cidadãos dignos, honestos, trabalhadores, éticos e esperançosos… É com profundo pesar que os convidamos para o velório da Dignidade na Política Brasileira, a qual não resistiu ao ataque de câncer generalizado em seus órgãos vitais à democracia e à saúde das instituições públicas. A Dignidade na Política Brasileira teve o seu corpo cremado e as cinzas espalhadas em todos os recônditos do Brasil, motivo pelo qual a sua morte estará sendo velada, simultaneamente, desde a zero hora de hoje, dia 29/06, em todo o país.

A Dignidade na Política Brasileira sofreu de vários tipos de câncer desde sua tenra idade. Mesmo com saúde debilitada, resistiu fortemente até onde foi possível. Porém, nos últimos meses, foi acometida por novas formas de câncer que emergiram em seu tecido social, às quais não resistiu. Entre estas muitas, a última foi uma conhecida por “mensalão” que atingiu em cheio as veias coronárias da política brasileira.

Segundo os médicos do sistema público de saúde, responsáveis pelo atendimento à Dignidade na Política Brasileira, foram feitos todos os esforços possíveis a fim de impedir o óbito. Em boletim divulgado à imprensa, o chefe da equipe médica lamentou e disse que se não fosse a greve e a falta de recursos em todos os hospitais da rede pública do país, agravados pelos desvios de verbas no SUS e no INSS, esta tragédia poderia ter sido evitada.

Mas na opinião do Dr. Salvador da Pátria, médico PhD em cancerologia política, não se pode atribuir ao sistema de saúde a culpa pela morte da Dignidade na Política Brasileira. Para ele, a morte está associada, principalmente, à falta de remédios eficazes para combater as várias formas de câncer que se desenvolveram no corpo da paciente. “Sem combater a raiz do problema, de nada adiantaria uma rede hospitalar de primeiro mundo”, explica.

Os principais tipos de câncer que ameaçam a saúde e a vida da democracia brasileira são a corrupção, a falta de ética, a infidelidade partidária, a impunidade, a fragilidade das instituições, a Lei de Gerson e a amnésia política. Contra eles, segundo especialistas, tem-se hoje no país remédios como o Poder Judiciário, o Congresso Nacional, o Ministério Público, a imprensa, as leis, o cidadão, o voto e o sistema penitenciário. No entanto, nada disso parece ser suficiente para eliminar ou mesmo conter o avanço do câncer.

Para os mais radicais, o único remédio para combater os vários tipos de câncer que assolam o país é a Ditadura. Trata-se de um tipo de tratamento radical, que prega a amputação de todos os órgãos afetados. Mas o Dr. Salvador da Pátria é totalmente contra essas fórmulas mágicas. “Amputar não é curar. O que precisamos é desenvolver fórmulas mais eficazes ou aperfeiçoar as que já temos”, diz, referindo-se as nossas instituições. “E para isso, é necessário que cada cidadão brasileiro desperte, proteste, indigne-se, cobre, fiscalize. Isso é praticar medicina preventiva, que é a mais eficaz de todas”, completa.

Caro leitor, perdoa-me pela forma inusitada com a qual tratei o tema. Mas, em se tratando de assuntos pesarosos como esses, é preciso muita sutileza. Se a forma parece ficção, o conteúdo subentendido não deixa de ser pura realidade.

Hoje é o Dia Nacional de Luto pela morte da Dignidade na Política Brasileira. Vamos vestir preto em protesto contra a nossa classe política que todos os dias assassina a nossa esperança, a nossa auto-estima, o nosso futuro, a nossa alegria e a nossa crença na democracia. Nós somos o maior e o mais eficaz remédio para combater o câncer na política brasileira. Só precisamos fazer a nossa parte e cobrar atitudes coerentes da nossa classe política.

Indigne-se, proteste, coloque preto em sua janela, no seu braço, no seu corpo, no seu carro. Mostre que não dá mais para aceitar tanta mediocridade política. Eu estou fazendo a minha parte, que tal você fazer a sua também? Agora, só nos resta ressuscitar a Dignidade na Política Brasileira.

Maritônio Barreto
Jornalista

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