A amarga derrota

As mortes no trânsito de muitas crianças, jovens e idosos poderiam ter sido evitadas. É tarde para se saber se elas teriam atravessado as ruas e avenidas sem olhar ou se mesmo tendo olhado os condutores dos veículos teriam agido irresponsavelmente. A educação poderia ter evitado tais tragédias. A não ser em casos de fatalidades. Mas, na desatenção, por certo teria faltado a educação para o trânsito no currículo das escolas. E no caso dos adultos e jovens motoristas, motociclistas e ciclistas, por certo também faltou uma educação para o trânsito.

Contra a violência no trânsito, a educação é a única com validade indeterminada. Depois que é instalada na consciência humana, ninguém a desliga, estraga ou corrompe. Mas, há que se acreditar no poder da educação continuada.

O excesso de velocidade aparece nos levantamentos estatísticos como a maior causa dos acidentes de trânsito. Mas a causa subjetiva com mais representação nesses acidentes é a falta de prudência dos motoristas, motociclistas, ciclistas e dos próprios pedestres. E estes, os pedestres não devem ser tratados apenas como vítimas, senão como também muitas vezes responsáveis pelos males que lhes são causados. Então, os pedestres não podem ser apenas bajulados, mas educados para seu próprio bem e da comunidade.

Já que a palavra-chave é sensatez no trânsito, por que não cobrá-la da Prefeitura Municipal, Detran e Ciptran para que também a exemplo dos condutores de veículos e pedestres apressados, deixem de lado a afobação para chegar a lugar nenhum. Ou seja, a correria inconsequente do condutor e pedestre, que podem causar inúmeros prejuízos, deve ser comparada às campanhas anuais e de período curto, que são prejudiciais com relação ao alcance dos objetivos, duvidosamente atingidos, quanto ao seu grau positivo. Porque nessas correrias (campanhas rápidas), com a desatenção dos que deveriam agir a favor deles próprios, a princípio ficam “meio sensibilizados”, mas logo no segundo tempo “não estão nem aí”. E é isso que precisa ser evitado: o prejuízo de vidas, o financeiro e a sensação da frustração…

Não há como acreditar que em Campo Grande seja impossível realizar-se uma campanha pelo trânsito mais tranquilo a partir da proteção ao pedestre, com constante e efetivo alcance.

É preciso que se respeite o pedestre que, ao sinalizar sua vontade de cruzar a rua ou avenida pela faixa, deve ter a colaboração do motorista, parando seu veículo, para dar passagem não a um concorrente, mas para dar passagem à civilidade, à cidadania, ao respeito e amor à vida.

Atrevo-me a ir mais fundo ainda: acredito que todos os familiares que tiveram dilaceradas as vidas de seus componentes apoiariam, de pronto, uma campanha de ano inteiro mais do que uma esporádica e rápida como acontece de ano a ano. Porém, o que se anuncia e ninguém de boa-fé duvida, é que o objetivo do Governo municipal e estadual é educar para diminuir o elevado número de tragédias que acontecem a cada dia. Porém o município não tem como fiscalizar todo recanto da cidade com máquinas e onde não tiver instalado, o recalque ou outro problema humano de deseducado ou “piripaque” psíquico pode provocar males incalculáveis e muitos deles irreparáveis. E pelo seu lado, a fiscalização humana também é insuficiente.

Como vimos no comentário anterior, os jovens são os que mais se expõem ao risco de morte. E estes estão iniciando suas vidas com o primeiro emprego ou em busca dele, entrando na faculdade, começando a definir suas vidas, pondo em prática os primeiros projetos, incluindo a namorada, ou procurando a realização profissional ampla, e têm suas vidas interrompidas, com todo seu universo vivencial. Se o destino dos que partem é imprevisível, cuja resposta depende da fé de cada um, o luto, o sofrimento dos que ficam é perfeitamente sentido e pode até desestruturar famílias.

A perda de um filho acredito que é uma dor quase insuportável e a cada ano muitas famílias perdem filhos e filhas. Com tais mortes, os que ficam devem buscar forças para seguir vivendo e, se possível, tentar ajudar que outros pais não passem por semelhante desgraça.

Como sugestão para uma campanha permanente e valorizada, poder-se-ia promover durante um mês completo (sábados e domingos, inclusive), a distribuição de folhetos, realização de enquetes por profissionais, e todos os meios costumeiramente usados em tais oportunidades.

Importantes são os pedestres, a linguagem de abordagem, a massificação e a constância. E se algum “engraçadinho” aparecer, que lhe seja aplicada à obrigação de assistir a aulas de civilidade no trânsito.

Completando o mês ininterrupto de campanha, que nos meses seguintes, durante o ano, a frequência desse movimento passasse para as primeiras e últimas segundas e sextas-feiras do mês, em ruas e/ou avenidas movimentadas em rodízios que englobem microrregiões. Para, numa terceira etapa, ficar nas primeiras segundas e sextas-feiras.

A Campanha pela segurança do pedestre para Campo Grande e Dourados, que parece viver idêntico drama, tem como resultado o sucesso e êxito em Brasília, cujas entidades públicas e privadas levaram a sério um plano de longuíssimo prazo. E este é o caminho mais racional para estimular e convencer todos de que não há derrota ao se querer acertar. Na verdade, no trânsito, a pior e amarga derrota é de se ter consciência que na projeção de possíveis vítimas com dores, mutilações e/ou mortes, e que ainda estão saudáveis, a qualquer momento podem ser passíveis de sofrimentos, perfeitamente evitáveis.

Ruy Sant´Anna dos Santos*
Advogado e jornalista

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