Quero lhe contar hoje, da tua importância em minha vida… Te contar de medos e inseguranças que se desfaziam ao som de sua voz, de quedas e dores, que se esvaiam ao toque de suas mãos. Te contar pai, de pedaços de ti que estão espalhados pela minha vida afora. Me invade as recordações e a nostalgia dessas lembranças me inunda a alma. Minha meninice já tão distante me traz de volta um pai jovem, cheio de vida, de sonhos… Ainda um pouco desajeitado em seu papel de pai, mas tão ansioso em acertar! Lembro-me da caminhada até a esquina para te esperar. A tua volta do trabalho era um momento inesquecível. Meus olhos se perdiam no horizonte te procurando e quando te via ao longe, a caminhar lentamente, cansado, me atirava em teus braços acolhedores. Ah Papai! Quanta falta sinto deste abandono em teus braços! Ainda me lembro do teu cheiro de então, cheiro de amor, de proteção.
Meu pai, com são egoístas as crianças e os adolescentes. Quantas vezes me esqueci de te perguntar porquê teus olhos refletiam aquela tristeza molhada, quando rebeldemente teimava contigo. Quantas vezes esqueci de te devolver a ternura e carinho extremado que tinha para comigo. Não meu pai, eu não sabia dimensionar a extensão da felicidade que me era oferecida então. Sonhava com mil futuros felizes pra mim, quando era feliz ali e naquele momento.
O tempo passou depressa papai, o relógio do tempo rolou seus implacáveis ponteiros sobre si mesmos e um suspiro depois já estamos no futuro. Hoje teu rosto está marcado por vincos profundos que me contam longas histórias de cor e sofrimento, trajetória de uma alma que lutou grandes batalhas, que desbravou rumos desconhecidos e que às vezes, se encontrou perdido no meio do caminho, mas que nem por isso, perdeu a ternura do olhar, a doçura da voz, e sempre, a bondade que lhe é inerente.
Papai, eu te amo muito, muito!
Amo suas buscas incansáveis, tuas incerteza, teus medos. Amo teus cabelos encanecidos, teus olhos que, às vezes, exprimem um cansaço infinito. Amo teus sonhos (e com ainda sonhas!), teus sorrisos marotos e tua paciência ilimitada. És o meu exemplo pai, obrigado por existir em mim e por mim.
Te amo!
Lucineide Soares Ferreira de Mello