“São realmente lamentáveis as desculpas e atitudes dos petistas, que deixam transparecer que o partido perdeu o juízo e a decência…”
Um dia, no aeroporto de São Paulo, enquanto esperava meu embarque, apareceu um homem acompanhado de um jovem que carregava uma maleta. Ao chegarem próximo a mim, o rapaz que carregava a maleta passou-a ao homem mais velho e este colocou-a sobre o balcão, abriu e depois fechou. Neste ato, olhou à sua volta e percebeu que eu observava seus movimentos. Sorriu, um pouco sem-graça, cumprimentou com um balançar de cabeça e despediu-se, encaminhando-se ao portão de embarque internacional.
Se soubesse como seria o futuro, ou se o fato ocorresse hoje, diria que o deputado José Dirceu abriu uma maleta, à minha frente, cheia de dólares, que na certa pretendia levar para o exterior. A memória da época falha um pouco, mas creio que posso ter visto na maleta dinheiro, mas também poderia ser uma revista para a leitura de viagem ou qualquer outro recorte colorido. Não posso afirmar o que tinha na maleta de Zé Dirceu, a não ser o fato curioso de seu assessor ter carregado a maleta até o portão de embarque.
Isto ocorreu em 1998, após as eleições em que Zé Dirceu, candidato a governador por São Paulo, perdeu para Mário Covas. E as águas rolaram, e a vida mudou. No ano passado foi denunciado que assessor de Zé Dirceu – agora ministro – andava pedindo “dinheiro não contabilizado” para bicheiros e homens suspeitos no mundo do crime. O pedido de “propina” foi filmado e divulgado em rede nacional, porém, o PT deu de ombros, transferindo a responsabilidade para o casal Garotinho, alegando que o dinheiro foi entregue para pagamento de dívidas de campanha.
O fato rendeu boas páginas de jornal e esforço sobre-humano do Governo para impedir a abertura de CPI para apurar as denúncias. Engavetada a CPI pelo senador Sarney – agora aliado incondicional do PT – o caso parou no Supremo, cujo julgamento, meses atrás, autorizou a instalação da “CPI dos Bingos”.
A CPI foi instalada no burburinho de outras CPIs, todas elas apurando um único fato: a corrupção do Governo Lula. Todos os dias são noticiados inúmeros indícios, cifras de “dinheiro não contabilizado”, suspeitas de corrupção e até de homicídio originários do escândalo e apontados como de responsabilidade do PT. No entanto, a cúpula petista – e aqui excluo os militantes de bom senso – insiste em afirmar que nada está ocorrendo.
Semana passada, a nova executiva nacional do PT se reuniu e expulsou o ex-tesoureiro Delúbio Soares. A acusação imputada era “gestão temerária” das contas do partido. Ao ser questionado quanto à punição de outros membros da executiva, entre eles Genoino, Zé Dirceu e Silvio Pereira, o diretório nacional foi taxativo, soltando nota à imprensa na qual afirma que “a crise acabou” e que somente Delúbio é o culpado por tudo.
No rastro da pólvora, aparecem na imprensa acusações de que o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo, recebeu cheque de 500 mil reais de Marcos Valério e imediatamente os petistas passam a acusar a oposição de corrupta, e, por outro lado, inocenta os “companheiros” petistas. A desfaçatez chega ao cúmulo de representarem o deputado gaúcho Ônix Lorenzoni, por ter declarado que Zé Dirceu sonegou dados em sua declaração de imposto de renda – aqui pretendem os rigores da lei, para aquele que, segundo alegam, violou o sigilo tributário, mas não representam Zé Dirceu ao Ministério Público por crime de sonegação.
E as barbaridades não terminam por aí, sendo que, após ter indeferida ordem de Mandado de Segurança para sustar o processo de cassação na Câmara dos Deputados, o deputado Zé Dirceu alega que respeita a decisão do Supremo, mas, cinco dias após, ingressa com pedido semelhante no mesmo Tribunal. Para desmoralizar a decisão anterior, Zé Dirceu tece críticas ásperas contra os membros do Tribunal e jura inocência.
São realmente lamentáveis as desculpas e atitudes dos petistas, que deixam transparecer que o partido, em seu todo, perdeu o juízo e a decência, passando inclusive a usar de expedientes protelatórios em processo de cassação, que tem atrapalhado a pauta do Congresso. A atitude é asquerosa e causa indignação na sociedade que, aborrecida, passa a acreditar que não existe mais petista inocente.
Sergio Maidana
Advogado (sergiomaidana@ig.com.br)