A morte de Tim e a inexistência de um Estado de Direito

Cláudia Dornelles*

Novamente a cidade do Rio de Janeiro sofreu as conseqüências de seu desmando e inoperância. Morreu há alguns dias o jornalista da TV Globo, Tim Lopes, de modo aterrorizador. Teria sido mais uma execução do tráfico, não fosse ele figura pública e querida no meio o qual pertencia.

Contudo, isto não ameniza em nada a sensação de pavor que se instala em cada um de nós cada vez que temos notícia de mortes como essa. Declarações a respeito do feito, divulgadas por “personalidades oficiais”, conseguem ser tão espantosas quanto a morte. Tentam explicar o inexplicável e amenizar uma dor que é infinita. Diga-se, não somente por parte dos familiares e amigos mas, por todos aqueles que desejam viver num mundo digno e cheio de esperança.

A discussão se pauta na existência ou não do que se tem chamado de “Estado Paralelo”, quando em verdade a discussão seria sobre a existência ou inexistência de um “Estado de Direito”.

Viver em um país democrático não significa em absoluto dar à população oportunidade de bater as portas do Judiciário. O princípio norteador de “Acesso à Justiça”, não se restringe às portas abertas das repartições públicas. Ele vai além. Muito além. Significa não somente ver os anseios da HUMANIDADE, mas também, ver atuantes os operadores de direito e os governantes, sintonizados num objetivo único:O DIREITO À VIDA.

Obviamente, a discussão acerca da existência de um “Estado Paralelo” é mais cômoda. Discutir sobre a existência do “Estado de Direito” pode causar mazelas em nosso processo histórico, quando por vezes, com balas de fuzil mataram muitos “Tim” que denunciavam, não o tráfico, mas a soberba de governantes desgovernados, desde então.

Dessa vez, matam da mesma maneira e com a mesma arrogância. A diferença é que antes a morte era por via oficial e agora o tráfico de drogas oficializa a morte. É espantoso e revoltante achar que o problema do tráfico ilícito de entorpecentes se restringe às comunidades carentes. Será que ninguém parou pra pensar que se há algo (e há) de muito errado, o “morro” é somente o “fim da linha”?

Se procurarmos em escritórios bem decorados e gabinetes elitizados do cenário político-social, haverá mais resposta. Talvez, mais apavorante que o número de corpos encontrados nos cemitérios clandestinos de qualquer favela brasileira. Deve-se simplificar o que não é simples. Não morreu um jornalista. Não morreu um ser humano. Morremos todos nós e há décadas….

Cláudia Dornelles é advogada no Rio de Janeiro

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