No último domingo, li atentamente os cadernos econômicos dos grandes jornais do País para tentar compreender o que está acontecendo com a economia mundial (o Brasil no meio, lógico).
Movido por dúvidas, mergulhei fundo nas análises comparativas e nos índices gerais do PIB, câmbio, superávit primário, perspectiva de exportação e importação, juros, inflação e deflação etc.
Depois de várias horas tentando decifrar aquela maçaroca de informações, muitas delas escritas com linguagem impenetrável, cheguei à seguinte conclusão: os especialistas não sabem exatamente o que está acontecendo acerca dos últimos movimentos da economia mundial.
O que se sabe, com certo grau de probabilidade, é que está vindo aí uma crise financeira. Qual a sua real intensidade? Ninguém se arrisca a dizer.
No Brasil, por enquanto, os discursos positivos vão de vento em popa. A inflação está baixíssima, os juros estão caindo, o consumo interno vive um bom momento, o dólar encontra-se em patamar razoável, o emprego cresce, enfim, tudo vai bem e o povão está feliz. Poucos economistas arriscam pareceres negativos.
Mas ontem parece que o quadro começou a mudar um pouco. O presidente do Fed, Ben Bernanke, declarou que a inflação nos EUA alcançou um nível incompatível com a estabilidade de preços e, com isso, os juros americanos vão aumentar a partir do final deste mês.
Estas palavras fizeram soar o gongo. As principais bolsas mundiais sofreram abalos sísmicos. Há uma lógica nisso tudo: se os juros dos EUA aumentarem de maneira muito rápida, o fluxo de dinheiro rumo aos Estados Unidos se intensificará de tal maneira que muitos países assistirão ao vôo migratório de bilhões de dólares (chamadas de capital volátil), murchando os investimentos em países emergentes.
Com isso, as primeiras críticas dos analistas econômicos da imprensa começaram a aparecer. Luiz Nassif, da Folha de São Paulo, por exemplo, abriu sua coluna de ontem com a seguinte frase: “Essa história de que a volatilidade cambial é passageira não cola. A economia mundial já entrou em um circuito disfuncional provocado pelo livre fluxo de capitais”. Não sei se entendi direito, mas parece que à medida que a inflação americana não for devidamente controlada a economia mundial ficará seriamente instável.
E o Brasil? A impressão que se tem da economia do País – não querendo ser muito tosco na exemplificação – parece aquela história de uma grande família cujo pai ganha do gerente de seu banco de repente um bom limite de cheque especial. E suas primeiras medidas são as seguintes: aumenta a mesada de todos os filhos, contrata nova babá, cozinheira e faxineira; compra presente para mulher e agrada a sogra com nova geladeira.
Promete que se tudo der certo (não sabe direito o que é este “tudo”, mas quem se importa?) o pacote de bondades não acabará tão cedo. Para provar que fala sério, basta que a esposa reclame de estar cansada de levar as crianças à escola todos os dias que ele de imediato contrata um motorista.
A família toda, assim, fica inflada de felicidade. O sujeito vira um herói. Sua popularidade é tanta que ele pensa até em se lançar candidato a deputado federal.
Sua palavra de ordem é: não economizem, gastem à vontade. Com qualquer coisa. Temos dinheiro para isso.
Só que a fatura será cobrada lá na frente. Quando chegar a hora, e começar a faltar dinheiro, tudo poderá retroagir, e ele terá que reduzir despesas, demitir, cortar, enfim, voltar àquilo que ele sempre foi aos olhos da família: um inconsequente e perdulário que só age conforme as necessidades imediatas. Só que aí será tarde demais.
Dante Filho, Jornalista