Juros altos e economia regional

“A Selic é a principal referência de juros do País e afeta diretamente as vendas a prazo e os empréstimos para capital de giro…”

Em um passado não muito distante, nosso país sofria com o mal da inflação. Durante o primeiro trimestre de 1990, os salários chegaram a perder mensalmente 70% de seu valor real devido ao processo inflacionário inercial, que tinha força e vontade próprias.

Nos dias atuais, o temor de assistir à reedição desse pesadelo histórico fez com que o Copom utilizasse a estratégia de elevar os juros. De agosto/2004 a junho/2005, a Taxa Selic passou de 16% ao ano para 19,75% ao ano, tornando o país detentor de uma das maiores taxas reais de juros do mundo. Mais do que um número, esse recorde negativo reflete diretamente em nosso cotidiano e, principalmente, no futuro do nosso Estado.

A Selic é a principal referência de juros do país e afeta diretamente as vendas a prazo e os empréstimos para capital de giro. Com isso, a capacidade de consumo do brasileiro diminui e o dinheiro para o financiamento das atividades operacionais das empresas torna-se muito mais caro, estagnando a economia.

Com um mercado desaquecido, os investimentos de longo prazo, ou seja, a implantação de empreendimentos, a expansão de unidades, a modernização de empresas, ficam relegados ao segundo plano. A sobrevivência acaba tomando o espaço dos projetos de investimentos ou, na linguagem mais corporativa, o estratégico cede lugar ao operacional.

A Selic influencia de forma direta as operações de curto prazo. Assim, as linhas do BNDES e do FCO não têm os encargos financeiros afetados pela decisão do Copom. No entanto, os juros altos tornam os bancos ainda mais criteriosos em operações de longo prazo. É uma espécie de código que avisa: “não é momento de emprestar”. Essa tendência pode ser constatada quando da comparação do número de cartas consultas do FCO Empresarial aprovadas pelo Governo do Estado e o número de projetos cujos recursos foram efetivamente liberados pelo Banco do Brasil, único agente repassador do recurso.

O Estado do Mato Grosso do Sul é uma alternativa interessante para muitas empresas. Incentivos fiscais, linhas de crédito com recursos subsidiados, localização (centro do Mercosul e fronteiriço de grandes estados consumidores), disponibilidade de matérias-primas (principalmente grãos e carnes), terras baratas, entre outros pontos, são fatores que credenciam os municípios sul-mato-grossenses a abrigarem indústrias que buscam competitividade e maior dinamismo para seus negócios. Além disso, o Congresso Nacional poderá votar no segundo semestre deste ano a reforma tributária que tende a tirar das unidades da Federação a autonomia de conceder benefícios sobre o pagamento de ICMS. Todos esses fatores fazem com que muitas empresas manifestem o interesse preliminar de investir aqui.

Entretanto, o processo de tomada de decisão dessas empresas é muito criterioso. Construir uma planta industrial é uma iniciativa que muda o destino de uma organização e até mesmo de uma região inteira. Todos os fatores são analisados, principalmente as condições mercadológicas, afinal, para que produzir mais se não há demanda para absorver a oferta adicional proposta?

Nosso Estado necessita ampliar a sua base produtiva para gerar empregos e fomentar o desenvolvimento principalmente nos municípios do interior. Mesmo com a conjuntura nacional não muito favorável, algumas boas iniciativas do Poder Público, tanto em âmbito estadual, quanto municipal, têm surtido efeito na atração de empresas, mas ainda é pouco para o potencial do Estado.

A elevação dos juros não é o único fator que inibe os investidores, mas uma sinalização positiva do Copom nas próximas reuniões seria providencial para elevar o nível de atividade econômica e, conseqüentemente, para que o desenvolvimento econômico do Estado ocorra mais rapidamente.

Thaner Castro Nogueira*
Economista

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