Design

Há alguns anos, o mundo vivia a onda agrícola, depois industrial, a onda da informação seguida da onda do conhecimento e da tecnologia. Hoje vivemos a onda do design. São ondas que fazem o homem avançar na melhoria das condições de vida, da sua qualidade. Todas elas têm um componente em comum: gerar riqueza. Esta só é possível através do trabalho e sua motivação está no consumo, seja para subsistência ou bem estar social.

Em um País como o Brasil, de baixa renda, traz preocupação ver o consumo, em toda sua vertente, ser estimulado desenfreadamente, colocando uma pressão sem tamanho na classe salarial, principalmente, de baixa renda. É bem verdade que é a maneira encontrada pelo setor comercial para vender e, com isso, dar vida ao setor industrial. O crédito impulsiona o consumidor a obter os seus bens de consumo da maneira, julgada por ele, como única viável. Não há uma forma mais rápida que a do crédito, por exemplo, para comprar e equipar o seu lar.

Ainda outro dia vi, no supermercado, um casal de idosos, fazendo as contas de todas as prestações que tinham a pagar, os famosos carnês. Dando uma de bedelho, descobri que a renda do casal era de R$ 1.350,00 mensais.

O total das prestações a pagar beiravam os seiscentos reais. E estavam felizes. Diziam:”sabe quando que eu poderia comprar a vista meu DVD, minha TV 29´, minha geladeira duas portas, minha cama nova, meu som, meu jogo de sofá e sala de jantar, meu fogão, armários da cozinha, meu guarda roupa? Para obter essa satisfação, levaria muito tempo e isso eu já tenho pouco”. A compra à vista, pregada pelos economistas como forma de economizar, não tem razão de ser para os baixos salários. Poupar para comprar à vista é uma tarefa impossível. Os aumentos das tarifas públicas tomam dos pequenos poupadores, ao longo dos anos de poupança, todos os ganhos e a compra se torna um sonho.

Muitos defendem que, nas últimas décadas, com o aumento do poder de compra dos salários em razão da expansão industrial pós-guerra, maior acesso à educação, o crescimento do comércio e aumento da ocupação da mão-de-obra em todos os níveis, entre outros fatores, associada a expansão do crédito, levaram os menos favorecidas a almejarem o seu lugar “ao sol” na escala das classes sociais, via consumo.

O processo inflacionário, em razão dessa ação, trouxe um desequilíbrio econômico à Nação que só foi sanado, no caso brasileiro, com o advento do Plano Real. Este plano deu condições, ao longo dos anos com a valorização dos ganhos, de acesso aos bens de consumo pela classe trabalhadora o que, até então, ficava apenas ao alcance das classes mais abastadas. A indústria e o comércio descobriram que o mercado poderia se expandir de forma acelerada. O comércio desenvolveu técnicas de vendas nunca pensadas. O mercado passou a imprimir uma competição sem precedentes. A oferta atingiu escalas nunca vistas.

Este fato obrigou, além de avanços tecnológicos dos produtos, a uma ação que hoje é dominante no setor produtivo e de vendas, o design. O desenho, projeto visual do produto, é o fator preponderante para o consumo, para o consumidor. Não adianta mais apenas a tecnologia.

O produto, para ser vendido, tem que agradar aos olhos do consumidor. O design é peça fundamental mesmo na cozinha de qualquer residência, até na política. Qualquer que seja o produto, perfume, batom, carros, sapatos, e por aí vai, o visual dele é que vai determinar a sua aquisição.

Esta nova onda é fator estimulante, principalmente, à classe trabalhadora que procura pela busca de aparência com classes sociais mais elevadas, como uma forma de satisfação. Há uma sensação de que ao obter um produto “bonito”, houve um ascensão social. O casal de idosos tinha lá suas razões. Um novo design na casa faz bem. Melhora o astral. Mas com um crescimento de menos de 3%, até onde o Brasil vai dar vazão a essa expectativa? É preciso um novo design econômico.

Raphael Curvo, advogado

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