Nunca fui a mais aficcionada por futebol, admito. Porém, em época de Copa preciso sair em defesa das mulheres que, como eu, tentam entrar no clima, e até se rejubilam e soltam fogos por ter os maridos em casa para as indefectíveis sessões de jogos.
No entanto, entender o que se passa neste mundo essencialmente masculino, convenhamos, é um tanto complicado!
Como meninas boazinhas, arrumamos a casa, enfeitamos com balões, compramos todos os CDs da Ivete, preparamos sanduichinhos enfeitados com recheios verde e amarelo, cuidamos para que a cerva esteja sempre no ponto, todo mundo servido. (Isso não se aplica bem a mim, mas a inúmeras mulheres que conheço).
Essas mulheres, aliás, mesmo trabalhando em altos cargos, alternam as funções e se transformam, também nestes dias, em verdadeiras “ladies” do lar!
Conferem a cada meia hora se há papel higiênico, engov e sonrisal no banheiro, e ainda têm tempo de comprar lingerie verde e amarela, acessórios fashion e fazer chapinha para agradar ao amado. Acompanhamos o noticiário, lemos o jornal, ouvimos o Galvão! Mas tudo em vão…
Na hora da partida, ficamos invisíveis, a não ser quando passamos em frente à TV para retirar cinzeiros cheios de bitucas, latinhas e garrafas de breja. Aí é uma saraivada de desaforos impronunciáveis!
Isso sem contar a visão masculina de que temos uma parca cultura sobre o assunto. Sabemos que futebol são onze jogadores em campo. OK? Conhecemos, é claro, profundamente o nome dos nossos adorados jogadores: o Ronaldinho Gaúcho, o Ronaldo, Adriano e Kaká (nooosssa!), o Cafú, o Robinho, o Juninho Pernambucano, o Cicinho, o goleiro Dida e alguns outros que fizeram gols, certo?
Mas, sinceramente, muitas de nós (entre as quais me incluo) jamais decoraremos até o final da Copa, os nomes de todos os jogadores e suas respectivas posições. Atacante, meio campo, zagueiro, Afe! cruzes!
Além disso, oitavas, quartas- de- final, quem sobe e quem desce, cabeça de chave. É muito pra cabeça.!!!
Mas já aprendemos o básico. O que é escanteio, falta, quando o juiz dá cartão amarelo, vermelho…
Falta, por exemplo, é quando eles ficam todos alinhadinhos naquela faixa branca, com a mão defendendo a genitália, e escanteio é quando vão pra esquina do campo… perto do bandeirinha. Viu?
Além disso, o nosso conhecimento fora de quadra é hors concours.
Sabemos que o hino da França se chama Marseillaise e não “Maionese”, que Berna não é um jogador e, sim, a capital da Suíça…, e por aí vai!
Além do básico da sobrevivência dos bastidores da Copa: Figo tem uma mulher que é modelo e lindíssima; que o Beckham tem uma tatuagem tribal no pescoço, é metrossexual, maravilhoso, e é casado com a Spice Posh (que por sinal tem problemas de anorexia e está magérrima, de novo, só peitos); que o Adriano proibiu os jornais de mostrarem fotos do filho recém-nascido e que o casamento fez um bem danado ao Kaká!
Além disso, somos muito mais observadoras que vocês! Conseguimos ver todos os tapas, carrinhos e outras atrocidades. Isso sem contar nosso apurado senso estético. Elegemos, por exemplo, o uniforme de Portugal como um dos mais bonitos da Copa, naquela cor, Fendi chiquérrima! Além das pernas mais belas, como as dos jogadores de Gana, muito melhores que as do Roberto Carlos. E percebemos todos os tipos de penteados e combinação de cores dos uniformes.
No entanto, temos todo o direito de perguntar coisas consideradas absurdas para vocês, como: juiz ganha pra apitar na Copa? Quantos gandulas há no jogo? As chuteiras têm travas de ferro ou é borracha? O que os jogadores tomam na garrafinha? Quando os dois times têm as mesmas cores, quem escolhe a cor com que vai jogar? Coisas tão simples..
Felizmente temos maravilhosas representantes femininas à frente do noticiário esportivo. E nos orgulhamos das meninas que enfrentam mesa-redonda com os mais conceituados jornalistas homens, e dão um show de bola!
Por isso mais paciência conosco, pobres mortais não especializadas em esporte, e por favor, respeito. Queremos apenas dividir o momento com vocês!
Então, antes de virem com os infames trocadilhos “de que, literalmente, o lugar de mulher é na copa”, ou seja ao lado da cozinha, mandem editar um manual simplificado da Copa do Mundo. Em troca nós daremos para vocês o Manual de Boas Maneiras Durante os Jogos!
Combinado?
Rosana Siqueira, jornalista