O voto brasileiro

Há muito tempo venho escrevendo sobre a qualidade do voto dado pelo povo brasileiro. O voto ainda tem o perfil da subserviência, com resquício do coronelismo que hoje está mais abrangente e tem como maior figura os próprios políticos, os novos coronéis. Não são mais necessários intermediários regionais em razão da facilidade oferecida pelos veículos de comunicação que colocam os políticos como patrocinadores diretos dos favores, dada a quebradeira dos senhores do campo e das corruptelas.

Agora, temos o maior dos coronéis em ação que é o governo federal. Favores são distribuídos por todos os lados e o maior deles, por ironia, criado pelo PSDB, mais aperfeiçoado e com um poder de fogo eleitoral, assustador. A força de convencimento do programa Bolsa Família está, diretamente, ligada à falta de conhecimento educacional e cultural que é a marca de registro da grande maioria da população brasileira, com destaque para região nordestina. O peso deste programa, nesta região, tem lá seus motivos em razão do abandono a que foi, durante séculos, relegado o seu povo. É mais fácil e prático distribuir dinheiro, esmola e favores que promover o desenvolvimento humano e econômico da região.

Que qualidade pode ter o voto, quando sabemos que 74% da nossa população não consegue desenvolver critérios de avaliação dos acontecimentos políticos. Sejam estes acontecimentos oriundos das ações do governo ou da sua representação política no Congresso Nacional, ou mesmo da classe política do nosso quintal, que é o caso regional. Não há como dar qualidade ao voto quando temos, por exemplo, no nordeste, “71% que ganham até 02 salários mínimos” (revista Veja) de um grupo populacional que representa uma massa de 34 milhões de eleitores. Que condições tem esse eleitor, dependente do Bolsa Família, de empregar bem o seu voto? Voto, para ele, é o momento de tirar a barriga da miséria. É alimentar bem, nem que for por um único dia. É tentar ter um par de sapato e um pão menos duro pra se comer. É, talvez, sua única chance de ser lembrado, de ser considerado gente. Pelas limitações culturais impostas, não há como o eleitor nordestino entender que um bom governante é aquele que desenvolve práticas que lhe libertem da dependência econômica, das esmolas eleitorais, da manutenção da escravidão cultural.

O que mais chama atenção nesse período eleitoral é que quase metade da população desconhece o nome de Geraldo Alckmin. Na região Norte e Nordeste, poucos sabem da sua existência como candidato. O mais grave é que não há nenhuma mobilização da própria população ou mesmo de entidades representativas, de comunicação e outras, para levar a informação aos menos favorecidos, que é importante saber, pelo menos o mínimo necessário, sobre a disputa eleitoral e o que representam, para o País, as candidaturas postas.

A atitude tomada pelo TSE, característica própria de um grande presidente que é o Ministro Marco Aurélio de Mello, foi na história política do País a única, que se tem notícia, de valoroso conteúdo. Procurou dar ao eleitor brasileiro a informação de quanto é valiosa a sua participação nos destinos do Brasil. Ensina que o exercício da cidadania é importante para uma mudança na sua vida. Mostra que, ao votar e escolher bem o seu candidato, de participar, o eleitor está dando direção certa aos destinos da Nação. Votar apenas por votar tem, ao longo dos anos, trazido dissabores a todo brasileiro. É só parar e pensar um pouco no que foi e tem sido a nossa vida nos últimos 50 anos. Pense muito, procure ser um fator de mudança nos rumos do nosso País e fazendo, com isso, bom uso da grande arma política que você deve usar com sabedoria. O seu voto, o voto Brasil.

Raphael Curvo, advogado

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