Brasil e Bolívia

O Brasil depende umbilicalmente do gás natural boliviano para dar sustentação a parcela importante de sua economia. A Bolívia, por sua vez, depende estruturalmente do mercado brasileiro para sobreviver nas precárias condições atuais.

Na contabilidade geral, os números que marcam as relações bilaterais entre os dois países não autorizam radicalização nem atitudes malucas.

Dificilmente haverá rupturas drásticas em função dos últimos acontecimentos, marcados pela edição da nova Lei de Hidrocarbonetos. A única certeza que se tem até o momento é de que a Bolívia resolveu acertar o relógio da história retroativamente, voltando à década de 50.

Chegará o momento, contudo, em que um mínimo de racionalidade deverá prevalecer sobre as decisões do presidente Evo Morales, mesmo porque ele ainda não deu prova definitiva de que gosta de queimar dinheiro e atear fogo ao próprio corpo.

A nacionalização das reservas de petróleo e gás do País é uma medida política que visa, em primeiro lugar, atender as aspirações do público interno. Morales está olhando as próximas eleições da Assembléia Nacional Constituinte que acontecerá ainda este ano. Se conseguir uma vitória esmagadora, certamente imporá sua agenda por muitos e muitos anos. Esse será o problema, vista sua evidente vocação ditatorial.

A Bolívia é um dos lugares mais miseráveis do planeta. Tem o 108º PIB do mundo. Com 8,5 milhões de habitantes, mais da metade (64%) vive abaixo da linha da pobreza.

Sua agricultura é incipiente, sua indústria está baseada em petróleo e minério, cuja produção representa 35% do PIB. O grosso da economia ( 52%) lastreia-se em comércio e serviços.

Nessa área, os bolivianos dependem em cerca de 40% do Brasil, 15% dos Estados Unidos , 17% da Argentina, 10% do Chile e, em escala reduzida, do Peru, da Colômbia e do Japão.

Em contrapartida, a Bolívia tem a segunda maior reserva de gás da América Latina, só atrás da Venezuela. O valor desses recursos, 100 bilhões de dólares, corresponde a 12 vezes o seu atual PIB, sendo que 18% dessas reservas estão sob controle brasileiro. A Petrobras era a maior multinacional no setor de gás e também controlava 20% dos postos de gasolina do país.

Como se pode observar, tanto o Brasil como a Bolívia estão atados por interesses altamente complexos. O espaço que sobra para discutir é o da bravata e o das ameaças lado a lado.

Morales é um populista e Lula, por enquanto, está fazendo o papel de ingênuo ao ter acreditado que o cocalero era seu “irmão mais novo”.

Tudo firula. Morales está alinhadíssimo com Hugo Chávez e Fidel Castro. Os três juntos têm imensa capacidade de fazer imenso estrago.

Lula deve começar a colocar as barbas de molho. Esse pessoal não está brincando. Para eles só pode ser considerado aliado estratégico aqueles que cumprirem a cota semanal de insultos ao presidente americano George Bush – coisa que Lula não está fazendo.

Para aqueles que imaginavam que depois da queda do muro de Berlim havíamos finalmente chegado ao “fim da história”, o recado do triunvirato do barulho é mais do que claro: na América Latina estamos apenas começando a trafegar em alta velocidade na contramão, com a luz apagada e o pé atolado. Salve-se quem puder.

Dante Filho, jornalista e Editor de Opinião do Correio do Estado

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