por Claudia Jardim
O presidente venezuelano, Hugo Chávez, disse nesta quinta-feira que “vetará” a declaração final da 5° Cúpula das Américas, que começa nesta sexta-feira, em Trinidad e Tobago, por considerá-la “deslocada”.
“É uma declaração que é difícil de assimilar, está totalmente deslocada no tempo e espaço. São declarações muito parecidas (com as feitas no) ano de 2001 (…) essa declaração a Venezuela veta agora mesmo”, afirmou Chávez nesta quinta-feira, em Cumaná, norte da Venezuela.
O presidente venezuelano se referiu ao encontro de Québec, no Canadá, em 2001, que defendeu a criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), defendida pelos Estados Unidos.
Como é de costume nas Cúpulas das Américas, as delegações representantes dos países preparam um rascunho da declaração final, que deve ser aprovado ou modificado pelos presidentes. A primeira versão do documento já foi apresentada aos chefes de Estado.
Segundo fontes diplomáticas, a resolução que não é bem vista pela Venezuela é a que reconhece o papel da Organização de Estados Americanos (OEA) “na solução pacífica de nossas diferenças e no apoio aos objetivos da Carta Democrática Interamericana”, como diz a Declaração de Compromisso da Cúpula.
Entre outras críticas, o governo venezuelano questiona o fato de a OEA não ter condenado o frustrado golpe de Estado de 2002 que afastou Chávez do poder por 48 horas.
“Até hoje a OEA não condenou o golpe”, recordou o presidente venezuelano na noite desta quinta-feira.
Na prática, o governo venezuelano não pode impedir a aprovação da declaração. O que ocorre nesses casos é que os presidentes que não estão de acordo com a resolução deixem isso registrado no documento assinado pelos demais.
Nesta quinta-feira, Chávez disse que vai “afinar a artilharia” com os presidentes do bloco da Alba (Alternativa Bolivariana para as Américas) para trazer ao centro da discussão na Cúpula das Américas a exclusão de Cuba do sistema interamericano e discutir o bloqueio americano à ilha, que já dura 48 anos.
“Porque Cuba não está? Essa será a primeira pergunta que vamos fazer”, afirmou.
“OEA deve desaparecer”
O encontro da Alba que ocorreu nesta quinta-feira na cidade venezuelana de Cumuná incluiu, além de Chávez, os presidente da Bolívia, Evo Morales; de Cuba, Raúl Castro, do Paraguai, Fernando Lugo; da Nicarágua, Daniel Ortega; de Honduras, Manuel Zelaya, e os premiês de Dominica, Roosevelt Skerrit, e de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, além de um representante do presidente do Equador, Rafael Correa.
Falando depois de Chávez, Raúl Castro disse não estar interessado em reintegrar seu país à OEA (Organização dos Estados Americanos), afirmando que a OEA deveria “desaparecer”.
“Antes de integrar (Cuba) à OEA, primeiro se unirá o mar do Norte com o mar do sul e nascerá uma serpente em um ovo de águia”, afirmou Raúl.
“Com americanos ou sem americanos, a OEA tem que desaparecer”, acrescentou.
Apesar de Cuba ser tecnicamente um integrante da OEA, o país não tem direito a voto nem a participar de suas reuniões. Cuba foi suspensa pela OEA em 1962, por pressão americana, durante a Guerra Fria.
O Brasil defende a normalização das relações entre a entidade e Cuba.
Na segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse que a ausência de Cuba na OEA “é uma anomalia que precisa ser corrigida”.
Ofensa
Mas, no dia seguinte, o ex-presidente cubano Fidel Castro disse que seu país não deseja reintegrar-se à OEA, ao afirmar que “ofendia” a suposição de que Cuba pretendia voltar ao organismo.
Fidel disse que OEA “tem uma história que coleciona todo o lixo de 60 anos de traição aos povos da América Latina”, acusando a organização de estar envolvida em “ações agressivas” que resultaram na morte de milhares de pessoas na região.
As críticas do ex-presidente cubano foram resposta ao secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, que afirmou que Cuba deverá ser “aceita” pelo organismo.
“Ele sabe que nós não queremos nem sequer escutar o nome dessa vil instituição”, disse Fidel.