Custa caro ser brasileiro

“Vivemos em um regime de ditadura tributária, mais nefasta que a ditadura política. Saíram os militares e chegaram os delegados da receita”

Andando por outros lugares em que o progresso caminha a passos largos, voltei preocupado. Custa caro ser brasileiro. Estamos há muito tempo na contramão, há muito tempo mesmo, desde a década de 70. Lembro-me que na década de 70, a palavra de ordem da esquerda era “Fora FMI”, “Abaixo os juros e o capital especulativo”.

Naqueles tempos eu era presidente do Daclobe, diretório acadêmico da Faculdade de Direito da FUCMT. Não tínhamos vinculação com as esquerdas estudantis, porém, sempre participávamos juntos para o debate de temas e lutas nacionais.

A ganância do capital especulativo, as altas taxas de juros eram o entrave do nosso desenvolvimento, segundo os líderes da esquerda. Passaram-se 30 anos, caiu a ditadura, os militares afastaram-se do poder, caiu o muro de Berlim, dissolveram o bloco comunista, os homens de esquerda que agitavam as ruas contra a selvageria do capital chegaram ao poder, tudo mudou, somente e tão somente os juros continuam o mesmo em nosso País, ou melhor, nunca estiveram tão altos.

O Estado brasileiro privatizou as grandes empresas, deixou de ser produtor e passou a cuidar unicamente de arrecadar, continua sendo sócio majoritário de tudo que se produz neste País. É sócio em 50% de tudo, via tributo, sem assumir riscos nem oferecer nada, absolutamente nada, em troca.

Vivemos em um regime de ditadura tributária, mais nefasta que a ditadura política. Saíram os militares e em seus lugares chegaram os delegados da receita, fiscais do Estado e do município. Estes senhores que, no cumprimento de seus ofícios, ocuparam o espaço na mídia, que antes era tomado pela produção e pelo trabalho, transformaram “o País do futuro’” numa grande delegacia, e, por mais que se pague imposto, o Estado não oferece nada. Saúde é no plano particular, segurança é particular, faculdade é particular – o Estado basicamente não oferece nada além de impostos.

Chegamos ao ponto em que um pecuarista com três mil vacas tem dificuldades para pagar uma faculdade particular para seu filho. Notem: estamos falando daqueles que são considerados para a esquerda os símbolos de riqueza deste País!

Os noticiários alardeiam diariamente sobre os recordes de arrecadação e exportação. A riqueza do Brasil está em contraste com a pobreza da nação e dos produtores. Chegamos ao fundo do poço. E quando se chega ao fim, tem-se a oportunidade para recomeçar. Demoraram muito tempo e custaram muito caro para nós estes anos de patinação. Temos uma nova oportunidade de mudar a direção do barco. Desta vez, vou seguir as palavras de ordem da turma de esquerda da faculdade. O meu candidato vai ser aquele que se propuser a peitar os banqueiros, baixar os juros e a carga tributária. Não vou olhar sua ideologia, pois, depois que chegam lá, são Governo.

O meu foco de avaliação serão os juros, porque a Rússia peitou o sistema financeiro e cresceu 7% ao ano. A Argentina rompeu com o FMI e cresceu 9% e nós, que fizemos o dever de casa, seguimos as regras, pagamos contas antecipadas, e crescemos meros 2%.

Estamos globalizados na economia e não na política. Apesar desta constatação, sou otimista, acredito no potencial da nossa juventude, acho que somente as novas gerações quando chegarem ao poder mudarão esta política que nos sufoca. Basta analisar a atitude dos jovens procuradores, promotores, juízes. Só que isso não basta, temos que ter mais atitudes e participarmos mais de nossas classes organizadas.

Chico Maia
Advogado e empresário

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