NÃO VOTO. As razões são muitas; elejo umas poucas. Em primeiro lugar não desejo ser governado por um homem que faz apologia da própria ignorância. Para um país que quer colocar a educação como meta prioritária é desanimador que seu presidente se vanglorie de não ter diploma. Não lhe fica bem e fica-lhe muito mal sabendo-se da extraordinária memória e inteligência que possui.
Poderíamos comparar Lula com Abrahão Lincoln, criado em pequena comunidade rural e que, com as mãos calejadas do machado, ainda era analfabeto aos 21 anos. Alfabetizou-se aos 22 e sentindo-se vocacionado para a vida pública, jogou-se aos estudos como um alucinado, dia e noite, chegando afinal ao diploma de advogado, depois viriam sucessos políticos, até à presidência dos Estados Unidos. Apesar da origem igualmente pobre, apesar da inteligência igualmente superior, apesar do igual sucesso político, a comparação entre Lula e Lincoln parece-me muito ruim para o nosso presidente que, tendo deixado o trabalho há mais de trinta anos para se dedicar à política sindical e depois partidária nunca quis estudar. Dizem que ele se vangloria também de nunca ter lido um único livro. Que a memória de Lincoln me perdoe a tentativa da comparação!
Outro motivo: a inoperância. Ninguém conhece destes quatro anos de governo, além das bravatas, alguma decisão de Lula, própria dele, nenhum programa executivo, nenhuma determinação com a sua marca pessoal. Na realidade o nosso presidente sempre foi, apenas, o porta-voz do seu governo, um comunicador das decisões de seus ministros. Lula não governou, comunicou. Nesse sentido eu acho que ele não está mentindo quando nos diz que não sabia nada a respeito dessa lama de corrupção que afogou o seu governo. Eu acredito que ele não sabia mesmo de nada; não por lhe ocultarem ou por ser enganado, ele não sabia de nada, simplesmente, por não querer saber de nada. Afinal, por que ele, o presidente vitorioso, deveria se envolver com essa chatice de ler relatórios e decidir coisas? Por que se perder nesse emaranhado de problemas internos se o Aerolula estava ali perto, novo, limpo e confortável, para suas importantíssimas viagens internacionais?
Alguns maldosos se deram ao trabalho de calcular o tempo que o Aerolula esteve estacionado em Brasília em quase quatro anos de governo. Descobriram que, em dois terços do seu mandato, Lula nos administrou da África, Ásia, Oceania, Estados Unidos, Europa e adjacências. Nessas adjacências conta-se a prioridade das visitas a Hugo Chávez e Evo Morales. Ninguém pode negar a simpatia, as gentilezas com que sempre foi recebido no exterior. Nobres governantes, reis e rainhas, cumularam de sorrisos e atenções – sorrisos e gestos do teatro da vida diplomática. Surpreende que a lúcida inteligência do presidente nunca tenha lhe dado percepção do exato papel que representava: um boneco, uma espécie exótica, produto da excentricidade terceiro-mundista. A prova de que nunca o levaram a sério é o fracasso total de suas reivindicações internacionais. Até Evo Morales acabou lhe dando um pontapé na bunda.
Buscando o aprofundamento da nossa análise não poderemos deixar de ligar inoperância à ignorância. Com efeito, a causa maior da inoperância é a própria confessada ignorância do presidente, pois ninguém pode, de fato, decidir sobre coisas que ignora, que não entende. Para completar é preciso lembrar que o vitorioso Lula apresenta sintomas vários de uma doença, comum entre nós, mas de efeitos desastrosos para um presidente. Trata-se da incapacidade para qualquer esforço demorado, eufemismo para designar o velho e conhecido pecado da preguiça, que, aliás, vai muito bem com a coadjuvante e redentora cachacinha.
Abílio Leite de Barros, albcg@terra.com.br
Artigo publicado no Jornal Correio do Estado de MS