Antonio Baptista Gonçalves
Essa é a palavra que pode resumir os primeiros dias do julgamento de Suzane Louise von Richthofen e de Cristian e Daniel Cravinhos.
Como sugere um julgamento desta proporção em termos de mídia, os representantes jurídicos envolvidos no processo têm demonstrado um primor de atuação e de conhecimento. A começar pelos promotores. Uma esperteza evidente no trato do processo, na condução dos depoimentos. Com uma leveza e uma classe típica de um barítono.
No meio de dois promotores muito preparados, que demonstram ter todos os dados e minúcias do processo a seu dispor surge um advogado, temporariamente cedido para a promotoria e com a classe que lhe é peculiar: o dr. Alberto Zacharias Toron demonstra toda a esperteza e gentileza necessária para ter a atenção de uma testemunha e, do próprio juiz.
Neste esteio têm-se as argüições dos réus e das testemunhas de acusação. A acusação utiliza novamente a esperteza em não ser agressiva, contundente, mas sem perder a firmeza e o controle de sua inquirição. Moldando pouco a pouco a visão dos sete jurados.
A esperteza ficou clara na demonstração das fotos para a perita, testemunha de acusação. Porque em momento algum foi suscitada uma agressão verbal, ou um direcionamento forçado contra os réus. Todavia, as fotos e a análise das mesmas obtiveram o efeito desejado, muito maior do que um discurso exacerbado.
Pelo lado da defesa, temos a esperteza de um advogado que, apesar de serem réus confessos, luta em defender seus clientes, os irmãos Cravinhos, e, ao mesmo tempo, tenta inocentar Cristian, com um depoimento de completa inocência, com a culpa atribuída inteiramente a Daniel.
Esperteza que não foi percebida anteriormente e, por isso mesmo, não deve surtir muito efeito visto que se o irmão menor era inocente não poderia ter confessado na delegacia. Ao fazer isso apenas no júri, viu o tempo se esvair e quiçá a oportunidade de uma absolvição.
Exatamente por isso os promotores e o advogado da ré pediram uma careação, para que as espertezas não se sobreponham à verdade.
Deve se ressaltar também a esperteza do advogado de Suzane. Um profissional tarimbado, experiente e envolvente. Por alguns momentos se demonstra repetitivo, o que resultaria numa tática enfadonha. Entretanto, ao analisar mais intimamente, descobrir-se-á a esperteza de um advogado qualificado.
Ao repetir as perguntas, existe a chance de se obter uma contradição, de um discurso mal preparado, como pode ser nitidamente comprovado no depoimento de Dona Ivone, amiga da Mãe de Suzane e testemunha de defesa de Cristian Cravinhos. Inicialmente a testemunha afirmou que Suzane não era mais virgem e que todos sabiam disso. Após indagações aparentemente sem sentido e repetitivas, como insiste em afirmar erroneamente a imprensa, o advogado demonstrou sua habilidade: a testemunha não conseguiu manter a afirmação e seu argumento perdeu a validade.
A esperteza maior ainda estava por vir: ao perguntar se Dona Ivone era conhecida por ser fofoqueira, o advogado conseguiu retirar uma possível credibilidade que o testemunho poderia ter. E o fez com sutileza e com classe.
Por fim temos de destacar o regente desta orquestra: o magistrado. O juiz teve a esperteza de não usar a grandeza de repercussão do caso para si e denota uma simplicidade e tranqüilidade muito saudáveis ao transcurso do júri. O que possibilita um julgamento num clima intenso como era de se esperar, mas sem ofensas, agressões verbais o que poderia deixar um ambiente ainda mais tenso e conturbado.
Cada profissional mostrando toda a sua tarimba, a janela da vida profissional, e, claro, defendendo os interesses de seus clientes. O resultado será apresentado em poucos dias, mas a aula de direito penal e processual penal perdurará por muito tempo.