Quando a Vitória Não Vem…

Não faz muito tempo, tratei sobre o Valor da Conquista, desde a pequenina e cotidiana até a especial. Modificar a perspectiva sobre os acontecimentos poderá ser positivo para o balanço que fazemos ao final de cada dia.
Hoje, entretanto, dedico, para meditarmos sobre a desilusão da derrota e como lidar com uma situação tão desalentadora, mas que faz parte da rotina daqueles que vivenciam a advocacia pública ou privada.
Criar teses, estruturar discursos consistentes, desenvolver argumentos poderosos, enfrentar debates altercados, traçar estratégias envolventes são atribuições permanentes desses profissionais, que demandam esforço intenso e constante, e tempo longo e exaustivo, por isso, alimentam sonhos e desenvolvem muitas expectativas em si e em seus clientes.
Toda essa dedicação torna ainda mais difícil enfrentar a derrota angustiante, às vezes, revoltante e inexplicável, perpetuando, segundo nossa visão do mundo, o que entendemos por injustiça.
Mas isso não é tudo. E o cliente, dono legítimo da maior expectativa, sofredor confesso das mazelas do ato combatido e depositário fiel da confiança no Judiciário, da certeza de estar assistido pelo profissional mais qualificado, como receberá a notícia, como reagirá ao desconforto da derrota?
Se a esperança é a última que morre, como diz o dito popular, comunicar a derrota é assumir o papel de mensageiro da morte, é ser o coveiro da esperança. Porém, esse papel é missão profissional dolorosa, todavia, relevante e, diria, indelegável.
Se o caso ainda comportar novos recursos ou outras medidas, ressuscita-se a esperança, prorroga-se a expectativa já combalida pela notícia desagradável, e se lutará, com todo empenho, para buscar persuadir da necessidade de reversão da decisão desfavorável.
Quando a derrota for definitiva, a causa deve ficar para trás; o cliente, mesmo que abalado com o insucesso da empreitada, pode permanecer confiante no seu trabalho e utilizar seus serviços em outros casos ou não; seja como for, o que fica em nossa memória e coração é a frustração que nos acompanhará sempre.
Maior ou menor será a frustração a depender da confiança que depositávamos no direito que defendíamos e que foi derrotado, e igualmente maior ou menor será a indignação com o resultado que se sabe não poder mais ser combatido.
Assim, ficamos vencidos; às vezes, irrequietos e revoltados, outras vezes, desolados, prostrados e descrentes com o sistema.
Mas não somos advogados de um caso só. E os outros que nos aguardam e esperam de nossa atuação a sapiência dos mais experientes e a motivação e o ideal dos jovens? Precisamos prosseguir, reunir forças e elevar a moral, restaurar a abalada confiança no sistema. Não é tarefa simples, e nesse ponto, alguns poderão desistir da profissão.
Afinal, como não se contaminar pela revolta de uma derrota inexplicável, injusta e absurda? Como voltar a confiar no sistema? Não há resposta absoluta, não há fórmula padrão, não aprendemos essa lição na faculdade, só a vida será capaz de nos ensinar.
O que poderá contribuir para a restauração da disposição profissional e da credulidade na lei, no Direito, no juiz e no sistema, é deslocar-se em meditação do problema, observar as vitórias que já granjeou e que vem angariando em outros casos, as de seus colegas de profissão, a constante de notícias que denotam a sensibilidade do juiz e a distribuição da justiça, para, enfim, concluir que os juízes, como nós, são falíveis, o sistema não é perfeito, mas funciona muitas vezes, que os erros de uns e que podem estar apenas na nossa própria percepção, não contaminam nem generalizam a conduta de todos. Assim, não inviabilizará a Justiça em novos casos.
Contribui também para esse objetivo alimentar e rememorar o romantismo que conhecemos na academia, o idealismo e o entusiasmo dos tempos de faculdade que foram capazes de nos seduzir a optar pela advocacia. Procure, com freqüência, viajar pelas discussões acadêmicas, às vezes, lúdicas, históricas ou utópicas, mas sempre fontes inesgotáveis de amor à Ciência.
Desta forma, permaneceremos vivos no Direito, capazes de nos indignarmos com a injustiça e de reunir forças para lutar pelo seu restabelecimento, confiantes nas instituições e amando o Direito, deleitando-nos das vitórias e nos recompondo do abatimento das derrotas.
Não deixe a indiferença te dominar, nem a revolta entorpecer tuas palavras. Lute sempre com determinação e entusiasmo pela Justiça, mas saiba assimilar a derrota e renovar a disposição para novas porfias. E serás feliz na advocacia!

ASDRUBAL JÚNIOR é advogado, sócio da Asdrubal Júnior Advocacia e Consultoria S/C, pós-graduado em Direito Público pelo Icat/AEUDF, Mestre em Direito Privado pela UFPE, Professor Universitário, Presidente do IINAJUR, organizador do Novo Código Civil da Editora Debates, Coordenador do Curso de Direito da AEUDF, integrante da Bralaw – Aliança Brasil de Advogados.

Autor: Asdrubal Júnior

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