SÃO PAULO – Emilio Surita, do Pânico na TV, disse que a Rede TV seria uma emissora “Daslu”: da Luciana Gimenez e da Luiza Mel. As duas apresentadoras, vips, conseguiriam tudo o que necessitavam para os seus programas. O Pânico, ao contrário, por seu um programa pobre, não teria camarim, cenário, nada.
Daslu, de qualquer forma, virou sinônimo de riqueza, poder e luxo. Muitos ricos e novos ricos sonham com a possibilidade de freqüentar a loja.
Dizem, num dos episódios que envolve marca desse luxuoso templo de consumo, que a esposa de um cantor sertanejo, desejando ali ser aceita e reconhecida como rica e detentora de dinheiro suficiente para fazer suas compras, teria gasto alguns milhares de reais só porque teria sido impedida de entrar no estabelecimento. Talvez por não aparentar riqueza, ou porque não dirigia um carro importado na ocasião, teria sido “barrada” na porta. Para se “vingar”, teria gasto uma alta quantia. Demonstração de poder que ajudou a “vitrine do poder”.
Há uma estória, que não sei se é verdade ou se é folclore, que diz que o nome Daslu se deve ao fato das proprietárias da loja terem em seus nomes a silaba “lu”; daí se dizer que a loja era “das Lu”.
Daslu teve um problema no país dos “Zés”. Nesta quarta-feira (13/7/05), por meio de uma operação da Policia e Receita Federais, a cidade de São Paulo parou para assistir a prisão de uma das proprietárias da empresa, e para o cumprimento de mandado judicial nas suas dependências, diante de uma suposta realização de crimes contra a ordem tributária, dentre outros.
Gostaria de lembrar que somos um pais de “Josés”. Para manter uma relação com a estória do nome da Daslu, o Brasil é, então, o “Dosés”.
Nosso país é uma espécie de magazine pobre (bem pior que o Mappin, lembra?): pouquíssimas prateleiras apresentam alguns artigos de luxo, cobiçados por muitos e conseguidos por poucos.
Paradoxalmente, a loja “Dosés” está num terreno muito rico e bem localizado. Infelizmente, esse terreno vem, de há muito, sendo rapinado. Parece, apenas para exemplificar, que chegaram a desmatar uma Bélgica na “Dosés” no último ano!
Esses e outros fatos mostram que os gerentes não são muito bons. Alem disso, tantos são os escândalos que a imagem da loja não é lá muito boa no mercado. Pior: alguns “Josés” protagonizam alguns desses escândalos. Um deles até foi pego com milhares de dólares na cueca (que não comprou na Daslu) e que é assessor de um político que é irmão de outro José.
Vivemos um período de “Daslu” versus “Dosés”. Há quem afirme que o período é propício para que os “Josés” se vinguem dos milionários, pois o governo estaria apoiando as iniciativas de operações como essa que ocorreu na Daslu.
Tiago Lethbridg, no portal da revista Exame, escreveu, nesta manhã, uma matéria sobre a operação que ocorreu na Daslu. Retoma com brilhantismo a discussão sobre o empresariado, o lucro, a ostentação do luxo que decorre do excesso de lucro, e a pobreza que assola o país. Dificilmente, a leitura dessa matéria deixa de convidar à reflexão sobre esses temas tão delicados e essenciais.
Curiosamente, ainda na presente semana, manuseava o livro A era do escândalo. No prefácio feito por conhecido publicitário (que segundo a mídia é marido de uma alta funcionaria ou sócia da Daslu), há uma reflexão sobre uma velha máxima que se relaciona de perto com a matéria de Tiago: “o sucesso no Brasil é uma ofensa pessoal”. Já tinha ouvido essa frase de Antonio Carlos Jobim, num especial sobre o compositor.
Os dois texto, lidos em conjunto, multiplicam as dúvidas de “Josés” como eu: será que os escândalos constituem problemas exclusivamente de sucessos mal compreendidos? A riqueza é sinônimo de sucesso? Com exceção de alguns ricos (perdoados antecipadamente pelas biografias que justificam suas riquezas), seria razoável supor que os que se enriquecem alcançam essa condição por meio de trapaças? Todos? E o trabalho? E aquelas frases que dizem de certos corruptos: “ele não rouba porque já é rico”? Estaria correta? Quando alguém defende o empreendedorismo, quando alguém defende a possibilidade de outrem enriquecer licitamente, o faz porque já está no caminho da riqueza, ou porque a riqueza o alcançará com certeza, ou porque quer ser rico e, antecipadamente, defende os ricos? Por que?
Tudo está temperado por um perigoso clima de “denuncismo”. Verdadeiras “teorias da conspiração” são criadas. A loja “Dosés” vive num clima tal, que no site do UOL alguém chegou a escrever que teria consultado a Policia Federal e teria obtido a informação de que não havia qualquer ligação com a Operação Narciso (o nome que se deu à operação na Daslu) com o fato da da filha do governador do Estado de São Paulo (PSDB) trabalhar na Daslu. Chegaram a pensar nisso. Chegaram a alimentar a fantasia de que poderia ser possível forjar uma operação policial e fazendária (mega-operação, segundo o UOL) apenas para incriminar um político da oposição e que talvez venha a ser candidato à presidência em 2006!
Tudo isso acontecendo e ele, Lula, em Paris. Lá, no ano do “Dosés na França”, muito perto das maisons que mandam produtos para a Daslu, fica a esperança de que consiga compreender a grandeza do que representou a “Queda da Bastilha” e que se lembre que o “Dosés” está na era “Dolu” (do Lula), e que seu governo fez muito pouco para mudar a situação, ampliando a sensação de distância entre “Daslu” e “Dosés”.
José Marcelo Vigliar
Última Instância Revista Jurídica