Os comentários em época de eleição, de tão confusos, passam a ser hilários. As opiniões, acusações, debates, “bate-bocas” e outras aparições públicas de políticos acabam virando deboche popular, só não notado pelos próprios. Neste caminho, segue o cabo-eleitoral ou o militante pouco preparado, que muitas vezes, querendo ajudar, acaba atrapalhando o candidato e confundindo mais a cabeça do eleitor.
Semana passada encontrei um petista amigo meu e, sabendo das pesquisas publicadas referentes à eleição estadual, comentou que “não acreditava em pesquisa” e “nada” estava decidido. Eu relembrei-o que antigamente não pensava deste jeito, e sempre dizia que “as pesquisas” serviam para animar a militância. Ele deu de ombros.
Porém, para certificar se ele realmente pensava daquela forma, perguntei se achava que as pesquisas para presidente também “estavam furadas”, sendo imediatamente contraditado por seu longo discurso dizendo que “neste País, nunca teve um Governo tão bom…”, etc. etc., que a eleição do Lula estava sacramentada e o eleitor não mudaria o voto 20 dias antes da eleição, apresentando inúmeros “detalhes”. Para alfinetar, passei a inquirir o que estava errado, se era a pesquisa ou se era a pesquisa desfavorável à sua opinião, e ouvi sua longa explicação de que “no resto do Brasil é diferente daqui”. A conversa terminou e passou-se o feriado.
No começo da semana, com a divulgação de nova pesquisa aqui no Estado e com o crescimento de Delcídio, questionei o “companheiro” quanto à pesquisa. Ele – eufórico – disse que “chegou a hora da virada” e que a eleição seria decidida no primeiro turno, sendo o candidato petista o vencedor.
Para ironizar a conversa, perguntei se ele tinha ouvido do candidato tucano a mesma frase (“hora da virada”), reafirmando que a eleição para presidente estava decidida e nada modificaria “a vontade do povo”. Agora, eu é que dei de ombros.
Nesta eleição, está ocorrendo um fenômeno que entristece a todos, porém pouco percebido. As opiniões são prontas e acabadas e as teorias antes defendidas pela outrora oposição são rejeitadas, como se houvesse uma mudança radical no pensamento do eleitorado. Se antes a “mudança nas pesquisas” ocorria no curso da campanha e as eleições eram decididas nos últimos dias, hoje, querem sacramentar o pleito antecipadamente. Se antes 40% dos eleitores ficavam indecisos até a véspera da eleição, hoje dizem que só um número reduzido está. Se antes as eleições se modificavam no seu curso, podendo ocorrer de tudo, nesta se estabeleceu que nada muda ou pode mudar.
Se você observar as análises sobre as eleições, perceberá que elas assombram pelo sectarismo de opiniões e a visão caolha da política, como se o nosso eleitorado fosse conservador e determinado como o americano. Eu, pelo meu lado, fico com a opinião do Raul Seixas, quando canta Metamorfose Ambulante: “prefiro ser/ esta metamorfose ambulante/ do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.
E depois os políticos não querem ser levados no deboche.
Sérgio Maidana, Advogado em MS