Você chega em uma empresa familiar e pergunta: por que fulano está na função que está, é por que tem experiência? Estudou ou se preparou para isso? Trabalha com isso há muito tempo ou conhece bem a empresa? “Não. Ele está nesta função porque é filho do dono”. Somente dezoito em cem fortunas brasileiras foram herdadas. A maioria das empresas familiares não passa da 2ª geração. De cada dez, sete morrem no pai, o que é o mesmo que dizer que não chegam no neto. Passam do avô para o pai e acabam ali. Já ouviu aquela, “avô rico, filho nobre e neto pobre?” Os parentes, principalmente os filhos no Brasil não são preparados para as empresas. Não é exigido deles uma preparação inclusive para concorrer aos cargos. Já nascem com o lugar garantido. São herdeiros.
Essa é a situação das nossas empresas familiares. Quer dizer, o mercado está cheio de herdeiros despreparados se relacionando com fornecedores, contadores, consultores, bancos, e principalmente clientes e funcionários. Tem empresa onde o filho ou filha do dono, completamente despreparado, fica perseguindo o funcionário só porque esse é competente. Acha que ele lhe faz sombra. Não tem capacidade nem para valorizar esse funcionário e fazer uso de suas qualidades para o bem da empresa. Prefere ficar diminuindo, humilhando e desmerecendo seus méritos para as pessoas, o que contamina inclusive o ambiente da empresa – sem contar as brigas na família! É a disputa pelo poder, “vaidosismo”, inveja. Quer ser reconhecido pelo que não é e não sabe, “quem tem que ser o bom aqui dentro sou eu. A empresa é do meu pai!” Pai que permiti, “não interessa, é meu filho”. Fala isso para o mercado! Fala isso para a concorrência, vamos ver se eles vão diminuir a sede de te jogar para fora!
Pessoa errada no lugar errado e na hora errada. Em empresa familiar quem ocupa um cargo, principalmente o de gerência, normalmente, não é uma pessoa que o conquistou por competência vencendo inclusive outros candidatos. Quem ocupa o cargo não é quem está mais preparado para o mercado. Ocupa o cargo o filho, a filha, o primo, sobrinho, a mulher ou o marido. O proprietário pensa: “tenho que ajudar meu filho”; “se eu não o empregar ele não será nada na vida”, ou ainda “a empresa vai ser dele mesmo!” – esse último é o pior deles.
Tem filhos que até nem queriam, mas foram induzidos de alguma forma pelos pais e até fazem isso por obrigação, gratidão ou sei lá o que. Em uma palestra uma pessoa me perguntou sobre o que eu achava dela continuar a empresa do avô que sempre sonhou com isso? Eu disse a ele que a pergunta dele já estava respondida, pois de quem é o sonho? É você quem vai sonhar o sonho do seu avô?
Têm pai, avô, que acham que tem que ditar o que o filho vai fazer no futuro. “está vendo esse aí oh”, um empresário me apontando para o filho de cinco anos, “ele é quem vai assumir isso tudo aqui”. É mesmo? Só tem um problema, eu disse. “Qual?” E se ele quiser ser médico? É isso mesmo. O cara está estruturando tudo, fazendo a empresa crescer para passar para o filho? O sonho dele é ver o filho administrando e aumentando uma coisa que ele criou? Coitadinho, e se o filho não quiser? Quer o bem do filho? De repente o bem dele é fora da empresa!
Conheço empresas e você também conhece onde a única pessoa que não devia estar na sua administração é a que está. A única pessoa que não podia estar no cargo que ocupa, está lá, brincando de dono, gerente, lapidando o patrimônio, prejudicando todo mundo, o mercado, os clientes, a família. Acabando inclusive com a imagem da empresa, mas não sai e mente para si mesmo achando mil motivos para ficar ali. Ninguém entende porque aquela pessoa está ali. Somente ela, ou às vezes, nem ela.
E quando é o inverso? E quando, ao contrário do que foi dito até agora, o filho que é competente, preparado não consegue trabalhar na empresa da família porque o pai ou o avô não deixa? Como tudo tem os dois lados, tem muito filho preparado por ai também. Conhece algum? Eu conheço e vários. Tem pai que quando chega à hora dele passar para os filhos que tem competência, ele não o faz. Como todo mundo, um dia chegou a sua hora de parar, descansar. Não tem mais a energia que o mercado inclusive exige para se tocar uma empresa, e que os filhos que estão mais do que preparados, têm de sobra. Não. Ao invés disso, ele fica no lugar querendo provar que não é hora de sair ao mesmo tempo em que compete com eles no mercado de trabalho. Pode parecer incrível dizer isso, mas é a pura verdade. Os filhos, além de enfrentar uma concorrência no mercado, ainda tem que concorrer com o próprio pai – aposentado. É aquela coisa o jovem não entra porque o aposentado não sai. E para piorar, esse aposentado é o pai.
Olha que triste situação, e para muita gente. Uma pessoa que já passou da sua fase produtiva, se produziu, ótimo. Se não produziu, vai produzir agora? Se produziu, produziu, se não produziu, vai morrer tentando. Se não produziu, vai impedir outros de fazê-lo? Os filhos, em sua fase produtiva, são impedidos pelo pai que ao invés de incentivá-los e ficar satisfeito com os resultados, quer ficar provando as coisas para o mundo e para si mesmo, inclusive de que não precisa dos filhos. E quem perde com isso tudo? Nas duas situações, seja a de ser empurrado para dentro ou para fora da empresa, perde todo mundo. Perde o pai que vai ficar querendo provar uma coisa e só vai conseguir o contrário. Perde a empresa que não se profissionaliza com gente competente ficando exposta e muito vulnerável à concorrência. Perde a família porque abala sua estrutura inclusive de relacionamento e que com certeza vai sofrer frustrações, desilusões e perder boas oportunidades de negócios, além também de ver seu patrimônio sumir aos poucos – quando não é de uma vez! Perde o parente porque vai ter péssimos resultados. Em alguns casos, vai ser cobrado, em outros, vai estar no lugar de outra pessoa, ou ainda, ficar esperando para assumir a empresa e quando isso acontece geralmente é tarde.
Agora, tem um que ganha, quer saber quem? Cada um, cada família com seus problemas e para todos uma verdade: pode ser filho, sobrinho, neto, nora, esposa, cunhado ou qualquer coisa, até o dono, não interessa, se não for competente para a função, não entre e não interfira nos negócios da empresa. Ela não agüenta. Mas a concorrência… vai adorar isso tudo. Está vendo… respondi quem ganha! Tchau.
Artigo colhido do site:
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