Seleção Macunaíma

Durante a cobertura da copa do mundo, ouvi numa des-sas reportagens ilustrativas que criam e revelam o clima da Copa do Mundo a impressão de um repórter sobre o comportamento das seleções em campo, que por mais que eu tente não consigo esquecer.

Em suas impressões disse o jornalista, cujo nome não me ocorre agora, que as seleções reproduziam em campo, algo próximo do ideário que se tem do comportamento de suas sociedades.

Parei para pensar, e de fato, observei que, não obstante todas as circunstâncias individuais e de momento que devem ser ressalvadas, ainda assim, era possível visualizar nas seleções, como pano de fundo, as características que peculiarizam a forma como se organizam em sociedade.

Não foi difícil notar a disciplina na seleção alemã, a força do empenho na seleção inglesa, a garra na seleção argentina, a alegria de jogar bola nas seleções africanas, assim como também foi fácil visualizar o desejo de reco-nhecimento e de grandeza na seleção francesa, além do que, não há como negar que, assim como em 1982, novamente a seleção italiana foi para a copa, cercada de uma atmosfera de cosa nostra, mas que, apesar disto, ainda assim pode triunfar e ser campeã.

Mas e a seleção canarinho, que característica peculiar de nossa sociedade ela lembrava. Lembro-me de que quan-do o piloto Ayrton Senna faleceu, o ex-ministro Rubens Ricupero, em brilhante crônica publicada no jornal Folha de São Paulo, divisou o Brasil em antes de Senna e depois de Senna.

O de antes, era aquele de Macunaíma, isso mesmo, o personagem de Mário de Andrade, que, segundo seu criador, seria o símbolo da essência da alma do povo brasileiro, e que, embora fosse inteligente e esperto, era desprovido de grandes considerações pelo seu semelhante, sendo detentor de tíbio caráter e pífia índole.

Ao ver a seleção de 1994 e 2002 jogar, podemos dizer que estava ela a representar a nossa porção Ayrton Senna, de garra, de vontade, de solidariedade, disciplina, dedicação, entusiasmo, mas, porém, ao vermos a seleção de 2006 jogar, não há como negar que a nossa porção Macunaíma, com lassidão de vontade, sem empenho, sem com-promisso, sem vontade e sem vergonha, ainda está a nos assombrar.

Tanto que, ao término do jogo com a França, quando parecia que já não restava nenhuma outra vergonha a passar, foram além e conseguiram até mesmo desmoralizar a elegância, e ao invés de simplesmente cumprimentarem os nossos oponentes, tivemos que ver o moleque Robinho, em cujos pés, poucos minutos antes, repousava toda a esperança nacional, pulando com enorme sorriso no rosto, no “colo” do herói francês Zidane.

Já se disse que o esporte não forma o caráter, revela-o. Precisamos decidir o que desejamos ser e o que queremos para nosso futuro, afinal, quem somos nós, aquele de Ayrton Senna de 1994 e 2002, ou o de Macunaíma de 2006, perdemos a copa, mas ganhamos uma escolha a fazer. Brasileiros, as eleições estão chegando, digam quem são.

Luiz Claudio Brandão de Souza, advogado, economista e presidente da Agência Brasileira de Defesa de Direitos e Promoção de Justiça.

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