É preciso muita criatividade e esforço de boa vontade para crer que o Mercosul ainda não está morto. Criado para fazer frente ao forte comércio internacional e poder com isso desenvolver a economia do cone sul da América, o que se vê, na verdade, é um desfile de vaidades de governantes dos países sul-americanos. Existem conflitos de toda ordem na relação de interesses. Até de postura ideológica, o que nada tem a ver com o campo comercial.
Enquanto isso, lá do outro lado do mundo, com visão “economicista”, os dez países que compõem a Associação das Nações do Sudeste Asiático (Asean), mais a China nos próximos 60 dias, vão aumentando a sua capacidade de produzir riquezas. Apenas com esses dez países, o comércio com a China em 2005 chegou a 113,4 bilhões de dólares. Nesse mesmo ano, a Asean vendeu aos Estados Unidos US$ 93 bilhões, para a União Européia US$ 82 bilhões, para o Japão US$ 73 bilhões e mais 54 bilhões de dólares para a China. E olha que só representa 46% das vendas externas da Associação. O Brasil participou com a irrisória taxa de 0,2%. Isto posto frente ao Mercosul, nos dá o tamanho da diferença de postura. Não há interesse em fazer acordos bilaterais com poderosas economias. Como disse o Chanceler Amorim, não temos visão economicista.
Há uma sensação de que o governo brasileiro tem medo de participar de mercados dessa magnitude para não mostrar a sua incapacidade de gerir a economia. Acredito que os líderes mundiais já perceberam o blefe da nossa força econômica e política. Há muito venho escrevendo que o dinheiro dos investimentos produtivos mudou de rumo. Aqui só tem vindo o investimento especulativo. É visível que a nossa economia estagnou. Não há como contrariar os fatos e os números. São 88 bilhões de dólares de reservas e as estradas, saúde, educação, empregos, salários etc., estão em petição de miséria. Os juros podem cair que não vai ocorrer inflação. Esta só existe quando se tem dinheiro circulante. Somos sérios candidatos ao “bolsa família”.
A nossa economia exportadora está baseada nos produtos primários, sem valor agregado, que não dependem de beneficiamentos. Chega a corresponder a 65% das exportações brasileiras. Este fato demonstra como é fraco o nosso parque industrial para competir no mercado internacional. Daí, talvez, a opção de Lula pelo Mercosul. Países de pouca densidade como Venezuela, com 27 milhões de habitantes, Bolívia com 8,5 milhões, Equador com pouco mais de 9 milhões, não representam nada em termos de economia mundial e de desenvolvimento tecnológico. O que se pode esperar dessas economias para melhorar a vida dos brasileiros? Quer saber? Nós estamos perdidos e completamente sem rumo. Como exemplo, a nossa maior preocupação atual é com a presidência da Câmara Federal. Estão fazendo do governo um laboratório de experiências. Só que, sem nenhum conhecimento científico.
Amanhã sai o anúncio do PAC. Como investir se não há dinheiro para tal. A prova são vários programas paralisados e outros sem implementação, justamente porque não existe fundo para isso. Desonerar o quê, se as empresas há muito deixaram de recolher impostos e outros tributos. Descobriram a renúncia fiscal como forma de promover empregos e rendas. O que precisa ser feito, na realidade, é dar maior estímulo ao mercado, palavra-chave que mobiliza riquezas e dá impulso ao desenvolvimento e conseqüente crescimento. É neste ponto que o governo tem que se preocupar em fortalecer a economia brasileira.
Mercado não está só na economia interna. Sua maior fonte está na economia externa. A China que o diga. Os comunistas chineses, com os olhos bem mais abertos que os socialistas (?) brasileiros, entenderam isso rapidamente e em 2006 exportaram mais de 1 trilhão de dólares e estabeleceram reservas monetárias de mais de 1 trilhão e cem bilhões de dólares.
A nós, cabe esperar em companhia de Evo Morales, Rafael Correa, Kirchner, Chávez, outros países africanos e o novo “companheiro” Mahmud Ahmadinejad, a chegada do carnaval.
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Raphael Curvo, Advogado pela pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC/RJ e pós-graduado pela Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro