Em reportagem do Jornal do Brasil do dia 12 de março de 1993, o jornalista Teodomiro Braga antecipou, com exclusividade, o teor das acusações feitas por Rosane Collor de que o ex-presidente fazia rituais de magia negra na Casa da Dinda, mansão onde residiam em Brasília. No domingo (15), Rosane confirmou, no programa Fantástico da TV Globo, as informações noticiadas pelo JB há 19 anos.
Então repórter do JB, Teodomiro – hoje na TV Bandeirantes, em Belo Horizonte – criou uma relação social com o irmão do então presidente Fernando Collor, Pedro. Assim, durante vários dias conversou com o empresário, em Miami, sobre a biografia Passando a limpo – A trajetória de um farsante, livro que ainda por ser lançado. Pedro vivia em Miami na época em uma espécie de refúgio do irmão após ter dado entrevista ao repórter Luís Costa Pinto, da revista Veja, que detonou todo o processo de impeachment do ex-presidente. O resultado dos encontros foi uma série de reportagens, com tamanha repercussão que, pela primeira na história do jornal, todos os exemplares se esgotaram nas bancas.
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Entre as revelações feitas por Pedro Collor havia insinuações sobre as práticas sexuais do irmão e outros vícios, inclusive com uma famosa história do uso de supositório, jamais confirmadas. Tais práticas pouco usuais teriam sido utilizadas pela então primeira-dama, Roseane, como chantagem à tentativa de divórcio do ex-presidente após surgir a versão de um suposto caso dela com um funcionário do governo federal. Ela, na época, chegou a convocar uma entrevista para importantes revelações, logo em seguida suspensa.
Na reportagem, intitulada “Os incríveis escândalos de um ex-presidente”, Pedro Collor – falecido precocemente com um tumor cerebral em dezembro de 1994 – com raiva do irmão, o denunciava como viciado e violento com as mulheres. A desavença com o irmão surgiu por conta do então presidente ajudar seu ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, no lançamento do jornal Tribuna de Alagoas, em detrimento do jornal da família Collor de Mello, Gazeta de Alagoas.
Miami
Teodomiro conta que era correspondente do JB em Washington e foi enviado a Miami pela direção do jornal, para conversar e antecipar informações sobre o livro, que Pedro redigiu com a jornalista Dora Kramer, já depois de todo o processo do impeachment que o levou à renúncia do cargo em dezembro de 1992.
“Achei que era até uma missão impossível, porque antecipar atrapalharia o livro”, disse Teodomiro.
Teodomiro diz que, no primeiro contato, o empresário estava um pouco “arredio” e formal, relutando em revelar o conteúdo de sua biografia.
“Ele me atendeu com educação, mas disse: ‘não, não vou antecipar nada não’. Mas ele era uma pessoa muito sociável e me convidou para sair à noite. Aí, ele começou a falar uma coisa e outra… Fiquei sete ou oito dias em Miami, e todas as noites saía com ele” , relatou. “Ele bebia muito. Aí, fiz o meu papel de jornalista e tentava anotar uma coisa e outra. Saí umas sete ou oito noites com ele. Conheci a Thereza (esposa de Pedro). Nesse relacionamento social, ele me antecipou muitas coisas”.
O jornalista ressaltou que o relacionamento com Pedro Collor foi se aprofundando, e que as informações reveladas pelo empresário lhe possibilitaram fazer uma série de reportagens, que ficaram na capa do JB durante uma semana. Teodomiro narra a dificuldade para registrar as conversas, uma vez que não podia ficar com o caneta e papel à mão para não inibir a expansividade do entrevistado.
“Quando conversava com ele nos restaurantes, íamos beber e eu não podia anotar. Tinha que chegar no hotel e tentar colocar no papel. Quando voltei a Washington, reparei que tinha algumas coisas incompletas. Liguei para ele de novo para confirmar o que ele havia dito”, afirma Teodomiro. “Eu tinha certeza que ele estava falando a verdade, porque fiz várias entrevistas com ele em Miami e falei de novo com ele em Washington. Inclusive, foi até fácil (antecipar as informações)”.
Morte da mãe
Ele lembra que já conhecia Pedro Collor desde 1992 quando fez uma primeira entrevista com o empresário: entre a aprovação do impeachment de seu irmão e a decisão do afastamento pelo Congresso Nacional. Seu conteúdo era “bombástico”, e abalou definitivamente a saúde da mãe dos dois, Leda Collor.
“Entrevistei o Pedro Collor em Miami. Fiz uma entrevista forte. Fiquei dois dias, entrevistei-o e voltei pra Washington”, conta. “Essa matéria acabou pesando na decisão do Congresso. A mãe dele teve um problema de saúde e nunca mais saiu do hospital. Leu a entrevista de manhã, foi pro hospital e morreu. Eu não tenho remorso, porque apenas fiz o meu trabalho”.