Na minha insignificância

Passei na casa do Sidney “Belô” para pegar uns livros, e conversamos um pouco. Voltamos aos mesmos assuntos das últimas décadas e o “papo política” surge naturalmente.

Para Belô, o Lula está a um passo de novo mandato e ninguém tira sua liderança. Também pudera, petista “cabeça feita” cujo alicerce ideológico nasceu nas fábricas das Minas Gerais, não poderia pensar diferente.

Relembrei em breve busca na memória o nosso encontro costumeiro nos dias de eleição, quando deixava umas cervejas gelando em casa e escutávamos o rádio ou víamos a TV, acompanhando o resultado. Agora perdeu a graça, é muito rápido, basta ligar um computador.

Mas a conversa sobre política pela primeira vez me deixou desanimado, especialmente pelos indicadores da pesquisas que teimo em não aceitar.

Belô, ao contrário, em sua visão, acredita que o eleitorado já se deu por satisfeito com a punição aos “culpados” da crise e tende a absolver Lula de qualquer culpa, mesmo que seja a omissão.

Não sei! Parei para pensar e realmente fica uma eterna dúvida se isto é verdade. Talvez as urnas falem diferente. Mas e se não falarem?

E a conversa foi ficando sem emoção. Minhas lembranças do tempo em que fazíamos campanha nas ruas e pedíamos para o “Brasil avançar”, visitando os quatro cantos de Campo Grande e vendendo sonhos para os trabalhadores… Parece que foi tempo perdido.

Olho para trás e vejo que muitos que diziam honestos hoje se encontram respondendo a processos por improbidade administrativa e outros abusam da ostentação, demonstrando que “não estão nem aí”. E me pergunto: “Valeu a pena?”. O poeta português diz que tudo vale a pena se a alma não é pequena. Talvez eu tenha a alma pequena, ou, como disse Severino Cavalcanti para o Gabeira: devo me recolher a minha insignificância?

No Congresso aparecem para depor em CPI pessoas suspeitas de “meter a mão” no nosso dinheiro e, quando não conseguem Habeas Corpus para ficar caladas e zombar dos “otários” contribuintes, dizem que aparentam estarem dopados, embriagados ou “emaconhados”. Que país é este? Após as inquirições, encontramos parlamentares defendendo os picaretas e dizendo que a função do Congresso não é essa. Qual seria então, cara-pálida?

Se o Congresso não servir para fiscalizar, onde estaria a democracia?

E aparece outro escândalo divulgando que as emendas no orçamento são adicionadas para saquear os cofres públicos, o que foi chamado de “operação Sanguessuga” – que nome sugestivo, não?

No começo eram 170 acusados, depois a lista diminuiu e acabou em 17. Na certa, como no caso do “Mensalão”, só uns dois ou três serão punidos. No final da tarde tomarão cafezinho dando gargalhada dos “otários” que, como eu, acreditam na seriedade dos políticos.

E depois eles aparecem à frente de nossa porta, nos chamam de amigo e dizem que se comportam de forma diferente, que não aceitam propina, “jeton”, mala-preta ou empregam parentes. E tudo está perfeito e resolvido e você não tem direito a pensar.

Talvez Belô tenha razão, ou talvez os políticos estão andando no fio da navalha e ainda não perceberam. O caso do plebiscito do desarmamento foi uma lição e poucos estudaram as suas entrelinhas. Ainda resta um pouco de esperança: que o sonho da democracia não termine em desilusão.

Sergio Maidana, advogado (sergiomaidana@ig.com.br)

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