artigo – Márcio -195 – 29.03.2005 – Presidência Vacilante

O presidente Lula, antes de assumir sua cadeira no Palácio do Planalto, era considerado um bom articulador, responsável por costurar difíceis e intrincadas alianças políticas. Porém, tudo indica que esta qualidade se perdeu no momento em que se tornou um homem de situação, ou seja, no dia em que assumiu a Presidência da República. Na arena política, sua administração tem sido marcada por erros primários de avaliação, ausência de estratégia e articulação, brigas de egos, discussões internas intermináveis e o mais importante: falta de uma liderança segura, capaz de pacificar sua base e assumir o ônus que o cargo traz consigo.

Os casos que evidenciam a falta de articulação política do governo são os mais variados e não cabe aqui relatá-los, uma vez que a opinião pública está ciente pelos jornais de todas as intempéries políticas sofridas pelo governo Lula. Falta ao Planalto um direcionamento claro de suas políticas e uma definição cristalina quanto as atribuições de cada membro do grupo palaciano e de seu gabinete na Esplanada dos Ministérios. Entendam o que digo, discordando ou concordando com as posições do Planalto, é preciso dar rumo ao governo, que atualmente, com todo respeito, mais parece uma nau à deriva sem comando definido.

Primeiro o Presidente precisa assumir o ônus do cargo que ocupa. É sua função demitir ministros, além de nomeá-los. Infelizmente para realizar as correções de rumo é necessário cortar na própria carne, dispensando membros de sua equipe e extinguindo pastas que servem somente para a alocação de companheiros. É preciso diagnosticar quais Ministérios estão com funções sobrepostas e fundi-los, assim como é imperativo mapear os ministros que não conseguiram investir os recursos disponíveis em sua pasta e dispensá-los. A administração pública precisa de eficiência no trato com o dinheiro que é arrecadado do povo por intermédio dos tributos. É preciso verificar também os ministérios que possuem políticas opostas, pois um obsta o trabalho do outro, gerando uma paralisa na administração federal. Todos os casos listados acima existem na Esplanada de Lula, portanto, uma reforma na equipe e também nas pastas deve ser feita de forma urgente. Para esta avaliação é preciso de um gerente na Esplanada, nome que não deve ser o mesmo da articulação política. Estes nomes devem trabalhar afinados, em sintonia, ao invés de disputar poder.

O Presidente precisa cuidar da sua base de apoio no Congresso Nacional por intermédio do seu articulador político. Reuniões periódicas entre líderes dos partidos da base e liderança do Governo sempre ajudam na composição de uma agenda de prioridades da coalizão. Desta forma, os líderes podem cobrar uma posição coerente de suas bancadas. A simples nomeação de indicados pelos partidos da base não tem garantido apoio, pois tem sido realizada de forma pouco eficaz. Falta coesão no governo e comando na articulação política. Este conflito precisa cessar e somente pode ser resolvido pelo Presidente, que precisa atuar de forma rápida e eficaz.

Por fim, mas não menos importante, resta a pacificação do PT. O erro mais grave do Planalto até o momento foi a tentativa de imposição de um nome de sua preferência, contrariando a base, para concorrer a Presidência da Câmara dos Deputados. A falta de sensibilidade política rachou o principal partido do governo e entregou a escolha do novo Presidente da Câmara nas mãos da oposição. Um erro primário que ainda custará muito caro ao Planalto.

Portanto, se o Presidente Lula busca simplesmente a reeleição, o rumo está correto. A política vai mal, os programas do governo não deslancham, os ministérios têm sobreposição de competências e os gastos aumentaram, contudo, a economia vai bem. Assim, a popularidade de Lula continua alta suficiente para garantir sua vitória. Somente um caso muito grave pode abalar sua candidatura para um segundo termo, e apesar do amadorismo político mostrado até agora, esta possibilidade ainda é remota. Entretanto, se o Presidente almeja mais do que poder, ou seja, se vislumbra um projeto de País, sua equipe precisa ser reformada, sua Esplanada precisa ser enxugada e mais do que qualquer um destes fatos, precisamos de um Presidente que saiba exercer uma liderança política firme, decidida e estável dentro do governo. Presidente, não há mais espaço para movimentos vacilantes, é hora de liderar ou se retirar.

Artigo redigido em 29.03.2005
Em Brasília, DF.

* Márcio Chalegre Coimbra, é advogado, sócio da Governale – Relações Governamentais (www.governale.com.br). Habilitado em Direito Mercantil pela Unisinos. Professor de Direito Constitucional e Internacional do UniCEUB – Centro Universitário de Brasília. PIL pela Harvard Law School. MBA em Direito Econômico pela Fundação Getúlio Vargas. Especialista em Direito Internacional pela UFRGS. PhD em Direito Internacional pela Universidade de Winsconsin.
Conselheiro do Instituto Liberdade. Vice-Presidente do Conil-Conselho Nacional dos Institutos Liberais pelo Distrito Federal. Sócio do IEE – Instituto de Estudos Empresariais. É editor do site Parlata (www.parlata.com.br) e articulista semanal dos sites www.diegocasagrande.com.br e www.direito.com.br.
Possui artigos e entrevistas publicadas em diversos sites nacionais e estrangeiros (www.urgente24.tv e www.hacer.org) e jornais brasileiros como Jornal do Brasil, Gazeta Mercantil, Zero Hora, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, O Estado do Maranhão, Diário Catarinense, Gazeta do Paraná, O Tempo (MG), Hoje em Dia, Jornal do Tocantins, Correio da Paraíba e A Gazeta do Acre. É autor do livro “A Recuperação da Empresa: Regimes Jurídicos brasileiro e norte-americano”, Ed. Síntese – IOB Thomson (www.sintese.com).

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Autor: Por Márcio C. Coimbra

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