Obama pode pôr discurso antiamericano de Chávez em xeque, diz analista

por Claudia Jardim

A mudança de governo nos Estados Unidos e o anúncio de que o presidente Barack Obama estaria disposto a “ouvir” e “dialogar” com líderes da América Latina representa um desafio para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na opinião do analista político Mervin Rodríguez, profesor da Escola de Estudos Internacionais da Universidade Central da Venezuela.

“Chávez passou quase oito anos reclamando do governo (George W.) Bush, principalmente contra suas políticas contra Cuba e Venezuela”, afirmou Rodríguez.

“Agora, antes mesmo de ouvir as exigências de Chávez, Obama já envia uma resposta, ainda que indireta, que sinaliza uma aproximação com o governo cubano”, disse.

“Se (Obama) continuar com esta dinâmica, o discurso antiimperialista de Chávez tende a ir ficando sem gasolina”.

Isolamento

Na opinião de Mervin Rodríguez, Obama tratará de “reconstruir as pontes” fragilizadas entre Washington e a Venezuela durante o governo Bush.

“Se alcançar esse objetivo, podemos esperar uma relação menos combativa entre Estados Unidos e a América Latina e o discurso de resistência de Chávez contra a política norte-americana tende a esvaziar-se”, afirmou.

Caso a possibilidade se confirmar, na opinião de Mervin Rodríguez só restará a Chávez “mudar o tom” para evitar um isolamento na região.

“A postura do governo venezuelano tem que ser mais flexível, se não, correrá o risco de ficar isolado, preso no seu discurso antiimperialista”, afirmou Rodríguez. “Isso seria uma atitude anacrônica”.

Forma e conteúdo

Outro analista político, Miguel Tinker Salas, professor de História Latinoamericana da Pomona College, da Califórnia, tem uma visão um pouco mais cética.

Segundo Tinker, Obama terá um novo espaço para trabalhar com os demais líderes do hemisfério, mas terá que demonstrar a mudança com fatos.

“Uma alteração só no estilo e na forma não terá um impacto duradouro”, afirmou.
Tinker Salas considera que o governo Obama ainda “não rompeu com o passado”, ao destacar que há posições antagônicas dentro do governo sobre como devem ser constituídas as relações com a América Latina a partir de agora.

“Os Estados Unidos estão em uma posição debilitada devido a crise econômica e o governo Obama não tem nada novo a propor para a América Latina”, afirmou.

“No que se refere a assuntos estratégicos no âmbito militar, político e econômico, continuará igual”, acrescentou.

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