Viajar de avião no Brasil tem sido um drama frequente desde a tragédia com o Boeing 737-800 da Gol, em 29 de setembro deste ano, que resultou na morte de todos os 154 passageiros e tripulantes. A crise envolvendo os controladores de vôo e os consequentes atrasos das decolagens nos principais aeroportos do País transformaram, em poucos meses, um meio de transporte tido como confiável em muita angústia e irritação para passageiros que, nas salas de embarque, ainda esperam contar com a antiga e extinta pontualidade.
Basta esperar um vôo nos aeroportos para comprovar a aflição estampada nos rostos dos passageiros que aguardam a confirmação dos horários dos vôos, enquanto painéis eletrônicos adiam a previsão de partida de meia em meia hora.
Sentar-se, hoje, numa dessas salas de embarque é ter certeza de que só restam incertezas pela frente. Foi o que aconteceu comigo.
Na segunda-feira (20/11), parti de Campo Grande (MS), às 15 horas, com destino a Cuiabá (MT), depois de o vôo 3762 da TAM atrasar cerca de 50 minutos – tempo suficiente para incomodar os passageiros que aguardavam o embarque no Aeroporto Internacional de Campo Grande. Ainda que com pequeno atraso, a viagem foi perfeita se comparada ao que estava por vir.
No final da tarde de terça-feira (21/11), o meu vôo de retorno – de Cuiabá a Campo Grande – estava agendado para as 17 horas e, novamente, houve atraso de 30 minutos no embarque, que acabou ocorrendo por volta das 17h30. Até então, eu e os outros cerca de 100 passageiros do vôo 3805 da TAM, com destino a Campo Grande, tínhamos até o que comemorar, afinal, meia hora de atraso praticamente não significa nada diante das noites em salas de embarque a que muitos passageiros foram submetidos nas últimas semanas nos aeroportos brasileiros.
E lá fomos nós para a decolagem.
Sem qualquer modificação aparente, a aeronave da TAM decolou e começou a ganhar altura distanciando-se do aeroporto e da cidade de Cuiabá. Depois de mais de 15 minutos de viagem, ouvimos fortes barulhos seguidos de uma queda brusca do avião para um nível localizado a alguns metros abaixo da altura que a aeronave já havia atingido.
Com os passageiros já horrorizados e um profundo silêncio no avião, o piloto ligou os microfones e anunciou: “Atenção, passageiros. A aeronave está com problemas técnicos. Vamos retornar ao aeroporto de Cuiabá”.
Com o avião perdendo altitude, comecei a pensar que o discurso de que o transporte aéreo é o meio mais seguro não serve de consolo quando existe risco de o avião em que estou viajando integrar o “pequeno” índice de aviões que caem. Por alguns segundos, eu e boa parte dos passageiros já olhávamos pelas janelas do avião e escolhíamos a melhor pastagem para um eventual pouso forçado. Um critério importante era não haver muitos morros ou árvores no local. Mentalmente, eu imaginava qual seria a melhor posição para sobreviver a uma queda de avião. Pela primeira vez pude ter plena consciência do risco a que nos submetemos ao voar e percebi a fragilidade desses vôos, uma vez que, se correr tudo bem, as viagens são ótimas; mas, e se não correr tudo bem?
Por fim, depois do susto, conseguimos pousar com segurança no aeroporto de Várzea Grande (MT), cidade vizinha à capital Cuiabá. Nós [passageiros] fomos encaminhados pela companhia aérea ao saguão do aeroporto.
Quando o medo já motivava muitos passageiros a pensar em seguir viagem de ônibus, a TAM informou que o avião seria consertado em aproximadamente uma hora e, depois, continuaria a viagem. Naquele momento, eu e pelo menos outras 20 pessoas, por não conhecerem os problemas técnicos da aeronave, optamos por ficar em Cuiabá para que pudéssemos pegar outro avião no dia seguinte.
Ao meio-dia de quarta-feira (22/11) embarcamos novamente em um avião rumo a Campo Grande. Na viagem de retorno quase não olhei pela janela do avião. Ainda que o risco que corríamos, praticamente, se mantinha o mesmo da primeira viagem, afinal estávamos a 10.000 metros de altura; confesso que o meu medo de viajar de avião cresceu muito, tanto quanto meu gosto por viagens de ônibus.
Marco Antônio Gehlen, Jornalista