Uma vez convencido de que o seu objetivo é submeter-se a um concurso (se possível, visualizando já a carreira pretendida), o acadêmico de Direito deve estar consciente de que a ele cabe exercitar um processo dinâmico, contínuo, global, pessoal, gradativo e cumulativo durante o curso. Precisa reavaliar o próprio estilo de vida e, se necessário, reordená-lo, dispondo-se ao estudo constante, à leitura persistente e à aprendizagem qualitativa, não se sentindo satisfeito somente com o conhecimento fragmentado o qual lhe chega por diferentes vias (apostilas, sinopses, páginas da internet, cadernos com registros de aulas assistidas, entre outras). Em que pesem a qualidade de muitas das fontes citadas e a facilidade que representam, especialmente as páginas da internet, é necessário ter sempre em mente que ali está a interpretação (ou o registro apressado) de alguém sobre o pensamento do autor (ou autores) em relação ao qual ele embasará o seu estudo. Na medida do possível, deve checar a informação, questionar, manusear as fontes, compará-las, anotar os principais pontos coincidentes e os de divergência, refletir sobre eles, registrar sua posição e sua dificuldade para a compreensão. No sentido de desenvolver toda essa trajetória de procedimentos, o acadêmico precisa de tempo. Como ele é sempre exíguo, tornam-se necessárias a planificação rígida de todas as atividades e a organização do tempo a elas reservado. A maior cota de sacrifícios é imposta nesse momento, mas, com certeza, valerá a pena. Se procurarmos um método ideal, garantidor por si só de sucesso a todos aqueles que a ele tiverem acesso, nós não o encontraremos.
Estudar é “andar de caranguejo”. Não é só para frente. É para frente e para trás: estudando matérias novas e recordando as já estudadas. Mantendo diante dos olhos um mapa no qual se possa ir assinalando não só o avanço quantitativo mas também o número de vezes nas quais se buscou profundidade, aumentando a qualidade no processo de retenção. Varia de pessoa a pessoa o modo de se reter a matéria estudada. Algumas providências, no entanto, são necessidades comuns a todos os candidatos: ambiente favorável à concentração; organização desse ambiente de modo a inibir qualquer fator de dispersão. Para tanto, é necessário dispor de tudo o que se precisa para um estudo proveitoso, como a mesa, a cadeira, a direção da luz, o lápis e a caneta, o livro, os códigos e a régua. Bem sentado (de outra forma, sentir-se-á cansado em pouco tempo e terá vontade de levantar-se e dar uma volta; sem falar nos problemas que a má postura produz, os quais podem comprometer toda uma vida), acomodado, precisa iniciar a leitura de forma atenta, sublinhando só o mais importante. Meditando e memorizando. Se preferir o sistema de perguntas e respostas, anote, por exemplo, um número ao lado de cada questão proposta pelo autor e, no rodapé da página, coloque o mesmo número e faça uma pergunta pertinente e identificadora dela. Responda a todas as perguntas, se necessário, com uma volta ao texto. Dessa forma, estará racionalizando o tempo, pois, ao recordar, não precisará ler de novo o livro todo, podendo deter-se apenas nas questões efetivamente significativas, anteriormente anotadas e respondidas.
Um defeito grave, do qual decorrem muitos dos demais problemas, é o mau uso da Língua Portuguesa. O desconhecimento da língua compromete a leitura e a compreensão dos textos lidos; compromete e, às vezes, inviabiliza a expressão do pensamento. Quantas vezes uma prova chega até os examinadores com qualidade técnica indiscutível. A redação, porém, é muito ruim e se torna temerário aprovar alguém que, no exercício da função, não terá condições de elaborar com dignidade suas denúncias, petições e alegações. Esse primeiro defeito apontado pode ser também responsável, ao lado da falta de hábito, pelo desinteresse pela leitura, tão comum em nossos jovens, filhos de uma era na qual a imagem oferece o “prato pronto”, dispensando “ingredientes”, como releitura, reflexão e interpretação.
Para as matérias que representam maior dificuldade de apreensão e retenção, deverá ser reservada uma carga horária maior. Para esses conteúdos, vale utilizar-se de todos aqueles recursos sugeridos para que haja um estudo proveitoso: concentração, disciplina, “uso e abuso” das memórias visual e auditiva (registro escrito das partes mais importantes, gráficos, repetição em voz alta das idéias-chave etc.) e persistência.
A planificação de estudo para as pessoas formadas e que trabalham precisa ser diferenciada daquela proposta ao candidato o qual só estuda. Seu plano, certamente, exigirá um alongamento no tempo: seis meses, um ano, dois anos… depende. Se, no entanto, o candidato fez desse ideal uma opção de vida, ele encontrará os meios necessários, bastando estar disposto a priorizar interesses, mesmo que suas escolhas pareçam “uma loucura” para muitos, pois será preciso sacrificar muitas horas de justo descanso. Avise a família e os amigos: “Estou mudando o ritmo de minha vida. Quero que me compreendam e me ajudem”. Se não informá-los sobre isso e alterar repentinamente o seu modo de vida, correrá o risco de ser tomado por louco.
