Assistia jornal na TV ao lado de uma tia e observava Heloísa Helena na tela, quando ela declarou que a nordestina “iria surpreender”. Na noite anterior, a esposa e a filha de um amigo haviam declarado voto para a candidata do PSOL, para aborrecimento do marido, fanático pelo Alckmin, me causando arrepios ao pensar no futuro da política no país.
O fato é que Heloísa Helena está encarnando a frustração petista, cumulada com a desilusão tucana, resultando num crescimento vertiginoso que poderá reeditar o “fenômeno Collor”.
Os cientistas e comentaristas políticos ficaram atônitos com o crescimento de HH, que em quinze dias pulou de seis para dez por cento nas pesquisas de intenção de voto e começaram a apostar no segundo turno. A política tem dessas coisas.
Se de um lado Lula não pode “malhar” Loló – apelido de infância de Heloísa – em razão da expulsão dela do PT até hoje não explicada; por outro lado, Alckmin não pode bater nela, pois precisa tomar votos de Lula. A situação tende a se complicar para os candidatos dos grandes partidos, que acreditam na mudança dos rumos das eleições com a propaganda eleitoral na TV. Aguardam que o povo assista aos programas como se acompanhassem novela, quando nestas eleições, as oportunidades de divulgar o nome dos candidatos são mínimas.
Aqui, faço uma observação ao conservadorismo político de Lula e Alckmin, que não enxergam o Brasil moderno e globalizado, onde as pessoas gostam de comunicação rápida e simples.
Neste aspecto, Heloísa Helena está em vantagem, com frases de efeito e de rápido entendimento. Em entrevista, dias atrás, disse que o povo não queria “nem chuchu” – em alusão a Alckmin – e ” nem abobrinhas” – em referência a Lula – e sim queriam “pimentinha” – apelido que a imprensa lhe deu.
A comunicação no caso foi direta. Além disso, disse que ultrapassaria primeiro “o neoliberal” (que no imaginário popular não é algo bom) e depois “a majestade barbuda”. Bingo! Falou diretamente o que o povo entende, colocando Lula como um “nobre” que gosta de mordomias e Alckmin como um despreocupado com as classes menos favorecidas.
Esta vantagem de Helô traz sérias dores de cabeça às equipes de marketing dos candidatos do PSDB e PT, além do que, se a candidata do PSOL continuar subindo, resta saber se “bater em mulher” não trará prejuízos maiores, fazendo os “indecisos” ficarem ao lado da “vítima”, como sempre ocorre no Brasil.
O risco da democracia é este. Ela cria situações que podem resultar em sérios problemas no futuro, como no caso de Heloisa Helena se eleger presidente, sem uma base no Congresso, um partido forte e um projeto de desenvolvimento e sim com chavões e palavras de ordem que se encontram obsoletas pela história, prometendo voltar no tempo e apostar no socialismo estatizante ou na economia atrelada ao estado.
Porém, acredito que se o crescimento de Heloísa Helena continuar, não se impressione ao ver um “pacto de não agressão” entre PT e PSDB, querendo salvar os dedos. Se isto ocorrer, as críticas serão dirigidas à senadora “pimentinha”, esquecendo o mensalão, sanguessugas e outras sujeiras que foram noticiadas nos últimos doze meses.
SéRGIO MAIDANA, advogado (sergiomaidana@ig.com.br)