Vai começar a temporada de caça às bruxas da telefonia

por Claudio Julio Tognolli

A maior historieta desta semana é a coluna de Diogo Mainardi, na revista Veja, em que ele conta quem será o novo alvo a ser metralhado no país

O maior portento jornalístico da semana é criptografado. Parece-se muito com aquelas letras das músicas do Chico Buarque: diziam uma coisa quando queriam dizer outra. O maior furo jornalístico da semana, também, é curto. Apareceu naqueles moldes a que os franceses chamavam de roman à clef, os romances urdidos com nomes trocados. A maior historieta desta semana é a coluna de Diogo Mainardi, na revista Veja, em que ele, fazendo uso de todos esses artifícios, conta (com quatro entrelinhas a cada linha que se lê) quem será o novo alvo a ser metralhado no país: trata-se de um senador que lida com telefonia e que teria feito uso de doleiros (supostamente ligados aos mesmos doleiros de Paulo Maluf) para fazer suas “movimentaçõezinhas”.

Tais doleiros não teriam ido depor nas CPIs porque esse senador muitos favores econômicos teria feito à campanha de Lula. Nesse sentido, Paulo Salim Maluf e seu calvário público teriam servido de bucha de canhão para afastar o cálice da punição judicial de outros nefelibatas da doleiragem ou corifeus do toma-lá-dá-cá tão requerido pelo mundo neoliberal do lulismo.

O que está escrito nas entrelinhas de Diogo Mainardi ocupou e mesmo estragou todo o feriado de muita gente em Brasília. Afinal, teme-se que outro bote esteja sendo armado contra alguém da telefonia. Da mesma forma que a PF armou o bote contra Daniel Dantas, do Banco Opportunity, quando ele contratou a Kroll para checar se o governo petista andava ou não metendo a mão na massa da telefonia.

Para entender a gravidade das entrelinhas de Mainardi: a venda das Teles no Brasil foi o maior processo de privatização realizado no mundo, num montante de R$ 85 bilhões, desde o governo Collor até os dias que correm. Grampos feitos sob o governo FHC mostraram que o tucanato agia via intervenção do Fundo de Pensão dos funcionários do Banco do Brasil e da concessão de aval (carta de fiança) por parte do BB para que os consórcios pudessem montar a engenharia financeira para compra das Teles.

O ex-presidente FHC participou diretamente da operação destinada a favorecer o consórcio liderado pelo Banco Opportunity no leilão da Telebrás, realizado em julho de 98. Isso surgiu pela Folha de S.Paulo, com a divulgação de 46 fitas com gravações de conversas telefônicas entre membros do alto escalão do governo, incluindo o presidente da República.

FHC, revelavam as fitas, autorizou a utilização do seu nome para pressionar o Fundo de Pensão do Banco do Brasil – Previ – a aderir ao consórcio comandado pelo Opportunity e pela empresa italiana Stet, tentando facilitar a vitória deste grupo no leilão da Tele Norte Leste. A divulgação das primeiras fitas levou à queda de Mendonça de Barros e Lara Resende. O Opportunity, de Daniel Dantas, teve entre seus sócios fundadores o ex-presidente do BNDES e ex-diretor do Banco Central, Pérsio Arida, e sua mulher, a economista Elena Landau, que, antes de ir para o Opportunity, coordenou, como funcionária do BNDES, todo o esquema de privatização do setor de telefonia.

Com todos os erros que Daniel Dantas cometeu, incluindo sobretudo ter mandado arapongas privados grampearem a torto e a direito por aí, foi o governo quem o afundou na briga por esses bilhões a envolver Previ/Telefonia. Ou seja: um empresário foi escolhido a dedo.

O que a coluna de Mainardi revela, em suas tantas e tamanhas entrelinhas, é que a máquina de fazer alvos nessa briga escolheu um novo foco de mira: ao que tudo indica, é o senador apontado nas entrelinhas da coluna de “Veja”. Ou ainda por outra: um novo Daniel Dantas está surgindo por aí, uma nova operação Chacal (aquela que a PF deflagrou contra a Kroll) pode estar sendo urdida contra esse novo inimigo potencial.

São essas mal traçadas que explicam por que muito político não conseguiu pregar o olho pruma “siesta” na tarde fria e calculista que foi a quarta-feira de Finados em Brasília. Nosso halloween ainda não começou: será uma caça às bruxas da telefonia, numa guerra em que levaremos anos para saber quem tinha ou não tinha razão.

Revista Consultor Jurídico

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