Ninguém deve ser desestimulado a submeter-se a um concurso em razão da idade cronológica, exceto nos casos em que há impedimento legal. Assim como a idade não é garantia de saber, ela não indica também mais dificuldade. Se o candidato, durante a sua vida e formação específica, cultivou o bom hábito do estudo, da leitura; se, como profissional do Direito, cuidou para desembaraçar-se dos problemas os quais lhe chegaram às mãos, construindo a defesa de seu cliente embasado na lei e na doutrina, cremos que ele não terá dificuldade maior para sair-se bem num concurso público.
Partimos do pressuposto de que o graduando, ao escolher o seu curso, optou pelo campo de conhecimento o qual mais o atraía (de outro modo, terá cometido um erro e deverá corrigi-lo mudando de curso). O natural, portanto, é ele ter interesse em conhecer os conteúdos de todas as disciplinas. O que ocorre com freqüência – e é humanamente compreensível – é uma maior identificação com determinadas disciplinas. Gosto pessoal, carisma e competência do professor o qual ministra a matéria, enfim, uma série de fatores se conjugam, definindo, em sua vocação para a área do Direito, aquele recorte que pretende efetivamente aprofundar, desenvolver e investir em sua ação profissional. Mesmo se sua preferência, facilidade e natural inclinação o levarem para algumas disciplinas, aquelas mais importantes para a carreira pretendida, o graduando que fez uma escolha consciente de seu curso estará naturalmente atento às demais, porque sabe que se trata de um todo. Um todo do qual, mesmo que ele não o domine por inteiro, deverá ter uma visão do conjunto para sentir-se formado, de fato. Ora, o estudioso com esse comportamento durante o curso de graduação ou no curso preparatório para concursos terá reunido elementos muito úteis, habilitando-se para a inscrição em qualquer concurso. Basta, para obter sucesso, que se dedique dando o melhor de si e, humildemente, reconheça que há muito a aprender.
Ninguém cresce colecionando derrotas ou gosta delas. O meu conselho, por essa razão, é: não faça o primeiro concurso que aparecer. Prepare-se. Espere o seu “momento histórico”, aquele instante no qual, abrindo o caderno da prova, você encontrará a dissertação estudada, a pergunta anotada, o tema daquela aula empolgante. Não se iluda com aquelas frases duvidosas: “fiz o exame só para ver como é” ou “não faz mal, eu sabia que não ia passar”. O registro da derrota é sempre uma marca negativa no inconsciente. Se os insucessos, entretanto, já aconteceram, o que devem fazer os candidatos reprovados para superar a barreira do desânimo? Não desistir. Se você desiste é porque, na realidade, não desejou de fato aquela vitória. Desejar uma vitória não é ficar sonhando com ela. Desejá-la é visualizá-la à sua frente como algo plausível, acreditar em você, não esmorecer. Já tenho contado outras vezes – mas vale repetir – uma experiência vivida com um aluno de Rondônia: veio até a mim, no final de novembro de um determinado ano, para despedir-se e afirmou: “Fiz dois concursos este ano, Professor, e não passei. Estou voltando para casa. Vou desistir”. “Quero vê-lo novamente aqui em fevereiro do próximo ano. É uma ordem!”, eu disse. Voltou. No final de novembro daquele ano, falou novamente: “Professor, não deu. Fiz provas em três concursos e não passei. Estou desistindo”. “Não senhor! Prossiga. Quero vê-lo no próximo ano, em fevereiro, no começo das aulas”, insisti. “Em outubro” deste ano, procurou-me: “Professor, sou Juiz de Direito em Rondônia! Se não fosse a sua insistência, teria desistido no primeiro fracasso”.
Os candidatos mais rapidamente aprovados têm um perfil diferenciado. Nos que mais rápido obtêm sucesso, pode-se observar: autodisciplina, organização, hábito de leitura, curiosidade científica (tudo querem saber e não se contentam com explicações curtas e fragmentadas) e satisfação pessoal (independentemente do cansaço físico e dos sacrifícios os quais, muitas vezes, são impostos a eles). Além disso, freqüentam as bibliotecas e centros de estudos (principalmente quando não dispõem de uma biblioteca pessoal, familiar, e não podem ainda adquirir todos os livros indicados). O indivíduo que fez uma opção consciente em sua caminhada, via de regra, “está de bem com a vida”.
Quer ser aprovado no concurso? Faça, então, neste instante, uma opção de vida! A partir de agora, todos os dias são dias normais de estudo. Estabeleça dois planos, de vida e de estudo, conjugados num só. Planifique seus dias, semanas, meses. Coloque no papel as matérias já estudadas e aquelas que ainda precisa estudar. Não perca tempo. Dê maior carga horária de estudo às matérias menos conhecidas. Identifique as matérias fundamentais do concurso escolhido para concorrer e dê o máximo de si a elas. Não se descuide das demais disciplinas. O plano de estudo depende de sua disponibilidade: se você só estuda, o plano é um; outro plano haverá se você estuda e trabalha. O tempo ditará suas pretensões: para mais tempo, para menos tempo. Atente para o Português. Seja organizado e humilde. A humildade é própria dos sábios e dos vitoriosos.