O mundo assiste atônito e perplexo aos virulentos e desproporcionais ataques de Israel ao Líbano ocorridos nos últimos dias. Embora qualquer forma de terrorismo seja totalmente condenável, não se justifica que um país inteiro e, mais propriamente, um povo inteiro, pague o preço por atos praticados por um grupo extremista (Hezbolah), como é o caso do que vem acontecendo nos últimos dias no Líbano.
De acordo com fontes do governo israelense noticiados na imprensa mundial, Síria e Irã seriam os patrocinadores financeiros do Hezbolah, que atualmente se refugia no sul do Líbano. É latente a covardia dos atos praticados por Israel, ficando no ar a seguinte pergunta: se Síria e Irã, segundo Israel, são os fornecedores de armas do Hezbolah, porque atacar Líbano? Quando dizemos que a covardia de Israel é latente, nos referimos ao fato de o Líbano não ter resposta armada adequada para enfrentar Israel, contrariamente à Síria e ao Irã, que vem fazendo esforços desmensurados nos últimos anos para desenvolver tecnologia nuclear. Certamente contra tais países Israel não teria condições bélicas de arcar com tais enfrentamentos diretos, portanto, nada mais fácil e cômodo do que invadir e aterrorizar o mais fraco, para demonstrar ao mundo sua “mão de ferro”.
Parece-nos que a história não ensinou o que deveria. Auto-intitulados as grandes vítimas da história moderna, principalmente, com as perseguições nazistas imprimidas pelo III Reich de Adof Hitlher ao povo judeu, que culminou com o extermínio de 6 milhões de judeus na Alemanha e na Europa Nazista, o que assistimos estarrecidos atualmente é o contrário, ou seja, o povo judeu imprimido ao povo libanês e palestino uma sangria desproporcional e, principalmente, desumana, em virtude de as grandes vítimas serem mulheres, idosos e crianças.
Se por um lado, as barbáries cometidas na II Guerra Mundial serviram de exemplo ao povo alemão, que durante não mantiveram indústrias bélicas e exército regular, contendo inclusive expressões públicas de nacionalismo, por outro, as vítimas da história iniciaram uma escalada de violência desproporcional, levando, após 1948 (ano do reconhecimento do estado de Israel pela ONU) instabilidade ao oriente médio, iniciada com a invasão do território palestino, da cisjordânia, passando pela guerra dos 6 dias, pela invasão do sul do Líbano e mais recentemente com o agravamento da relação com o “Estado Palestino” e com a onda de ataques ao Líbano.
O problema é que civis, entre eles mulheres, crianças, idosos e cidadãos estrangeiros, estão pagando com suas vidas o desmedido ataque de Israel ao Líbano. Só de brasileiros mortos no Líbano até o presente momento já são 10 pessoas. Gente que estava de férias revendo amigos e parentes. A desproporção dos ataques e a covardia são flagrantes, tendo em vista que os alvos israelenses além de ser o Hezbolah são em sua maioria civis. Segundo a agência internacional de notícias Reuters, somente ontem (19/07/2006) morreram no Líbano mais de 50 civis e somente um membro do Hezbolah.
A ofensiva israelense é tão desmensurada que já levou o premier libanês a implorar através dos meios de comunicação nacional e internacionais que Israel pare de matar civis libaneses e estrangeiros.
Embora o terrorismo deva ser condenado por toda a comunidade internacional, como dissemos anteriormente, não se justificando em hipótese alguma; muito pior é fazer do terrorismo um álibi para executar covardemente mais de 350 pessoas, na maioria mulheres, crianças e idosos.
É urgente que a comunidade internacional tome atitudes imediatas para que a escalada do terror imprimida ao Líbano por Israel cesse imediatamente. É o momento do Conselho de Segurança da ONU e a OTAN tomarem medidas severas contra a barbárie que assistimos no Líbano, sob pena de começarmos a achar que algumas nações podem fazer qualquer coisa neste mundo globalizado e democrático e ficarem impunes. A partir do dia em que a comunidade internacional fechar os olhos às situações, como a que o Líbano passa atualmente, poderemos rasgar definitivamente a Declaração Universal do Homem e do Cidadão de 1948, erigida e inspirada nas atrocidades do holocausto e que tem por princípio fundamental a proteção da dignidade da pessoa humana. Ou definitivamente o princípio da igualdade é aplicado a todos os povos indistintamente, como a interferência imediatada da comunidade internacional através da ONU e da OTAN ou voltaremos ao estado de barbárie onde noções elementares como direito e soberania não têm qualquer valor.
OMAR KADRI, Advogado