União condenada pelo sumiço do processo histórico contra militar que matara pai e filho

A 6ª Turma Especializada do TRF-2 confirmou sentença que condena a União a pagar R$ 30 mil de indenização pelo desaparecimento do processo criminal que apurou a morte de Euclides da Cunha Filho. O filho do autor de “Os Sertões” (Euclides da Cunha) morreu baleado, em 1916, por Dilermando de Assis, o mesmo homem que assassinara seu pai sete anos antes.

Os autos históricos estavam sob a guarda do Arquivo Nacional.

A decisão da Turma foi proferida em julgamento de apelação da União contra a sentença da primeira instância da Justiça Federal do Rio de Janeiro, que determinou que o dinheiro seja recolhido ao fundo para reconstituição de bens lesados, criado pela Lei nº 7.347, de 1985.

O caso começou com uma representação feita ao Ministério Público Federal pelo advogado e pesquisador Joel Bicalho Tostes, casado com a neta de Euclides da Cunha.

Tostes, que faleceu em dezembro de 2009, relatou que na década de 1960 consultara no Arquivo Nacional o processo referente à morte de Euclides da Cunha Filho, mas que em 1996, quando fez a representação, o documento já teria sumido. Por conta disso, o MPF ajuizou uma ação civil pública em 2001.

Segundo informações da ação, o processo criminal referente à morte de Euclides da Cunha Filho foi remetido junto com vários lotes de documentos repassados para o Arquivo Nacional pelo Supremo Tribunal Militar – entre os anos de 1926 e 1931 -, que julgara o réu nos dois casos de homicídio.

No julgamento da ação civil pública em primeiro grau, a Justiça Federal levou em conta o valor que a preservação da biografia de Euclides da Cunha tem para a história e para o estudo da literatura. Já no TRF-2, o relator do processo, desembargador federal Guilherme Calmon, rebateu argumento da União, de que não haveria provas de que o processo criminal contra Dilermando de Assis fora entregue para guarda do Arquivo Nacional.

O relator ressaltou que a Constituição obriga o Poder Público a proteger o patrimônio cultural. Além disso, a Lei nº 8.159/1991, impõe ao Estado o dever de dar proteção especial a documentos de arquivos, como instrumento de apoio à administração, à cultura, ao desenvolvimento científico e como elementos de prova e informação.

Os dados históricos

* O escritor Euclides da Cunha foi morto em 1909 pelo tenente Dilermando Cândido de Assis, na própria residência do militar, na Estrada Real de Santa Cruz nº 214 (atualmente Avenida Dom Helder Câmara), no subúrbio carioca de Piedade.

* Euclides da Cunha invadira a propriedade armado para exigir que sua esposa, Ana Emília, voltasse para casa com ele. Ela havia abandonado o marido para viver com Dilermando.

* Defendido pelo advogado Evaristo de Morais, o tenente foi absolvido sob o entendimento de que ocorrera legítima defesa.

* Em 1916, Dilermando sofreu um atentado a bala do aspirante de Marinha Euclides da Cunha Filho, que o atingiu nas costas, com o propósito de vingar o pai. O militar reagiu e matou o jovem. Dilermando foi julgado pela segunda morte e absolvido com o fundamento de legítima defesa. (Proc. nº 2001.51.01.007679-9 – com informações do TRF-2).

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