A corrupção e a educação

“Como cobrar postura ética, honesta e isenta de uma população que não faz reflexões sobre sua parte no processo todo…”

Assistimos a uma enxurrada de denúncias expondo muitos lados obscuros do mundo da corrupção que contamina esse país. “Mensalão”, Correios, Governo de Rondônia, administração da ex-prefeita paulistana Marta Suplicy e alguma outra maracutaia que deve estar surgindo enquanto escrevo esse artigo.

Cria-se a impressão que divulgam um novo escândalo para abafar outro existente e assim sucessivamente. Parece também, que todos os nomes envolvidos sempre resolvem denunciar outros corruptos, puxando para baixo todos os participantes do esquema.

Ato contínuo às denúncias, instalam-se CPIs, ministros se demitem, secretários são afastados, expedem-se mandados de prisão, autorizam-se escutas telefônicas, quebram-se sigilos bancários, pipocam defesas, ameaças e outras ações justiceiras.

Longe do tiroteio de acusações, mas atingida diretamente, está a população: leitores de jornais e revistas, telespectadores de TVs e enfim, os eleitores, que na obrigatoriedade do voto colaboram para a eleição de quem também faz parte de alguma rede de corrupção. Se uma análise mais profunda fosse desenvolvida pela opinião pública nacional, não causaria estranhamento às mazelas promovidas pelos envolvidos nesse quadro, como por exemplo: qual o ambiente que se cria em uma eleição? Aquele voto no candidato em troca de um favor ou de uma promessa em benefício próprio, já caracteriza por si só uma negociação, ou melhor, negociata.

Os pequenos atos delinquentes banalizaram as ações antiéticas como se fosse normal, natural e corriqueiro, o enriquecimento próprio com o capital destinado às ações públicas. Segue-se a isso também, o pouco valor moral que se dá ao voto. O brasileiro tem votado pelas impressões de última hora que são passadas pelos candidatos às vésperas de eleições. Essas impressões “fisgam” os eleitores em forma de churrascos, ofertas de empregos, remunerações para trabalhar no dia da eleição como “fiscal de urnas”, doações de dentaduras, entrega de uniformes de futebol e outros “favores”. Há também que se relacionar às possibilidades dos últimos acontecimentos, frases de efeito durante a campanha e aparências. Não se leva em consideração, nesses casos, o histórico dos políticos. Assim sendo, não se sabe quem FOI ou quem É o sujeito que se apresenta como merecedor do voto. Consequentemente, vota-se no escuro, sem supor o que poderá vir a SER esse tal candidato.

Mas, então como cobrar postura ética, honesta e isenta de uma população que não faz reflexões sobre sua parte no processo todo?

A corrupção sempre existiu no Brasil. É fato histórico e nos acompanha desde o descobrimento. O que de diferente tem ocorrido ultimamente é a divulgação das denúncias e trocas de acusações. Hoje, devido ao desenvolvimento da difusão de notícias, recebemos a informação no momento em que o fato está ocorrendo (depoimentos na CPI ao vivo, por exemplo). Portanto, não há nada de novo no comportamento (i) moral dos homens, nem na ética que rege o funcionamento do estado brasileiro.

Há porém, uma luz, que pode clarear essa escuridão e iluminar o caminho pelo amadurecimento do Brasil. Essa esperança pode ser encontrada na educação, mais especificamente, nas nossas escolas, do ensino básico às instituições de ensino superior. Os alunos, seriam ao final, o meio de transformação, os professores os agentes desse “ensinar a pensar e refletir” e completando, o sistema educacional (a escola com projetos pedagógicos, lugar de encontros…) seria o abrigo divulgador e proporcionador de fatos concretos advindos da fusão entre a teoria e a prática.

Para isso, a escola precisa abrir suas portas para receber e impulsionar o debate acerca de todos os assuntos que interferem na vida da população. Promover a discussão, mas, sempre com o cuidado de não permitir que as reflexões de cada um, sejam influenciadas por doutrinamentos ou atitudes alienantes de seus professores, que seriam então, mediadores da conversa.

E os professores como estão sendo formados? É necessário observar que o círculo se inicia e termina no mesmo ponto, envolvendo alunos e professores no núcleo educacional. O mais importante nisso tudo é a ferramenta que todos os indivíduos com mais de dezesseis anos de idade tem, para começar a transformar essas mudanças: o voto. A escola deveria ensinar isso.

Altemir Luiz Dalpiaz
Acadêmico do 8º semestre do Curso de Educação Física do IESF-UNIGRAN, Campo Grande MS; professor da Escola de Futebol Dalpiaz desde 1994; autor do livro: “porque há crianças que não gostam da escola” (lançamento nesse segundo semestre de 2005)

Fonte: Jornal Correio do Estado

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