O Governo Lula pertence aos pobres. São eles que garantem os bons índices de popularidade presidencial. Paradoxalmente, são os pobres que mais pagam tributos no Brasil. Eles dão mais do que recebem. Só que não percebem o grande engodo que lhes é literalmente imposto. Ainda assim, preferem declarar voto em Lula.
Burrice? Não. Isso tem outro nome: desinformação. No fundo, muitos sabem que as pesquisas que garantem índices preferenciais a Lula expressam os problemas da falta de investimento em educação por décadas a fio.
Esse contingente populacional se caracteriza psicologicamente por aguda percepção de imagens imediatas acoplada com imensa dificuldade de análise de contexto.
Esse é o verdadeiro problema da pobreza. Nem se trata de renda, ou de classe social, e sim de padrão mental, que durante anos submeteu-se a um processo educacional extremamente deficiente. O sujeito pode até ter dinheiro, mas vive num padrão de alheamento da realidade, tendo muitas dificuldades para compreender as contradições em seu entorno.
Suas leituras do mundo não são comparativas nem dialéticas. Tudo é pensamento binário: aquilo que não for preto, é branco; se algo não for bom deve ser automaticamente mau. Não há contexto. Em vez de olhar para as coisas procurando primeiro compreender, tudo é julgado por meio de critérios dogmáticos. Ou seja: a pobreza é um fenômeno totalizante e regressivo.
Para mudar isso, seria preciso que Brasil dobrasse em poucos anos o orçamento do setor educacional. Se o Governo fosse sério aumentaria estratosfericamente as verbas para todos os níveis de ensino. Mas se um sujeito como Lula fizesse isso, estaria dando um tiro no próprio pé. Mudar o patamar educacional não faz parte do projeto do coronelismo populista que ele representa.
O caso da carga tributária crescente é emblemática para se ter um entendimento razoável acerca das dificuldades dos pobres. O noticiário repete exaustivamente que o brasileiro trabalha quase metade do ano de graça para os Governos. De tudo que vem sendo produzido, 40% vai para os cofres do Estado.
Há um fato, porém, que precisa ficar cada vez mais claro: nossa carga tributária não é só elevada, ela também é assustadoramente mal distribuída.
Engana-se quem pensa que quem ganha mais paga mais tributos. Nada disso. No Brasil essa lógica é transversa: aqui paga mais impostos quem pode menos. Os dados recentes da Fipe/Usp são eloquentes: para os que recebem até dois salários mínimos, a carga vai a 49% da renda, enquanto que os que ganham acima de 30 mínimos arcam com carga de 26%.
Claro que isso é um serviço sujo que os burocratas fazem com o povo desinformado. Taxa-se mais pesado na exata e inversa medida da renda. Resultado: o Governo enche suas burras com dinheiro da população de baixa renda e depois distribui migalhas como se fosse dádiva dos céus.
Os impostos indiretos, cobrados de forma uniforme de ricos e pobres, no consumo de produtos, respondem por 90% da carga tributária dos mais pobres e por menos de 60% do que é pago em impostos pelos mais ricos. Há uma completa inversão de valores.
Mas não foi o Lula que inventou isso. Justiça seja feita. Mas ele não mexeu uma palha para alterar esta realidade.
Essa é a essência da questão demagógica que o embala. Lula diz que defende os pobres. Lorota. Sua retórica não resiste a uma análise mesmo que desinteressada do mundo real. Nada está mudando. Os governos continuam defendendo os interesses das classes médias altas e das grandes finanças internacionais.
É incrível: a base do eleitorado petrificou-se. Os formadores de opinião estão enojados e perderam a capacidade de pensar, atarantados em meio à sua própria perplexidade.
Só que os votos para que tudo permaneça inalterado também continuam sendo daqueles que acreditam nas promessas do reino dos céus. Elas, certamente, não virão. Mas quem se dispõe a fazê-los mudar de idéia?
Dante Filho, jornalista, Editor de Opinião do Correio do Estado