Não há máquina no mundo capaz de substituir um advogado

Autor: Leonardo Corrêa (*)

 

A cada dia vemos notícias de que o avanço da Inteligência Artificial exercerá, na área do Direito, a mesma influencia que desencadeou, por exemplo, na indústria automotiva ou na prestação de serviços financeiros. Aliás, diga-se de passagem, na própria atividade exercida em bancos de investimentos, os estrategistas são cruciais, nenhuma máquina suplanta suas análises econômicas, políticas e conjunturais! E, vamos lá, eles dispõe de uma miríade de softwares moderníssimos com modelos econômicos, robôs e tudo o mais que a Inteligência Artificial pode oferecer.

Pois bem. A atuação dos advogados, por essência, não é com máquinas, mas, sim, com seres humanos. Desta feita, a interpretação das mais diversas normas, o conhecimento da jurisprudência e o próprio feeling dos operadores do Direito são fundamentais. Será, então, que, realmente, a advocacia está ameaçada? Respondo, de pronto, que não pois nada supera a intuição, a criatividade e a interação humana.

Palavras, na grande maioria das vezes, possuem sentidos equívocos (ou seja, não são unívocos e absolutos). Nessa toada, vale lembrar que os textos são interpretados no contexto e na entonação e não na fria locução. No processo de aplicação do direito, portanto, há que se ter uma miríade de conhecimentos: (i) a hermenêutica e suas regras; (ii) a economia e seus princípios; (iii) a lógica; (iv) a filosofia; (v) a psicologia social e a persuasão; e, last but not least, (vi) o domínio da língua escrita e falada.

Maquinas podem, por exemplo, levantar uma infinidade de dados para definição de estratégias a serem usadas. Mas, além de precisar de seres humanos para inserir os dados corretamente, a forma — sob a ótica humana — pela qual uma tese é apresentada tem impacto direto em uma vitória ou derrota. O insight que gera esse instrumento crucial à prática da advocacia é o resultado do poder magnífico do cérebro e de nossos sentidos.

Não há máquina no mundo que faça isso. A fagulha da criatividade é fundamentalmente humana. Por mais que se tente, uma máquina não sabe modular um discurso, alterar o tom de voz, nem, tampouco, perceber o efeito que as palavras produzem.

Além desses pontos, há um cuidado que se deve ter na devoção ao uso da tecnologia. Os neurocientistas têm toneladas de estudos demonstrando que o uso excessivo de máquinas e softwares vai, pouco a pouco, atrofiando o cérebro. Por exemplo, o software Waze® é uma benção e uma maldição. Sem ele, precisávamos achar nossos caminhos decifrando mapas e buscando pontos de referência por meio de nossos cérebros e sentidos. Com ele, nos tornamos preguiçosos e perdemos, gradativamente, o senso de direção e a capacidade de localização, basta indicar o endereço e seguir a voz que nos manda à direita ou à esquerda.

A mesmíssima coisa ocorre, também, quando os advogados abandonam os livros, Códigos e demais diplomas legais em papel. Na velocidade atual, o instinto conduz todos às buscas na internet. Todavia, esse processo inibe a reflexão e a criatividade. Quantas soluções estão estampadas nos livros e escondidos na profusão de informações da World Wide Web? Essa reflexão não é, de forma alguma, um manifesto contra a tecnologia, senão uma exortação para que não subestimemos nossos cérebros, intuições e sentidos, em troca de softwares e gadgets.

 

 

 

 

Autor: Leonardo Corrêa  é advogado e LL.M. pela Universidade da Pensilvânia (EUA).

 


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