Satisfação e alívio. São essas as sensações relatadas agora pela estudante obesa, que depois de passar por constrangimentos dentro de um ônibus do transporte coletivo urbano de Campo Grande, ganhou liberação para embarcar pela porta traseira, evitando passar na catraca.
A anotação “autorizado o embarque pela porta traseira” consta no verso do cartão de passe do estudante, que pede para ter o nome preservado. A partir desse caso, a oficialização do atendimento especial será estendida também a gestantes e pessoas obesas, e o anúncio do benefício deve ser feito esta semana.
A solução foi apresentada depois que C. denunciou o constrangimento de ser obrigada a passar por uma catraca, mesmo alertando o motorista para o fato de que não “caberia” no equipamento. O incidente, no dia 25 de maio, deixou marcas no corpo (um hematoma na barriga) e afetou bastante o estado psicológico da estudante.
Depois do ocorrido, ela apresentou reclamação à Assetur (Associação das Empresas de Transporte Coletivo Urbano), mas, por aproximadamente duas semanas, continuou tendo eventuais embates com os motoristas por causa da catraca. “Teve um dia que o motorista quis que eu explicasse porque não queria passar na catraca. Eu já estava cansada daquilo, porque a pessoa se sente humilhada. Então resolvi que ia desistir de estudar”, conta C.
De acordo com C., nesse mesmo dia (uma sexta-feira, 10 de junho), ela resolveu telefonar para o diretor da Assetur, João Rezende, com quem já havia conversado anteriormente. Era uma espécie de desabafo: “Eu liguei pra ele pra dizer que, por causa das dificuldades nos ônibus, eu tinha decidido abandonar a faculdade. Ele disse que não devia fazer isso e foi até a minha casa”, relata C.
A solução de emergência foi inusitada. Durante uma semana, carro com motorista por conta da Assetur foi o meio de transporte para C. se deslocar entre a casa dela, no Jardim Imá, e o campus da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), onde estuda. “Me levaram e me trouxeram durante uma semana, até o cartão ficar pronto. O senhor João foi muito atencioso comigo, e tenho que agradecer por isso”, diz a estudante.
Hematoma na barriga de C., provocada pela catraca do ônibus em maio. (Foto: Arquivo)
Aos 28 anos, pesando 127 quilos, C. cursa Letras na UFMS. Ela conta que sempre foi “gordinha”, mas depois que perdeu o pai, há pouco mais de dois anos, começou a engordar cada vez mais, e chegou aos 167 quilos, parou de estudar e não saía de casa. “Eu tinha vergonha e medo de passar esse tipo de situação, de constrangimento”, relata. Há cerca de um ano, C. iniciou tratamento médico para emagrecer e, aos poucos, foi voltando à vida normal. Perdeu 40 quilos e voltou a estudar.
Cartão – O caso de C. serviu como uma espécie de alerta e acabou provocando mudanças na política de atendimento especial das empresas de ônibus. O diretor da Assetur, João Rezende, confirmou que será anunciado esta semana o novo benefício, que é o direito à anotação no cartão de passe da autorização de embarque pela porta traseira, mesmo para passageiros pagantes.
Gestantes e pessoas obesas poderão fazer a solicitação à Assetur e, mesmo pagando passagem e girando a catraca, poderão embarcar pela porta traseira dos ônibus. “A ideia é facilitar para todo mundo. As gestantes já têm esse direito assegurado, mas o ideal é que, tanto a gestante quanto a pessoa obesa, que se encontre em condição semelhante à da estudante, peça o cartão”, explica Rezende.
O diretor da Assetur garantiu ainda que os motoristas estão recebendo reforço nas orientações para utilizar o “bom senso e a cordialidade no trato com os passageiros”. Rezende frisou também que o cartão com a autorização de embarque especial estará disponível para quem precisar, mas que sua utilização não será obrigatória para as gestante o obesos. “Quem quiser passar pela catraca, poderá fazer isso”, avisa.