Mesmo sem consenso, Lula se diz “realizado” com cúpula

por Fabricia Peixoto

Os 34 chefes de Estado presentes na Cúpula das Américas, em Port of Spain, em Trinidad e Tobado falharam em chegar a um consenso sobre o texto da declaração final no encerramento do evento, neste domingo.

Países como Venezuela, Bolívia e até mesmo o Brasil fizeram “ressalvas” ao documento, que acabou sendo assinado simbolicamente apenas pelo primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Patrick Manning.

O governo brasileiro, por exemplo, discordou da sugestão contida no documento de que os países voltassem a se reunir em 2010 para discutir a atual crise econômica mundial – o que seria tarde demais, segundo ele.

Já a Venezuela se negou a aprovar o documento por não mencionar a ausência de Cuba da Organização dos Estados Americanos (OEA).

O documento acabou perdendo relevância nesta edição da Cúpula, marcada pela primeira visita do presidente americano, Barack Obama, à região, e pela possibilidade de um “novo diálogo” com a América Latina.

Surpresa

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, ao final do evento, que a Cúpula teve “resultados surpreendentes” e que sai de Trinidad e Tobago “realizado”.

“Vamos ser francos: todos esperavam que Chávez e Obama fossem se atacar”, disse o presidente. “E tivemos o Chávez dizendo que quer ser amigo dos Estados Unidos”.

“Tivemos divergências, mas o dado concreto é que a guerra não aconteceu”, acrescentou.

Na avaliação do presidente, “o que poderia acontecer de melhor foi o clima político dessa reunião”.

O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que essa “nova fase” só está sendo possível porque a América Latina “também mudou”.

“Não é só por causa do Obama. É por causa das mudanças na América Latina também. A criação da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) é um exemplo de fortalecimento”, disse o chanceler.

Elogios

Durante os três dias de Cúpula, os chefes de Estado apresentaram uma série de queixas sobre a administração americana para a América Latina, mas sempre tomando cuidado em não culpar o presidente Obama.

O resultado foram discursos de “morde e assopra”: ao mesmo tempo em que os chefes de Estado criticavam a postura da diplomacia americana, logo depois tratavam de elogiar Obama.

A descrição mais ouvida durante a Cúpula foi a de que Obama “soube ouvir”. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, disse que o líder americano se mostrou “interessado” nas palavras dos outros chefes de Estado.

“Acho que o presidente Obama tomou um banho de América Latina nessa cúpula”, disse Lula.

O presidente brasileiro minimizou as críticas que Venezuela e Bolívia fizeram ao G20, grupo de países ricos e emergentes que está liderando as discussões sobre a crise.

“Era mais difícil quando todos eram obrigados a dizer a mesma coisa. Era mais complicado quando você não tinha nem a possibilidade de se reunir e dizer o que pensa”, disse o presidente brasileiro.

Lula repetiu ainda a avaliação do presidente Obama, feita na sexta-feira, de que é comum os países mais pobres culparem os mais ricos por seus problemas.

“Eu sei como muitos países da América Latina enxergam o Brasil. Sei como o (presidente do Paraguai Fernando) Lugo, o Evo (Morales, presidente da Bolívia) nos enxergam. O Brasil é grande, então as pessoas estão sempre achando que o Brasil é culpado por alguma coisa que acontece com eles”, disse o presidente.

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