Dias melhores virão

Fiquei sabendo há poucos dias, do próprio protagonista, de uma história que me deixou muito orgulhoso de ser um advogado sul-mato-grossense.

Embora à época em que os fatos se passaram eu fosse acadêmico do curso de Direito da então FUCMAT (Faculdades Unidas Católicas de Mato Grosso), hoje UCDB (Universidade Católica Dom Bosco), confesso que já não me lembrava – como muitos não devem se lembrar e outros tantos não devem saber – que, em 1978, nós, os advogados de Mato Grosso do Sul, desafiamos abertamente a ditadura, elegendo para ser o primeiro presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, no recém-criado Estado-membro, um advogado cujos direitos políticos haviam sido cassados pelos militares!

A cassação se dera pelo período de dez anos, por força de ato ditatorial datado de 10 de fevereiro de 1969.

O eleito foi Wilson Barbosa Martins, que depois veio a ser senador e governador deste Estado, contando hoje com 89 anos de idade e dono de uma lucidez impressionante, capaz de permitir-lhe narrar em detalhes esta e outras histórias por ele vividas.

Atitudes intimoratas como essa, somadas a tantas outras praticadas em todo o País, acabaram por derrubar o regime militar. É bem verdade que a OAB, no plano institucional, ofereceu-se desde o primeiro instante como verdadeira trincheira de resistência, investindo o quanto pôde contra o Estado de exceção, inscrevendo-se a eleição de Wilson Barbosa Martins no rol dos ataques lançados pela entidade.

A lembrança do episódio vem a propósito de dois fatos que a mídia vem destacando ultimamente, quais sejam: o envolvimento de advogados com o crime organizado e a suposta incapacidade de o brasileiro indignar-se ou mostrar-se indignado com os sucessivos escândalos de corrupção.

Se há advogados que cometem crimes, é certo que assim agem não porque se formaram numa faculdade de Direito, mas porque têm falhas de caráter; fossem eles diplomados em outros cursos, exercessem eles outras profissões decerto que também prevaricariam. E, além do mais, são tão poucos os que maculam a beca que suas faltas não atingem a majestade da profissão, tão dignamente exercida por tantos. Estes, além de bons profissionais, têm consciência de seu papel de defensor do Estado democrático de Direito, como bem demonstraram na eleição de 1978.

Em relação ao segundo fato, não me parece que nós brasileiros tenhamos perdido a capacidade de indignação. Parece-me, isto sim, que diferentemente de outros tempos, as instituições que representam os diversos segmentos da sociedade, inclusive a OAB, não têm, nos dias de hoje, sido capazes de fazer repercutir como deve o nosso inconformismo com o atual estado das coisas.

A força e a credibilidade dessas entidades, postas a serviço da sociedade, constituem-se garantias de que dias melhores virão. Afinal, foi assim que o regime de 1964 sucumbiu e foi sepultado.

Newley Amarilla, Advogado e ex-secretário de Justiça

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