A oposição e a corrida pela ignorância

Votada a CPMF, todos tinham por certo que mais um capítulo da interminável novela Oposição X Governo havia se encerrado. Ledo engano, meus caros leitores, pois acreditem, mesmo após o velório e enterro consumados, cerimônia que se estendeu até as madrugadas no plenário do Senado Federal, na sexta-feira última a oposição admitiu a possibilidade de ressuscitar o imposto em 2008: “O senador Heráclito Fortes (DEM-PI) disse que apesar da postura contrária do DEM à CPMF, o partido aceita negociar o seu retorno…”

Parece piada? Não tenha dúvida, pois com certeza é. Os interesses nacionais, que justificam a existência da classe política em nosso País, estão à margem dos interesses da oposição, que, a priori, tem como meta apenas atrapalhar ao máximo o Governo federal. Não se trata aqui de ser contra ou a favor do presidente Lula – aliás, tema esse demasiadamente desgastado e, mais ainda, infrutífero – mas sim, do abandono daquelas premissas em nome dessa rixa infantil e mesquinha, fruto de um inconformismo e amargura de partidos que nunca na história desse País tiveram status de oposição, e pra piorar, a estreita foi justamente contra um governante que representa aqueles que jamais chegaram ao poder, o proletariado.

Quem acompanhou o embate épico travado entre senadores prós e contras a CPMF no dia da votação, presenciou um raro momento do exercício da Democracia na sua forma mais plena e cristalina. Discursos veementes em defesa da manutenção do imposto até 2011, intercalados por outros fervorosamente condenatórios, aludindo à extinção imediata do mesmo. Com os ânimos à flor da pele, cada um daqueles parlamentares defendeu seu ponto de vista com a paixão de um cruzado em campo de batalha, e mais ainda quando o Senador Pedro Simon sugeriu o adiamento da votação, que já se arrastava madrugada adentro.

Após muitos esforços de ambos os lados, finalmente consumaram a votação e dignamente a oposição sagrou-se vitoriosa, matando definitivamente a CPMF. Tudo parecia perfeito e a pátria, mãe gentil, dormiria dignificada, com a certeza de que os institutos democráticos haviam sido devidamente protocolados naquela noite, tudo como bem manda a Constituição Federal.

A corrida pela ignorância, aqui enunciada, começa com o próprio presidente, que nunca estudou (e nem vai estudar) com a nítida intenção de entrar para os anais como o primeiro cidadão não letrado que chegou ao cargo mais alto do poder, fato que só ele vê como sendo digno de mérito. Ao longo de sua trajetória política, poderia ter estudado, no mínimo, para poder pronunciar corretamente as palavras dos discursos que profere. Ignorante ainda, porque não soube conduzir as negociações que antecederam a referida votação, e, como se não bastasse, teve o disparate de chamar os inquisitores da CPMF de sonegadores desonestos, atitude que jamais se espera de um chefe de Estado, articulador em todas as horas.

No entanto, a oposição elitizada, democrata(tica) e tão bem letrada, parece estar disputando com o Governo, pra saber qual é o lado mais ignorante (governo ou oposição?). Ao anunciarem a possível ressurreição da CPMF, cobriram com terra todo o esforço despendido naquela votação histórica. Cada discurso, cada pronunciamento, cada pedido Pela Ordem solicitado ao presidente da casa (feito às dezenas), a elevação dos ideais democráticos e a comemoração quando da vitória após a apuração do resultado; tudo uma farsa, uma mentira, encenação motivada apenas pela derrota do Governo.

Argumentos insípidos, vazios de convicções político-ideológicas, jogados ao vento apenas para acirrar as rixas partidárias, picuinhas alheias ao interesse de pessoas como você, caro leitor. Se boa ou ruim a prorrogação do imposto, era indiferente, as causas sociais/nacionais nem foram levadas em consideração pela oposição burra no momento da votação, apenas a derrota de Lula importava. E no ano que vêm, possivelmente teremos o imposto de volta em nossos bolsos, talvez com um nome ou alíquota diferente, mas inevitavelmente presente.

A corrida pela ignorância está aberta, independentemente de quem ganhe o perdedor já é certo: todos nós.

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Ricardo Henrique
Advogado e Empresário em Campo Grande-MS

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