Foi comemorada como uma panacéia a aprovação do projeto de lei que estatui a ficha limpa.
Sem dúvida, uma ótima e moralizadora iniciativa popular, mas não podemos olvidar que os políticos são eleitos e não ungidos. Se eleitos, o foram com nossos votos. Porque votamos nos “fichas sujas”?Também o somos?
Qual a diferença entre apropriar-se do dinheiro público, via atos de corrupção,quando já nos cofres governamentais,ou sonegando os impostos, impossibilitando o recebimento pela fazenda pública do tributo que lhe é devido?
Moral e socialmente falando, qual a diferença entre o empreiteiro que superfatura uma obra pública e o cidadão que deixa de recolher o imposto devido utilizando de deduções falsas?Qual o mais imoral e danoso: o funcionário público corrupto ou o cidadão que para não pagar o uso d’água, efetua ligação clandestina?
Nossos governantes são nossos espelhos, como exigir que sejam “fichas limpas”, se somos “fichas sujas”?
Se um político se considera acima da lei, nada mais faz que seguir nosso exemplo.Quem respeita os limites de velocidade nas rodovias?Quem respeita as vagas destinadas aos idosos e deficientes?
Exijamos dos políticos um comportamento exemplar, mas não esqueçamos nossos deslizes.
Mudemos para cobrarmos.
* Othon Fialho Blessmann, advogado em Cuiabá.