Erro, pecado ou crime

Os últimos acontecimentos na política brasileira fizeram com que os militantes do Partido dos Trabalhadores tivessem uma postura interessante do ponto de vista de sua autodefesa, pois, de uma forma geral utilizam duas palavras com muita frequência, quando se referem à crise política atual: “erro e pecado”.

Relembrando as declarações petistas em crises semelhantes à atual, porém em governos de outros partidos, vejo que utilizavam mais a palavra “crime”. Exemplo: “É um crime o que estão fazendo com o povo brasileiro”.

Tentei entender a razão dessa lógica das palavras usadas.

A bíblia diz que pecado “é entregar-se a práticas duvidosas” (Romanos 14:23), porém, o pecador, reconhecendo seu pecado e tendo pedido perdão a Deus, poderia se livrar de tal mal, aí começa o que chamamos de penitência. Como ex-aluno salesiano, já rezei vários Pai-Nossos e Ave-Marias, pelas travessuras da adolescência e tenho a convicção até hoje, se houve algum pecado, foram perdoados pela minha penitência.

A Igreja, de uma forma geral, deu-nos o conceito de pecador, pecado e penitência, isso faz com que possamos pecar, arrepender-nos e pedir perdão, e nos “livrarmos do mal cometido”.

Sempre pensei que se Moisés voltasse a reescrever os Mandamentos, deveria reduzir a 03 somente: não matarás, não roubarás e não mentirás.

Alguém poderia dizer, e o mandamento “amaras o próximo como a ti mesmo”? Meus amigos, se eu não mato, não roubo e não minto que amor maior eu tenho para com o meu próximo?

Porém, caso houvesse uma infração a um desses mandamentos, não haveria somente a penitência; deveríamos ter algo mais severo, talvez não como a santa inquisição na península Ibérica, onde os acusados sofriam tortura e ainda eram obrigados pela Igreja a pagar durante os processos, que, às vezes, se arrastaram por anos, pela prisão e alimentação proporcionada pelos inquisidores.

Quanto à palavra “errar”, vem logo o ditado “errar é humano”. Peço desculpas e pronto, estou perdoado dos meus erros, como a nota publicada pela executiva nacional: “o Partido dos Trabalhadores, com esta resolução, faz o seu primeiro pedido de desculpas à Nação, pois os atos que nos comprometem, moral e politicamente perante os brasileiros, foram cometidos por dirigentes do PT, sem o conhecimento de suas instâncias”. Ou poderiam afirmar que “errando que se aprende”, mais um ditado que tem características pedagógicas, mas extremamente perigoso para quem fez 25 anos de existência e é o partido do Presidente da República. Ouvi de um candidato à presidência nacional do PT, que toda essa crise advém do sistema político atual. Nada mais simplório, pois justificaria os erros cometidos por uma legislação eleitoral.

Mas o que vem acontecendo além de erros e pecados, como dizem os petistas, certamente deve haver, um crime, pois esses são cometidos se os benefícios esperados superarem os benefícios esperados na atividade legítima, como disse o ganhador do Prêmio Nobel, Sr. Gary Becker.

Deste possível crime cometido, se eleitoral ou não, os indiciados devem ser julgados com a devida e esperada isenção, de acordo com a lei, não segundo os preconceitos do grupamento político a que pertencem.

Os partidos adversários não podem colocar em prática a máxima: “aos inimigos, a lei”.

O erro estrutural de um prédio, como aconteceu com o Edifício Palace, do Rio de Janeiro, fez com que o construtor fosse condenado a indenizar monetariamente os ex-proprietários e poderia neste gesto ser considerado como um castigo do seu erro, porém cometeu também um crime, pois causou a morte de dezenas de pessoas e sofrimentos incalculáveis aos sobreviventes, e, neste ponto, foi condenado, o ex-deputado, à pena de prisão.

Porém o crime cometido poderá nos fazer refletir sobre a iniquidade da Justiça em nosso Brasil, onde o ladrão de galinha é condenado sumariamente a uma pena carcerária em penitenciárias abarrotadas e mal-administradas, verdadeiras escolas de crime. Por outro lado, aqueles que lesam ou dilapidam o patrimônio público estão em liberdade, têm acesso a recursos financeiros protegidos e circulam em plena liberdade e com desenvoltura.

Nesse momento de indignação, fico perplexo em pensar na introdução da pena de morte no país, qualquer que fosse o brutal crime cometido. Onde vigora a pena de morte, não conseguiu diminuir a violência, os homicídios e o número de crimes contra as pessoas, na maioria das vezes cometidos por indivíduos mentalmente perturbados e desequilibrados. Mas confesso que, em alguns casos, certos crimes exigiriam uma postura mais dura por parte do poder judiciário e da própria sociedade, porém a pena de morte não resolveria os dilemas da sociedade e poderá nos fazer retroceder à arbitrariedade dos tempos medievais.

Mas, está na hora de nossos poderes se debruçarem seriamente sobre uma reforma das leis para adequar melhor o castigo ao crime e, assim, estaríamos um pouco aliviados para poder somente perdoar os erros e pecados cometidos pelos políticos corruptos.

Antonio Perez
Médico e professor da UFMS

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