O melhor curso de Medicina do Brasil, mantido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), está muito longe de fazer jus à fama. Estudantes estão insatisfeitos com as deficiências no ensino e há mais de duas semanas deixaram de freqüentar as aulas. São 200 alunos, que aderiram ao protesto e entraram em greve por tempo indeterminado. Eles elaboraram um “Dossiê” em que mostram as falhas que colocam em risco não apenas o título alcançado, mas também a própria formação acadêmica. Para se ter uma idéia do quadro, o documento fala em temor quanto ao descumprimento do Plano Político Pedagógico de Medicina – uma espécie de “alma” do curso.
Em 2008, a graduação da UFMT foi eleita pelo Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), como o melhor curso de medicina do Brasil. O feito se transformou em motivo de orgulho de dirigentes da instituição de ensino, de um lado. De outro, motivo de críticas dos demais cursos, que se queixavam da falta de atenção adequada.
Historicamente a universidade sempre teve reitores médicos. Mas, na falência do ensino público e gratuito com qualidade, nem isso parece estar mais adiantando alguma coisa.
Os estudantes reclamam, por exemplo, do novo método de ensino implantado em 2009, através do Projeto Político Pedagógico para o curso de medicina (PPPC) e que não está sendo cumprido pelo departamento do curso. Segundo acadêmicos, o novo método era para funcionar mediante melhorias como ampliação do espaço físico, laboratórios e aumento do corpo docente. Alguns módulos exigem aulas práticas, mas isso não aconteceu. “Não ocorreram aulas práticas no quarto semestre, o que nos deixa angustiados e nos traz insegurança quanto à qualidade da nossa formação”- afirmam os estudantes.
A paralisação começou com a 1º turma do novo método e agora atinge as demais turmas. De acordo com os alunos, alguns módulos previstos no PPPC não coincidem, em sua maioria, com a ementa exposta no Plano de Ensino (PE). “A comparação entre o PPPC e o PE referente ao módulo XI – Saúde da Criança II, inicialmente já se revela inadequado, uma vez que a distribuição da carga horária estabelecida no PPPC (15 horas teóricas e 30 horas práticas) não é contemplada no Plano de Ensino, pois nesse não está especificada tal distribuição”.
A falta de aulas práticas, ausência de monitores e falta de disponibilidade por parte dos docentes acarreta uma falha no aprendizado que se agravou no decorrer dos semestres. Por isso, os acadêmicos redigiram um manifesto no qual detalham todos os problemas. O documento foi entregue para professores, chefes de departamentos e estudantes dos demais semestres de Medicina.
De acordo com o documento, no que se refere aos procedimentos de ensino as observações cabíveis são no âmbito das monitorias, atividades no laboratório de atividades clínicas e laboratório morfofuncional. Nesse contexto, não houve a realização do proposto no PE por falta tanto de monitores e de recursos físicos, como os laboratórios. No dossiê, os acadêmicos também cobram a resolução sobre a abertura e aprovação imediata da licitação do novo hospital universitário.
Outra queixa dos estudantes é que em 2009, o número de vagas do curso duplicou, passou de 40 para 80. Segundo acadêmicos, o número de vagas dobrou, mas não houve o aumento do número de salas e professores. “Se o curso dispõe a duplicar o número de vagas, deve ser feitas as adequações. Mas a maioria não ocorreu de modo satisfatório”- explica um estudante do 4º semestre.
Caso as reivindicações e melhorias no curso não sejam atendidas, os estudantes pretendem entrar com uma ação no Ministério Público. Por enquanto, aguardam um diálogo da reitoria com os diretores da Faculdade de Medicina.